Diversão e Arte

No sábado, Milionário e José Rico levaram quase 3 mil pessoas para o show que comemora os 40 anos de carreira da dupla

postado em 05/07/2010 08:18
Não é à toa que Milionário e José Rico são conhecidos como "as gargantas de ouro do Brasil". Mas a comparação vai além do poder vocal da dupla - ainda em forma, depois de quatro décadas de trajetória artística. Quem esteve no show da dupla, sábado à noite, no salão social da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), pôde também conferir o brilho que emana da presença do mineiro Romeu Januário de Matos, 70 anos, o Milionário, e do pernambucano José Rico Alves dos Santos, 64. Carismáticos, os dois já estavam com a plateia na mão antes mesmo de subirem ao palco (às 00h33 de ontem). O público presente, estimado pela produção em aproximadamente 3 mil pessoas, lotou o local horas antes de soar o primeiro acorde. A dupla Milionário e José Rico hipnotizou o público com o seu carisma, apresentando sucessos de vários momentos da carreiraPor ali, era possível ver desde jovens de 20 e poucos anos até idosos. Muitos trajados a caráter, com chapéus e botas, como manda o figurino. Caso do estudante de agronomia Andrey Alves, 23 anos. "Aprendi a gostar de música sertaneja com os amigos, na adolescência. Gosto mais das duplas de raiz, como Leo Canhoto e Robertinho - de quem já fui ao show - e outras do gênero", detalha. Para ele, os veteranos se diferenciam dos novatos pela proposta musical, mais preocupada com o conteúdo das letras. "As composições dessas duplas mais antigas te fazem parar para escutar a música. Eles pensam nas letras, não se preocupam só em fazer o povo dançar", observa o universitário. Há quarenta anos na estrada, Milionário e José Rico conquistaram fãs que eram crianças quanto eles começaram a cantar juntos. O gerente administrativo financeiro Enodes Alves, 48 anos, guarda na memória o dia em que viu os dois se apresentando em cima de um caminhão em sua cidade natal, a mineira Tapaciguara. "As minhas meninas ouvem as músicas deles até hoje lá em casa", conta Enodes, sentado em uma das mesas mais próximas do palco e acompanhado da esposa, do genro e de uma filha. "O José Rico escreve com o coração. As letras são%u2026 me diz algum sinônimo para bonita?", diz. A secretária Glaucia Rodrigues Lima Chagas, 43 anos, também reservou uma mesa de frente para o palco. Acompanhada da mãe e de outros familiares, ela contou que a apresentação teria um motivo ainda mais emocionante para ela. "Gosto muito deles, mas estou aqui por causa do meu falecido pai, que era fã da dupla. Tenho certeza que vou chorar muito durante o show. Ouvi-los cantando é como ouvir o meu pai cantando em casa". Encontro de gerações Para Pedro Paulo e Matheus, a dupla brasiliense escalada para se apresentar depois de Milionário e José Rico, dividir o palco com os ídolos é motivo de orgulho. "Como eles são precursores, influenciaram muitas duplas que surgiram depois. Nós, inclusive, já tocamos muitas músicas deles nos nossos shows", conta Pedro Paulo. Para Matheus, a identidade musical da dupla é inconfundível. "O estilo deles é o estilo Milionário e José Rico. Eles só se parecem com eles mesmos", elogia. "Eles são uma das duplas que mais trabalham, com uma média de 16 shows por mês. E estão aí há 40 anos. Queremos conseguir o mesmo pique deles", continua Matheus. No camarim, antes do show, Milionário e José Rico foram alvo da tietagem dos fãs. Tiraram fotos, deram autógrafos e gravaram entrevista para um programa de tevê. José Rico já não ostenta mais a barba que se tornou sua marca pessoal. Ainda assim, não abre mão das correntes no pescoço e dos grandes anéis distribuídos pelos dedos. Detalhe para a unha do dedo mínimo da mão esquerda, cumprida e pintada de preto. José Rico também não deixa barato no estilo, com calça de couro, chapéu branco, e botas de caubói douradas. Questionado sobre como se manter em evidência por 40 anos, atravessando gerações (título, aliás do CD/DVD comemorativo lançado em 2008) e tendências que vem e vão dentro do cenário sertanejo, Milionário é enfático: "Desde o início da nossa trajetória fazemos um trabalho sério. E com muito humildade". "Fazer sucesso não é muito difícil", emenda José Rico. "É preciso amor e dedicação. Só temos que agradecer a Deus por tudo que conseguimos", acrescenta o cantor. Sobre as duplas mais jovens, José Rico comenta que tem mais a aprender com elas do que lhes ensinar qualquer coisa. "Viemos de uma outra tradição musical, temos outras referências", reflete. Ainda assim, ele comenta que para conquistar o público, as músicas precisam de boas histórias. "Hoje, às pessoas não conseguem contar nem um resumo, vão muito só na base da alegria. Tem que conhecer mais da cultura sertaneja. O mais triste é não conhecer e querer inventar o que não sabe. É por isso que estamos aí há 40 anos", diz. E quem da nova geração está fazendo um bom trabalho, José Rico? "Uma dupla que me impressiona muito hoje em dia é Victor e Leo. O diferencial deles é a expressão. Dá para perceber o gosto deles pela melodia e pelo trabalho instrumental bem trabalhado. É preciso ter esse cuidado. Para mim, eles dizem muito". Em cima do palco, ficou claro o porquê da longevidade de Milionário e José Rico. Ao longo de uma hora e meia, eles deixaram o público hipnotizado com seu carisma e, claro, um repertório de sucessos - como Decida, Do mundo nada se leva, Sonhei com você e Estrada da vida, esta - o hit que os tornou conhecidos - guardada para o final da apresentação.

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