Diversão e Arte

Sucesso no teatro e na televisão, O bem amado chega nesta sexta-feira ao cinemas

postado em 21/07/2010 07:00
O sucesso das duas adaptações televisivas de O bem amado só reforça o poder de comunicação do texto de Dias Gomes. Mas a popularidade de personagens como Odorico Paraguaçu foi apenas um dos aspectos da obra do dramaturgo paulistano que chamaram a atenção do diretor pernambucano Guel Arraes (O auto da compadecida, Lisbela e o prisioneiro). ;Conheço o texto desde os anos 1990 e tinha vontade de remontar O bem amado. Mas o seriado tinha acabado em 1984, ou seja, estava muito próximo. Daí eu esqueci essa ideia por um tempo. Eu achava o roteiro original, falava de política, mas tinha também comédia;, comenta o cineasta que, 48 anos depois do lançamento da peça, estreia nesta sexta-feira na tela grande a sua versão da obra. Em cena, o cineasta dirige o ator Tonico Pereira, no papel de Vladimir, personagem criado para o filmeEscrita em 1962, O bem amado conta a história de Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia Sucupira, que tem como objetivo de sua administração construir o primeiro cemitério da cidade. Para chegar à meta, Odorico enfrenta uma série de dificuldades, desde a ferrenha oposição de seus adversários políticos até a falta de um defunto para enterrar. Além do próprio Odorico, a galeria de personagens marcantes criados por Dias Gomes para a peça inclui o pistoleiro Zeca Diabo e as irmãs Cajazeiras ; Doroteia, Dulcineia e Judiceia. Produzida em 1973, O bem amado foi a primeira novela colorida da televisão brasileira. Em 1980, a obra virou seriado, também exibido pela Rede Globo. Nos dois casos, Odorico Paraguaçu e Zeca Diabo foram interpretados por Paulo Gracindo e Lima Duarte, respectivamente. ;Não tive a intenção de dialogar com as versões para a televisão;, conta o diretor. ;O que faz você querer remontar uma peça é achar que hoje ela continua atual e que permite uma nova leitura. Acredito que o interesse pela política permanece. É um universo muito bom de satirizar;, continua o diretor. Adaptações O bem amado que chega hoje aos cinemas tem Marco Nanini no papel do encantador, porém corrupto, prefeito de Sucupira. As irmãs Cajazeiras são interpretadas por Andréa Beltrão, Drica Moraes e Zezé Polessa. Matheus Nachtergaele faz Dirceu Borboleta; José Wilker é Zeca Diabo. Caio Blat e Maria Flor formam o casal Neco Pedreira e Violeta ; cujo amor é impossível, já que o personagem dele trabalha para Vladimir (Tonico Pereira), dono do jornaleco da cidade e principal opositor de Odorico, por sua vez, pai da jovem. Antes de filmar a história, Guel Arraes já estava familiarizado com O bem amado, pois tinha levado o texto também para o teatro. ;Eu e o Cláudio (Paiva), que assina o roteiro comigo, tínhamos feito a adaptação para a peça. Marco Nanini, inclusive, levou essa primeira adaptação para o teatro com outro elenco e direção. Para o teatro, a gente readaptou a peça do Dias. Mas para o cinema mudamos muita coisa. Não é nem que a gente tenha mudado; na verdade, acrescentamos muita coisa. A principal mudança é o personagem do Tonico Pereira, o Vladimir, que é um jornalista de esquerda, antagonista do Odorico, e que não existia no original;, explica o diretor. Diretor bissexto, Guel Arraes não tem, por enquanto, planos para um próximo filme. Para a televisão, no entanto, sua produção continua intensa. ;Eu colaborei com o João Falcão em um projeto dele chamado Clandestino. É um seriado em sete episódios. Jorge Furtado também está envolvido. Aliás, estou fazendo com ele uns especiais de fim de ano;, adianta. Três perguntas - Guel Arraes Qual foi o maior desafio para fazer o filme? Foi falar de política hoje. Falar da esquerda e da direita na atualidade. Não que o filme seja sobre isso. Por mais que pareça uma questão acessória, foi a que mais me inquietou. Foi só fazendo o roteiro que me toquei que precisava disso. Precisava de um antagonista para o Odorico, até por questões dramatúrgicas. Até que ponto você tentou respeitar a obra original? O único personagem que não tinha na peça original é o Vladimir, o esquerdista. Mas pensei que era uma obrigação de quem está atualizando a obra. O bem amado, do Dias Gomes, teve um poder político e satírico enorme, era ousado para a época. Se eu fizesse uma história hoje em dia que não tivesse uma crítica, uma sátira também à esquerda, ela estaria desatualizada. O resto, os personagens, são atualizados dentro do espirito original. O próprio Dias fez isso, atualizando os personagens da peça para a televisão. Comente a seleção do elenco. Eles são grandes comediantes, quase uma trupe. Inclusive os atores com quem eu ainda não tinha trabalhado, como a Zezé (Polessa) e a Maria Flor. Os personagens de O bem amado são míticos. Quem viu a novela ou o seriado na televisão lembra bem disso. Então, pensei também em atores míticos para esses papéis.

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