Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Sabores de Pirenópolis

Começa hoje e vai até domingo a sexta edição do festival gastronômico da cidade goiana. Vinte e quatro casas participam do evento, que inclui palestras e aulas-show com chefs renomados, como Alex Atala, dono de um dos 20 melhores restaurantes do mundo


Eles podem passar despercebidos até pelos maiores apreciadores de gastronomia. Alguns chegam até a torcer o nariz para o pequi, a cagaita, a guariroba, o jatobá e o baru. Porém é hora de expandir os horizontes. Afinal, os ingredientes do cerrado dominam a cozinha dos principais chefs do país e ainda devem reinar nos cardápios de grandes restaurantes. Quem quer degustar os verdadeiros sabores da região tem uma boa oportunidade com o 6; Festival Gastronômico de Pirenópolis. De hoje a domingo, a cidade histórica vai oferecer pratos locais e aulas onde respeitados chefs mostram como transformar os produtos locais em pratos sofisticados de dar água na boca.

Depois de seis anos de evento, a gastronomia do cerrado começa a tomar forma. Surgem pratos como o brigadeiro de pequi, o filé mignon em calda de cajuzinho, o risoto de aspargos e palmito de guariroba, a picanha suína ao molho de buriti e o pão de mandioca servido com geleia de cagaita e queijo de Corumbá de Goiás. ;Tudo será produzido nos restaurantes locais por chefs da região ou convidados. Além disso, vamos ter palestras voltadas para quem se interessa pela arte e pelos negócios de culinária;, conta Sérgio Rady, secretário de Turismo de Pirenópolis.

Uma das presenças ilustres do festival é Alex Atala, chef do D.O.M., que ocupa o 18; lugar da lista dos 50 melhores restaurantes do mundo da conceituada revista inglesa Restaurant. Além de uma palestra e uma aula-show abertas ao público, ele preparará um almoço reservado apenas para convidados. O cozinheiro premiado é conhecido por valorizar ingredientes brasileiros, especialmente os da região amazônica. Ele vai apresentar na aula-show dois pratos: confit de pato com vinho madeira, purê de cará e pimenta-verde, e um prato com pupunha fresca, vieiras e molho de coral.

[FOTO2]O público poderá provar menus especiais em 24 restaurantes da cidade. O festival é uma ótima oportunidade para os chefs usarem a criatividade com ingredientes típicos. Para o chef e consultor gastronômico Moisés Nepomuceno, é a oportunidade de trabalhar com seus produtos favoritos. ;Eu sempre procuro nos meus pratos a valorização dos frutos do cerrado. Montei um cardápio para o festival com abordagem dos aromas e texturas e fiz muitas experiências em casa. A minha ideia gastronômica é sempre nesse sentido, fruto da inquietação e da mistura da contemporaniedade da cozinha com a culinária regional;, comenta.

Amanhã e no sábado, o chef apresenta um menu especial no restaurante da Pousada O Casarão. A aposta no cardápio do cozinheiro é o jatobá. ;Até pouco tempo, ele era visto como um alimento popular sem valor gastronômico. A farinha é usada para fortalecer a merenda das crianças em muitas cidades de Goiás. É muito nutritivo. Com a abertura da culinária para novas misturas, foi possível harmonizá-lo na cozinha contemporânea;, afirma Nepomuceno. Entre as criações com o ingrediente, estão o pão e a torta de jatobá com banana-da-terra caramelada no mel de engenho.

Nascido na capital federal, o cozinheiro prefere ser chamado de ;cerradense;, no lugar de brasiliense. Apesar de experimentar receitas com diversos ingredientes, sua grande paixão é o pequi. ;Ele é o rei do cerrado. Gosto muito de trabalhar com a fruta, mas existe uma certa resistência das pessoas, porque ela tem um gosto muito forte. Aliás, todos os frutos do cerrado têm aroma forte e sabor marcante. Mas podemos suavizar isso, sem retirar completamente a essência para quem degustar não deixar de registrar aquele gosto na sua memória degustativa;, explica.

Surpresa
Outro chef que resolveu investir na qualidade na fruta amarela é o dinamarquês radicado em Brasília Simon Lau Cederholm. Em jantar no Empório do Cerrado de Pirenópolis, ele vai servir esferas de pequi com arroz negro servidos com uma pequena porção de farofa, para criar um contraste. O prato sofisticado é uma homenagem ao tradicional arroz com pequi e já foi servido no menu degustação do seu restaurante, Aquavit, no Setor de Mansões do Lago Norte. ;Todo mundo me falou: ;Você não vai servir isso, as pessoas vão odiar;. Mas queria fazer uma surpresa para meus clientes. As pessoas tinham que descobrir o que estavam comendo. Adoravam o prato e se surpreendiam quando ficavam sabendo que era pequi;, conta o cozinheiro.

Para o chef, a grande arte da gastronomia é transformar os alimentos. ;Se você serve um ingrediente simples de forma diferente, abre horizontes. Quando eu abri meu restaurante, era bem mais tradicional, dinamarquês. Depois, comecei a abrir os olhos para a culinária brasileira e os ingredientes maravilhosos que temos aqui;, conta Cederholm. Ontem, antes de viajar para Pirenópolis, ele passou nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) em busca da castanha baru para prepará-la de sobremesa com sorvete de baunilha do cerrado. Lamentou não ter encontrado. ;Mas daqui a cinco ou 10 anos, vamos achar baru em qualquer esquina. A culinária do cerrado já vai estar estabelecida;, sentencia.

O público esperado para os quatro dias de festival é de 15 mil pessoas. No domingo, a praça central será palco do Comida de Folia. Os pratos servidos na Folia de Reis, como o arroz de forno, a galinhada e a carne de panela, serão vendidos por R$ 1. Na cidade, 24 restaurantes prepararam cardápios especiais. A chef Márcia Pinchemel, do Lê Bistrô, uma das grande idealizadoras do festival, comemora o evento com um carré de javali com molho de vinho, jabuticaba e baru. ;É preciso valorizar os nossos frutos e produtores locais também. Isso fortalece o município e garante o estabelecimento da gastronomia do cerrado.

Veja a lista de restaurantes participantes do festival com os telefones para reserva


Serviço
; 6; Festival Gastronômico de Pirenópolis e 1; Festim (Festa do Patrimônio Imaterial de Pirenópolis)
; De 24 a 27 de junho
; Informações: www.gastronomicopirenopolis.com.br



Programação do festival
Hoje
10h: 1; colóquio Um negócio chamado gastronomia
Onde: Cinema da cidade
Participantes: Fernando Barroso ; Alimenta Bistrô (Fortaleza)
Evandro Ayer ; Fazenda Vaga Fogo (Pirenópolis)
José Pedro ; Restaurante Porto Cave (Goiânia)
Fernando Hanna ; Hanna;s Buffet (Goiânia)

14h: 2; colóquio Um negócio chamado gastronomia
Onde: Cinema da cidade
Participantes: Simon Cederholm ; Restaurante Aquavit (Brasília)
Telma Lopes ; Fazenda Babilônia (Pirenópolis)
Newton Emerson Pereira ; Restaurante Cateretê (Goiânia)
André Barros ; Restaurante Malauí (Goiânia)

20h: Abertura oficial do evento
Onde: Teatro Pireneus

21h: Abertura da Feira da Arte e Gula

Sexta-feira
11h: Transmissão do jogo Brasil X Portugal
Onde: Largo do Rosário

17h: Colóquio gastronômico
Onde: Cinema da cidade
Participante: Alex Atala

18h às 24h: Shows na Ponte de Pedra e na Rua do Rosário

20h30: Jantares nos restaurantes da cidade

Sábado
10 às 17h: Aulas-show
10h - Alex Atala
14h - Telma Lopes
15h - Fernando Barroso
16h - Wanda Jayme
17h - Humberto Marra e Emiliana Azambuja

17h: Cortejo dos cavaleiros

18h às 24h: Shows na Ponte de Pedra e na Rua do Rosário

20h30: Jantares nos restaurantes da cidade

Domingo 27/06
10h às 14h: Aulas-show
10h - Simon Cederholm
12h - André Barros (Sabores Lusitanos) e Moises Nepomuceno (Sabores da Terra)

14h - Fernando Hanna e Neila Cruz
11h: Almoço na Praça ; Comida de Folia por R$1
Onde: Praça Central