postado em 25/07/2010 10:14
; Regina Bandeira - Especial para o CorreioO ateliê parece uma oficina mecânica ; cinza e sujo de poeira, vestígios que a arte de soldar e esmerilhar as lâminas de aço deixam no chão de cimento. As esculturas são feitas de sucatas de ferro contorcido, correntes e molas. Todas têm movimento e leveza, ainda que pesem muitos quilos. A mão do artista é machucada e grossa, resultado da rudeza de transformar a brutalidade do aço em arte. ;São ossos do ofício;, desdenha com um sorriso, Ramon Rocha, de 50 anos, 37 deles dedicados às artes plásticas.
No começo, brincar com ferro era brincadeira do menino que cresceu ajudando seu pai nos serviços de torno e solda. Em 1965, ;seu; Geraldo, de 74 anos, saiu de Paraopeba (MG) para fabricar as primeiras peças metálicas da nova capital; Ramon tinha 7 anos e aproveitou aquele bizarro parque de diversão para construir seu primeiro boneco feito de porca e parafuso. Autodidata, foi amadurecendo sua arte, mas não pensava que um dia viveria dela.
;Tinha tanto apego com meus trabalhos que evitava vendê-los;, relembra o artista, que chegou a ter uma empresa de estruturas metálicas, onde, à noite, depois do expediente, fazia o que realmente gostava. Aos poucos, foi tomando consciência de que poderia viver da arte se aceitasse comercializá-la. Em 2001, faz sua primeira exposição com 32 peças. Não vendeu tudo, mas faltou pouco. Em compensação, descolou elogios e encomendas. Expõe no foyer da sala Martins Pena e em outros espaços menos conhecidos. Mas é no shopping CasaPark que suas esculturas obtêm maior visibilidade ; e de 15 em 15 dias, há quatro anos, o artista arma sua banca na Feira Botânica do shopping. Perguntado se ele teme a desvalorização de sua obra, Ramon não sabe responder. A lógica do mercado de artes é a mesma que a do mercado comum ; quanto maior é a oferta, menor é o preço. Mas Ramon não quer se dar ao luxo de se fazer raro. Ainda mais agora, quando sentiu na pele o impacto da crise financeira.
;Se não vendo, não pago as contas;, argumenta. O galerista Robério Melo, da Casa das Artes, concorda. ;Ele é um artista popular e é comum que venda suas obras a preços populares;, diz, mas pondera: ;Se tiver alguém que o encaminhe é melhor;. Ramon sabe disso. E confessa que até gostaria de ter um marchand que divulgasse seu trabalho e cuidasse para que suas obras pudessem ganhar cada vez mais respeito no mercado. Mas teme ser ;enrolado;. ;Teria de ser alguém confiável; já perdi dinheiro e obras com um ex-agente;.
Compradores
Quem vê o trabalho de Ramon ; seus Dons Quixotes, suas crianças metalizadas que brincam de roda, pulam corda e soltam pipa, as motos e as flores, não entende como aquele material um dia foi lixo de fábrica, resto de computador ou bicicleta velha. As peças, que vão de 10cm a 3m, poderiam ser encontradas tranquilamente em uma galeria tradicional. ;Certa vez, um cliente disse que não contava pra ninguém onde comprava minhas peças; tinha preconceito contra artistas de feiras;, conta, rindo. O caso lembra a Ramon um outro exemplo ; duas compradoras que comercializam as esculturas saídas do atelier de Taguatinga diretamente para o Rio de Janeiro. Mais precisamente o Shopping Cassino Atlântico, conhecido point de artistas plásticos e galeristas de renome.
A arte de transformar velhas sucatas ganha um novo conceito quando se trata das esculturas de Ramon ; são objetos de fino acabamento e delicada beleza . São necessárias doses cavalares de técnica e criatividade para um artista conseguir dar a um ferro retorcido a emoção que transmite os objetos do artista mineiro. Em algumas esculturas ;como a Harley Davidson ; Ramon não faz desconto nem aceita encomendas grandes. ;São peças demoradas, que levam tempo e eu gosto de fazer motivado.; Coisa de artista. Já são mais de 1.800 peças vendidas e as contas estão em dia.
ONDE ENCONTRAR
; Para conhecer as obras de Ramon Rocha acesse o site: www.ramonrocha.hd1.com.br. O atelier do artista fica na SHN Área Especial 95, em Taguatinga Norte (aberto para visitação diária). Telefone: 9963-8799