"Eu tento captar os filipinos em sua totalidade", define Brillante Mendonza sobre a própria cinematografia. O mais conhecido cineasta filipino no exterior foca seu cinema em microcosmos, pequenos dramas de cidadãos de grandes cidades filipinas para falar de questões sociais. Longe de ser um nome isolado no país, Mendonza é apenas um dos vários cineastas filipinos que têm se destacado no cinema mundial, mas cujos trabalhos raramente são exibidos por aqui.
A chance de conhecer um pouco do universo cinematográfico daquele país asiático é dada aos brasilienses até 1; de agosto, enquanto durar a mostra Descobrindo o cinema filipino, com sessões no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). "Não é novidade entrar um país novo no mapa do cinema mundial por ano. Mas acho que os filipinos foram muito intuitivos no uso do digital e descobriram essa forma independente de fazer cinema com câmeras baratas", define um dos curadores da mostra, Leonardo Levis.
O cinema contemporâneo de lá guarda ainda outra característica: o repúdio às formas de representações cinematográficas ligadas ao mainstream ou ao cinema hollywoodiano. É uma das heranças de um país que sofreu duas invasões (uma espanhola e outra norte-americana) e uma bárbara ditadura. "Eles fazem cinema independente e não se preocupam com grandes bilheterias ou festivais internacionais. Filmam barato e conseguem experimentar o que quiserem. Cada cineasta tem um estilo muito próprio. Mas todos apresentam alguma coisa diferente do que estamos acostumados", define Levis.
Os trabalhos dos 12 cineastas selecionados prezam pela ousadia em forma e conteúdo. Em Refrões acontecem como revoluções em uma canção, John Torres filmou habitantes de Guimbal na I lha de Panay falando o idioma hilligaynon. Já que Torres não dominga a língua, o filme foi então legendado sem qualquer relação com o que está sendo dito. O importante aqui é investigar a musicalidade da língua. Torres virá à Brasília no próximo sábado para debate após a sessão das 17h30.
Na mostra do CCBB, impressiona Evolução de uma família filipina, de Lav Diaz, com quase 11 horas de duração e que ganhará um dia inteiro de exibição com dois intervalos de 30 minutos no próximo dia 24. "Os filmes longos são uma atitude política", defende o curador.
Descobrindo o cinema filipino
Hoje, às 15h30, exibição de Refrões acontecem como revoluções numa canção (120min, não recomendado para menores de 12 anos), de John Torres; às 18h exibição dos curtas Lagarto (5min, não recomendado para menores de 14 anos), de Roxlee; A grande fumaça (17min, não recomendado para menores de 14 anos), de Roxlee; Eternidade (12min, não recomendado para menores de 14 anos), de Raymond Red; Um estudo para os céus (12min, não recomendado para menores de 14 anos), de Raymond Red; Sombras (14min, não recomendado para menores de 14 anos), de Raymond Red; e às 19h30 Manila by night (151min, não recomendado para menores de 16 anos), de Ismahel Bernal, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCS - 3310-71087). Entrada franca.
QUEM É QUEM NO CINEMA FILIPINO
Brillante Mendonza
Figura carimbada em grandes festivais internacionais de cinema, Mendonza registra participações vitoriosas em Veneza e Cannes com os longas Masahista , Serbis, Kinatay e Lola. É conhecido por se concentrar em temáticas sociais e pelo realismo com que filma suas histórias.
Raya Martin
No momento, Martin toca três trilogias diferentes. Uma discute a formação e a identidade filipina, outra sobre o próprio cinema com dois títulos já realizados e a última sobre sua biografia pessoal. Ele também realizou o curta Vida longa ao cinema filipino, onde satiriza a figura de Lily Monteverde, conhecida como Mother Lily, a toda poderosa da maior companhia de cinema do país. O mais impressionante é que ele tem apenas 26 anos.
John Torres
Espécie de cineasta do amor, Torres foca seus curtas-metragens no mais nobre sentimento humano. "Um dos meus poemas filipinos prediletos termina com a frase ;Ao final de tudo isso, voltaremos a nos amar;. É tudo sobre amor", discorre o realizador. Ele também produziu curtas feitos com câmeras de celulares.
Lino Brocka (1939-1991)
Outro cineasta que prima pela temática social. Ao longo da carreira de 20 anos, um dos guerreiros do cinema filipino executou nada menos do que 50 filmes. A inconstância da produção cinematográfica local obrigou o cineasta a produzir obras mais comerciais. O clássico de sua autoria Manila nas garras de neon será exibido na mostra. Ele é homenageado pelos cineastas da nova geração John Torres, Khavn De La Cruz e Roxlee, integrantes da banda de avant-pop The Brockas.
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