postado em 22/07/2010 07:00
A memória visual do rock brasiliense dos anos 1990 passa, necessariamente, pelas lentes do fotógrafo Patrick Grosner. Pode parecer coincidência, mas foi inevitável que ele misturasse dois de seus maiores interesses, a fotografia e a música. ;Quando comecei, em 1989, me apaixonei e soube exatamente do que queria viver. Comecei no Canadá, quando fui para lá com minha mãe para ela fazer um mestrado em antropologia;, comenta. ;Em 1990, voltei para Brasília e quase todos os meus amigos estavam envolvidos com a música. A cena musical fervilhava e a segunda safra do rock de Brasília estava pronta para explodir. Como eu nunca me esforcei o bastante para tocar algum instrumento, resolvi fotografar os meus amigos tocando;, continua o fotógrafo brasiliense, 39 anos.Quatorze desses registros compõem a exposição Brasília anos 90 ; a cara do rock, aberta para visitação de segunda a domingo até 31 de julho, no Corredor da Presidência da Câmara dos Deputados (edifício principal).
A primeira banda captada pelas lentes de Patrick foi a Roque e os Biles, na qual participava Fred, que seria baterista dos Raimundos. ;No começo, eu só fotografava as bandas de amigos. Mas em Brasília sempre tem um amigo de um amigo que acaba virando amigo também. Conheci todo mundo. Vários são meus amigos e mantemos contato ate hoje;.
Mas a amizade mais forte foi mesmo com os Raimundos, com quem Patrick chegou a trabalhar profissionalmente. ;Foi a banda que mais fotografei. Acompanhei em turnê viajando com a equipe, fiz capas de discos e fiquei dois meses em Los Angeles na gravação do Lapadas do povo. Com eles, fui parar em Portugal, onde vivi por sete anos e tenho até um filho português;.
Além dos Raimundos, estão representadas na exposição as bandas Pravda, Little Quail and the Mad Birds, DFC, Os Alices, Os Cachorros das Cachorras, Filhos de Mengele, Maskavo Roots, Peter Perfeito, Nativus, Os Cabeloduro, Os Wallaces, Oz e VGB2. ;Tive que deixar algumas bandas boas e importantes de fora, mas a seleção foi baseada em padrões estéticos de cada fotografia. Tentei escolher as que acho mais bonitas. E 14 fotografias é o que o espaço comporta;, explica o fotógrafo. A escolha de quais bandas fotografar também passava pelo crivo de Patrick. ;Uma identificação musical era um critério meu para querer fotografá-los;.
Três perguntas // Patrick Grosner
Visualmente, você achava a geração 1990 interessante de fotografar?
Esta geração era muito irreverente e a maioria das bandas não tinha uma preocupação com o visual. Era uma coisa meio grunge-punk-tupiniquim sem pretensão, mas sempre com cara de rock. As bandas mais performáticas, tipo Os Alices, Os Cachorros da Cachorras e Os Wallaces já tinham um figurino mais caprichado e banda com figurino sempre rende boas fotos. Na foto do Nativus, dei a ideia para fazermos em uma cachoeira, pois achava que combinava com o som deles. Depois ganharam fama com o chamado reggae de cachoeira.
E qual banda você gostaria de ter fotografado, mas não fotografou?
Gostaria muito de ter feito uma foto do Sunburst. O som deles era muito bom, mas nunca consegui me aproximar muito dos caras. Nem em show fotografei eles.
Alguma sessão de fotos rendeu histórias curiosas?
Tem muita história boa para contar, quem sabe um dia não escrevo um livro? Na foto dos Alices que entrou para a exposição aconteceu uma coisa muito engraçada. O Da Mala tinha acabado de sair da banda e o Paulo Virgílio assumido os vocais. Na hora da foto, o Paulo deu um bolo em todo mundo. E o Da Mala, que ainda andava com os caras para todos os lados, teve que enfiar um saco de papel de supermercado na cabeça para fingir que era um membro da banda. A foto ficou maravilhosa!
Brasília anos 90 ; a cara do rock
Até 31 de julho, de segunda a domingo, das 9h às 17h, no fotogaleria do Corredor da Presidência da Câmara dos Deputados
(edifício principal). Exposição com fotos de Patrick Grosner.
Acesso livre.