Diversão e Arte

Peça escrita pelo britânico Mike Leigh entra em cartaz no CCBB

postado em 04/08/2010 07:00
Mike Leigh é um dramaturgo e cineasta que escreve para personagens quase caricatamente ingleses. Os trabalhadores retratados em Êxtase, que estreia hoje no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com temporada de terça a quinta, são típicos representantes da low class, a classe operária britânica. Suas angústias, dúvidas e alegrias, no entanto, poderiam pertencer a qualquer um de nós. ;A vida dos trabalhadores, imigrantes, a solidão nas grandes cidades são temas universais. Apenas faço questão de situar a ação na Inglaterra porque acho que seria forçar a barra trazer a ação para o Brasil;, afirma o diretor da montagem, o uruguaio Mauro Baptista Vedia, ele mesmo um ex-migrante, que na infância e no início da adolescência morou com os pais na Espanha, na época da ditadura militar em seu país natal. A história se passa em 1979, em Londres, onde um grupo de amigos leva uma vida amarga e com pouquíssimo dinheiro. A trama acontece numa noite de reencontro, regada a gim, cerveja e canções de Elvis Presley. A nostalgia dá o tom de tristezas, amargura e alegrias destiladas em dois atos pelos personagens de Mário Bortolotto, Erika Puga, Amanda Lyra, Eduardo Estrela, Francisco Eldo Mendes e Fernanda Catani. ;A peça tem uma construção de personagens maravilhosa, é um dos melhores textos dele;, comenta Vedia, que é cineasta e fã de toda a obra do autor inglês. É o segundo texto de Leigh (cineasta conhecido no Brasil pelo filme Segredos e mentiras, ganhador da Palma de Ouro, em Cannes) que Vedia monta. A primeira foi A festa de Abigaiu, que ficou em cartaz em São Paulo por dois anos. Sua terceira empreitada pelo universo do inglês, Os penetras, estreia no fim do mês, na capital paulista. Desafio Além de dirigir os espetáculos, Vedia traduz e adapta o repertório do diretor de teatro e cineasta. ;São peças dramaturgicamente complexas, nada despretensiosas. É um megadesafio botar tudo isso em pé, sempre com a ajuda dos atores e da equipe;, diz o diretor, que prefere fazer peças com muitos atores. Cena de Êxtase, dirigida pelo uruguaio Mauro Baptista Vedia: retratos da solidão nas grandes cidadesÊxtase também marca a volta de Mário Bortolotto aos palcos. Em janeiro deste ano, o ator e dramaturgo foi vítima de uma tentativa de assalto, em São Paulo, e ficou em coma depois de receber dois tiros. Vedia conta que Bortolotto foi o primeiro a ler o texto pronto para ser encenado, pois o diretor já pensava nele para o personagem de Mick ; operário que bebe até cair sempre que recebe o pagamento da semana. ;Temos amigos em comum, nos conhecemos há mais de 10 anos. Pedi que ele lesse já na intenção de convidá-lo a atuar;, conta Vedia. Para o diretor, Êxtase tem a marca de um teatro popular e sofisticado ao mesmo tempo, que diverte e leva à reflexão. O estilo de Mike Leigh no cinema está presente em seu teatro: performance contida, interpretação intimista, pausas e contrastes entre os personagens, entre outros elementos. O que não impediu, segundo Vedia, que na temporada paulistana, também em dias de semana, a peça tenha atraído um público diversificado: de executivos a seguranças. ;Acho que os porteiros se identificaram, o que me deixou orgulhoso;, comenta. ÊXTASE Texto de Mike Leigh e direção de Mauro Baptista Vedia. Terça a quinta, às 19h. Até o dia 26, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Trecho 2 Conjunto 22; 3310-7087). R$ 15 (inteira). Classificação indicativa: 14 anos.

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