postado em 04/07/2010 12:06
Transformar clássicos "sisudos" em uma linguagem acessível, engraçada. Esse é o objetivo de 90 livros clássicos para apressadinhos, do quadrinista sueco Henrik Lange, adaptado e traduzido no Brasil pelo cartunista Ota. A obra, lançada pelo selo Galera Record, reúne em quase 200 páginas sínteses de obras como Dom Quichote de La Mancha, O velho e o mar, As viagens de Gulliver, O lobo da estepe, entre tantos outros títulos. Até a Bíblia consta do livro. Em parceria com o escritor norte-americano Thomas Wengelewski - que participou com apenas alguns textos, Lange revolucionou o mundo da literatura e dos quadrinhos. Numa leitura fácil, hilária, instigante e por vezes crítica.
Olhando de outra maneira, pode parecer que 90 livros clássicos para apressadinhos é algo sem nenhuma utilidade. Coisa de quem ignora as regras da literatura, palhaçada infanto-juvenil. Ledo engano. A obra, além de servir como ponte para um aprofundamento em cada livro retratado, faz refletir. Como neste trecho de Moby Dick, de Herman Melville (1819-1891): "Em busca de aventura, o jovem Ismael entra pra tripulação de uma baleeira cujo capitão se chama Ahab. Eles atravessam os mares procurando não baleias comuns, mas a baleia com a qual Ahab é obcecado: Moby Dick. Como ocorre com todas as obsessões doentias, a coisa acaba em tragédia: todo mundo morre, exceto Ismael, que flutua num caixão. Ó ironia".
Riso e reflexão
Mas nem só de clássicos vive o livro de Lange. O polêmico Dan Brown está presente na lista com O Código da Vinci. Lolita, de Vladimir Nabokov (1899-1977) rende boas risadas - e certa reflexão: "Humbert, um cara com certos 'problemas', se apaixona por uma menina de 12 anos, Lolita. Aí ele casa-se com a mãe dela, Charlotte, pra ficar perto da guria. Humbert leva Lolita numa viagem pelo país e acabam consumando o relacionamento, Não falei que o cara era problemático? Lolita se manda. Anos depois, Humbert reencontra Lolita, grávida, paga pra saber quem aemprenhou e mata o cara. Talvez a terapia tivesse ajudado".
Apesar de escritores europeus e norte-americanos dominarem 90 livros clássicos para apressadinhos, a América do Sul marca presença com Cem anos de solidão, do colombiano Gabriel Garcia Márquez. Surpresa: a literatura brasileira não deixa por menos e O alquimista, de Paulo Coelho, também está lá: "Santiago, um pastor espanhol, sonha que encontra um tesouro nas pirâmides. Ele encontra um alquimista na África e aprende truques de como se transformar em vento. Ah! O simbolismo! Ele descobre, depois de levar muita porrada perto das pirâmides, que na verdade o tesouro tava na casa dele. Aí acaba rico no fim. Bom pra ele".
Como informar o leitor - além de divertir - também está na lista de prioridades de Henrik Lange, cada resumo vem com data de lançamento, nome do autor e ano de nascimento de cada um. Lange troca o sumário convencional por uma lista contendo todas as obras com um espaço para marcar um X e a frase: "Livros que eu li". No mínimo, instigante.
Homem dos 90
Nascido na fria Gothenburg, na Suécia, em 1972, Henrik Lange lançou os primeiros quadrinhos no início da década de 1990, colocando um pouco da sua vida nos livros. Seu trabalho de maior destaque lá fora é Em nalt helt I rosa (Uma noite totalmente pink), lançado em 2000. O segundo trabalho de Lange que chegará às lojas brasileiras é 90 filmes clássicos para apressadinhos, que também leva o selo Galera Record.
90 livros clássicos para apressadinhos
Do sueco Henrik Lange, 192 páginas. Tradução e adaptação, Ota. Lançamento: Galera Record. Preço: R$ 26,90