Diversão e Arte

Festival de Veneza tem Tarantino presidindo o júri e novos filmes de diretores como Sofia Coppola e Vincent Gallo

postado em 31/07/2010 07:00
A começar pelo presidente do júri ; o americano Quentin Tarantino ;, o Festival de Veneza cria expectativas por uma edição aberta a ousadias. Tal como o compatriota Tim Burton, que liderou os jurados de Cannes em maio, ele é conhecido por admirar o cinema de fantasia e valorizar autores obscuros. Na França, Burton consagrou as assombrações do longa tailandês Unclee Boonmee who can recall his past lives. Do criador de Pulp fiction e Kill Bill, cobram-se surpresas ainda maiores.

Para eleger o vencedor do Leão de Ouro, Tarantino terá que negociar com convidados como o roteirista e diretor mexicano Guillermo Arriaga (Babel), o auteur francês Arnaud Desplechin (Reis e rainha) e o compositor Danny Elfman (colaborador habitual de Tim Burton). De 1; a 11 de setembro, eles assistem a 23 longas escolhidos para a competição oficial. Entre os concorrentes, 22 da 67; edição já foram anunciados. Uma seleção que inclui os novos de Sofia Coppola (Somewhere) e François Ozon (Potiche), Julian Schnabel (Miral).

Um dos mais cotados para o prêmio principal, no entanto, é um velho ídolo da geração de Tarantino: Monte Hellman, que coproduziu Cães de aluguel (1992) e dirigiu o cultuado Corrida sem fim (1970), estava afastado das telas desde 1989. O ;outsider;, 78 anos, retorna com o sugestivo Road to nowhere (em português, ;estrada para lugar nenhum;). Também pupilo do veterano, Vincent Gallo (do polêmico Brown bunny) compensa o hiato de oito anos com Promises written in water. Ao todo, os Estados Unidos enviam seis títulos. Mais do que os próprios donos da casa, representados por quatro fitas italianas. A América do Sul conta apenas com Post mortem, do chileno Pablo Larraín (Tony Manero).

Vencedor do Leão de Ouro em 2008 (com O lutador), Darren Aronofsky inicia o festival com o suspense psicológico Black swan, que desvela as intrigas entre duas bailarinas de Nova York, interpretadas por Natalie Portman e Mila Kunis. A atmosfera será tensa também na primeira sessão da meia-noite, a cargo de Machete, de Robert Rodriguez. Trata-se da nova cria do projeto Grindhouse, que, desenvolvido por Rodriguez e Tarantino, rendeu as travessuras Planeta terror e À prova de morte. Ídolo do presidente do júri, o japonês Takashi Miike é outro que revigora as fitas de ação e horror. Ele compete com 13 assassins.

Na lista, o Brasil não aparece nem mesmo nas mostras paralelas, que abrigam o português Manoel de Oliveira (com o curta Painéis de São Vicente de Fora, visão poética), a francesa Catherine Breillat (La belle Endormie) e o sul-coreano Hong Song-soo (Oki;s movie). Longe da competição, os irmãos Ben e Casey Affleck apresentam a ficção The town (de Ben) e o documentário I;m still here (de Casey, sobre o ator Joaquin Phoenix). O mestre italiano Marco Bellocchio também não cobiça o troféu de Veneza com Sorelle mai, hors concours.

Na competição

; Attenberg, Athina Rachel Tsangari
; Balada triste de trompeta, Álex de la Iglesia
; Barney;s version, Richard J. Lewis
; Black swan, Darren Aronofsky
; Detective Dee and the mystery of phantom flame, Tsui Hark
; Drei, Tom Tykwer
; Happy few, Antony Cordier
; Meek;s cutoff, Kelly Reichardt
; Miral, Julian Schnabel
; Noi credevamo, Mario Martone
; Norwegian wood, Anh Hung Tran
; La passione, Carlo Mazzacurati
; La pecora nera, Ascanio Celestini
; Potiche, François Ozon
; Post mortem, Pablo Larraín
; Promises written in water,
Vincent Gallo
; Road to nowhere, Monte Hellman
; Silent souls, Aleksei Fedorchenko
; La solitudine dei numero primi, Saverio Costanzo
; Somewhere, Sofia Coppola
; Venus noire, Abdellatif Kechiche
; 13 assassins, Takashi Miike


Crítica// Uma noite em 67 ***
Uma noite explosiva

Yale Gontijo

Impossível não se emocionar com a introdução de Uma noite em 67, em cartaz desde ontem no Cinemark Pier 21. A apresentação da música Ponteio, de Edu Lobo e Capinam, campeã do 3; Festival de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record, não dura mais do que dois minutos. É o tempo suficiente para entender o que significaram os festivais de música brasileira na década de 1960 no Brasil. Ginásio lotado, garotas histéricas. Uma espécie de ;beatlemania; misturada à mania dos brasileiros de formar torcidas.

Isso, pelo menos, na superfície, porque no fundo era uma forma de ;extravasar os sentimentos reprimidos pela ditadura;, como admite o cantor Sérgio Ricardo, que, de tão vaiado, quebrou o violão e arremessou o instrumento na plateia durante a defesa de Beto bom de bola. Lançado depois de uma série de documentários brasileiros dedicados à música (desde que o cinema brasileiro descobriu que o nicho é um bom negócio), o longa de Renato Terra e Ricardo Calil (crítico de cinema do jornal Folha de S. Paulo) tem tempo e espaço bem definidos.

O dia é 30 de setembro de 1967 e o local é o Teatro Record. O filme não pretende ser mais ou menos do que isso. O jornalista Nelson Motta aparece explicando alguma coisa que qualquer um poderia explicar e o filme todo é calcado em imagens de arquivo tanto das apresentações quanto dos bastidores em 1967, entrecortado por entrevistas recentes com o assombroso time de medalhões da MPB que competiam no festival.

Chico Buarque, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Edu Lobo, Elis Regina e Os Mutantes defendiam canções que se transformariam em clássicos da MPB como Alegria, alegria, Domingo no parque e Roda viva. Caetano e Gil começavam a formatar o que seria o Tropicalismo; Chico se considerava velho (com apenas 23 anos) e isolado por não se alinhar em nenhum grupo. Por fim, o júri decidiu consagrar Ponteio. É um excelente registro de quando a música popular brasileira fervia num delicioso caldo cultural. Bem diferente da mesmice em que se enterrou na atualidade.

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