Diversão e Arte

Elas perguntam, ele responde

A mulher, a filha e atrizes questionam o dramaturgo sobre seu trabalho e o tempo de carreira

postado em 24/07/2010 13:08
Especial para o Correio

Domingos Oliveira costuma trabalhar com muitas mulheres (e alguns homens). Do grupo, conhecido no meio como ;a turma do Domingos;, a esposa, Priscilla Rozenbaum; a filha, Maria Mariana, além das atrizes Clarice Niskier e Clarrisse Luz fizeram perguntas ao ator, autor e diretor. Todas formuladas com um aval que só a intimidade concede.

Mingão querido, você sabe de toda a admiração que tenho por você, por sua obra e por seu enorme amor pelo teatro. Você é meu grande mestre. Desde que comecei a trabalhar com você, lá pelos idos de 80, percebi e senti uma enorme ligação de tudo o que você faz com o espiritual, com o transcendente. Mas você sempre se disse ateu. Isso, de alguma maneira, mudou?
Te amo muito.
Bjssss, Clarisse Luz

Não mudou. A fé é um dom, tem gente que tem, tem gente que não tem. Eu não tenho, não consegui nunca acreditar. Minha revolta com a morte sempre foi tão grande que resolvi implicar com Deus. E agora que a morte está próxima, com 73 anos a gente não a vê como ideia, vê como realidade ; posso viver mais 20 anos, mais 30 anos, mas está próximo. Sou obrigado a admitir que ninguém pode garantir coisa nenhuma, porque ninguém morreu e voltou. Acho altamente improvável, mas se houver alguma coisa por lá vai ser muito interessante, né? Muito interessante. Platão, com muita propriedade, dizia: ;A morte é de qualquer modo uma coisa ;contável;;. Um descanso dessa vida tão cansativa? É um sono sem sonhos eterno? Ou um outro mundo no qual será maravilhoso viver?


Amar é preciso? Viver não é preciso?
Clarice Niskier

(risos) Acho muita formulação; Viver não é precisamente; (interrompe) Só vale a pena viver vidas com amor. Só vale a pena viver vidas com amor, ela tem toda razão. É engraçadíssima a proposta dela.


Olá, meu pai querido... Como escrever todas estas peças em apenas 10 anos? Qual é o seu segredo para a multiplicação do tempo? Para você, o que é o tempo? Filha
Maria Mariana

O tempo é uma coisa que passa depressa. É um rato que atravessa a sala. É uma prisão que te envelhece. A velhice é uma injustiça. (sobre as peças) Ela sabe a mania que tenho de acabar tudo que começo, que é quase uma fórmula de produtividade. Eu tenho esse meu lado de acabar tudo que eu começo, então acabo fazendo muito. Porque começar é fácil, o resto é difícil.

Você tem alguma peça que te traz as melhores recordações de ensaio? Aquele processo foi inesquecível ou todas são inesquecíveis?
Priscilla Rozenbaum

Foram inesquecíveis todas as peças que fiz com o auxílio dela (Priscilla). Com a assistência dela. As mais inesquecíveis; Ela me fez essa pergunta hoje de manhã e eu pensei a respeito. Tem uma particularmente inesquecível, que é No brilho da gota de sangue (1983), em que nós estávamos tão juntos, tínhamos começado a namorar, foi nosso primeiro contato mais pesado com o teatro. Nós nos demos tão bem, aquilo foi um momento de amor e criação inesquecível. Eu te digo, pouca gente viveu. Nós fizemos muitos trabalhos com amor juntos e inesquecíveis. E (tem) também, sob outro ponto de vista mais largo que esse o Cabaré numero 3. Reunimos todos os amigos, a produção era ótima e o espetáculo era muito divertido. Nós cantávamos, nos uníamos muito. Era uma farra todas as noites.

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