Diversão e Arte

O compositor Sombrinha recebe acolhida calorosa de um público de 600 pessoas no Bar do Calaf

Irlam Rocha Lima
postado em 02/08/2010 08:41
Autêntico bamba, Sombrinha tem uma bela história no samba. Cria do mítico bloco carnavalesco Cacique de Ramos e um dos fundadores do Fundo de Quintal - uma das maiores e mais importantes referências do samba -, autor de incontáveis sucessos, compostos com parceiros como Arlindo Cruz e Luiz Carlos da Vila, tem uma legião de fãs na cidade. Na noite de sábado voltou a conferir esse prestígio e popularidade, ao reunir público de 600 pessoas no Bar do Calaf. Sombrinha e o grupo brasiliense Fina Estampa empolgaram os frequentadores da roda de sambaFoi a terceira passagem do compositor, cantor e cavaquinista santista (embora muita gente o imagine carioca, nasceu em Santos, no litoral paulista) pelo Calaf, o mais longevo e concorrido palco do samba na capital, que já recebeu nomes da velha guarda e da nova geração do gênero, entre os quais Noca da Portela, Monarco, Almir Guineto, Mauro Diniz, Reinaldo, Mart%u2019nália, Dhi Ribeiro, Pedro Miranda e Alfredo del Penho - além de, praticamente, todos os sambistas brasilienses. Sentindo-se em casa, na companhia do Fina Estampa, que tem entre os integrantes os velhos amigos como Marcelo Sena e Valerinho, vocalistas do grupo, Sombrinha, às 20h, abriu os trabalhos como manda o figurino, com Iaiá, ioiô, um partido alto daqueles de não deixar ninguém parado. Ficou ainda mais à vontade, empunhando seu cavaquinho, ao perceber que na platéia formava-se um coro cheio de empolgação em quase todas as músicas interpretadas. Era, claramente, gente com total ligação com o samba, como a emblemática figura de Robertinho da Mangueira, servidor público que vestido com as cores da verde e rosa da Estação Primeira, como de hábito, desfilava sua elegância pelo salão, exibindo a ginga de passista. "Não perco essa roda de samba por nada. Hoje, então, tive um motivo a mais para vir, com a presença do Sombrinha", festejava. Ele havia chegado um pouco antes do show começar, mas muitos estavam no bar desde as 15h, embalados pelo grupo Volta por Cima e por muita cerveja. Na sequência do show, com uma hora de duração, Sombrinha mostrou sambas que marcaram sua carreira como Só pra contrariar, Fogo da saudade, Coração em desalinho, Malandro sou eu, Sagrado e profano, Ainda é tempo pra ser feliz, Não quero saber mais dela (gravada em conjunto por Chico Buarque e Caetano Veloso), e, claro, O show tem que continuar, elevando ainda mais a temperatura do Calaf. E o clima continuou quente quando o sambista atacou de pou pourri de samba de roda. Mas não foi Santo Amaro da Purificação e outras localidades do recôncavo baiano, onde esse estilo é cultivado, o foco principal da apresentação. Sempre reverente, Sombrinha, por diversas vezes, se referiu ao Cacique de Ramos, "de onde surgiram, entre outros, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jorge Aragão e, obviamente, o Fundo de Quintal", destacou. Em seguida, emocionado saudou aquele reduto de sambistas, no subúrbio carioca, que em 2011 completa 50 anos, ter sido tombado, na condição de patrimônio cultural do Rio de Janeiro. "Pela acolhida que recebo sempre aqui no Bar do Calaf, sinto-me como se estivesse no Cacique. A animação das pessoas, a relação que elas têm com o samba, me fazem sentir em casa", elogiou depois de deixar o palco. Antes, porém, houve tempo para ele homenagear Nelson Cavaquinho, que no próximo ano terá o centenário comemorado pela Mangueira, no desfile da Marquês de Sapucaí. "Estou entre os concorrentes no concurso do samba-enredo. Torçam por mim", pediu. E emendou cantando um dos muitos clássicos do mestre - em parceria como Guilherme de Brito -, o belo Folhas secas: "Quando piso em folhas secas/ Caídas de uma mangueira / Penso na minha escola/ E nos poetas da minha estação primeira%u2026" Foi um final apoteótico.

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