Agência France-Presse
postado em 28/07/2010 13:39
Nova York - Eles são (quase) tão bons e são muito mais baratos: sintetizadores estão se multiplicando nas orquestras dos musicais da Broadway, mas os músicos reais, os puristas, não pensam desta maneira.
Os aparelhos são encontrados principalmente em teatros provinciais ou em espetáculos em turnê.
Mas quando os produtores de "West Side Story" ("Amor, sublime amor"), a mítica comédia musical americana produzida em Nova York, anunciaram que três violinistas e dois violoncelistas seriam substituídos por computadores, "foi a gota d'água", declarou Paul Woodiel, um músico da orquestra.
"Fui aluno e amigo de Leonard Bernstein (compositor de "West Side Story") e tenho quase certeza de que ele jamais aceitaria uma coisa destas", lamentou o violinista.
"Não fazemos shows ao vivo em bares, não estamos em Las Vegas, estamos na Broadway", disse com acidez. "Leonard Bernstein foi o maior músico americano".
Depois de sair do musical, o violinista publicou um artigo corrosivo no New York Times para denunciar a "invasão dos sintetizadores artificiais".
Usadas com sucesso em diversos estilos musicais há décadas, as máquinas estão agora entrando no universo da música clássica.
Os computadores "se tornaram excelentes na reprodução de sons como percussões, baixos, instrumentos de cordas", destacou Mike Levine, redator da revista Electronic Music Magazine. "Eles podem agora modalizar qualquer tipo de piano".
Apesar de os computadores permitirem que grupos amadores ou pequenos estúdios encontrem uma solução mais barata, eles são uma ameaça para músicos profissionais, que enfrentam uma concorrência imbatível em termos de custo, segundo Levine.
"Tudo isso é uma questão de dinheiro: os produtores querem economizar ao máximo", acusou. "De qualquer maneira, sempre foi assim".
Os sintetizadores e outros programas de informática não são sempre criticados: para Paul Henry Smith, da Fauxharmonic Orchestra, um grupo com base em instrumentos digitais, as novas tecnologias permitem a ampliação do campo de experimentação musical.
Para tocar música, Paul Henry Smith utiliza sons "samplerizados", vindo de um banco de dados de mais de dois milhões de notas "verdadeiras" pré-registradas, com as quais ele brinca como quiser.
"Você não sabe bem o que vai acontecer, mas o computador é tão maleável que parece impossível conhecer seus limites", explicou, admitindo que os instrumentos virtuais não são capazes de competir com os músicos reais.
Na verdade, para a crítica do New York Times, Barbara Hoffman, recorrer aos computadores em certas obras como "West Side Story" engana os ouvidos dos espectadores.
"Quando você paga pelo ingresso mais de cem dólares, é normal querer escutar a música que o Leonard Bernstein tocar da maneira como ele imaginou", continuou. "Para algo tão sagrado quanto este trabalho, um dos mais belos já escritos, é uma blasfêmia".
Paul Woodiel vai ainda mais longe: para o violinista, tocar música clássica com um sintetizador, "é como fazer amor com um cadáver".