Nahima Maciel
postado em 05/08/2010 07:00
O Brasil pode não ser um país de massas de leitores, mas sem dúvida é um bom palco para espetáculos. Então, por que não transformar a literatura em espetáculo? É preciso deixar de lado toda a aura de recolhimento e solidão que envolve o ato de ler para encarar os livros como entretenimento, e é um pouco assim que eles chegam à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). O evento realizado ininterruptamente desde 2003 chega à oitava edição com estimativa de público de 20 mil pessoas, gente que desembarca na pequena cidade histórica do litoral fluminense ávida por quatro dias de imersão em universos literários variados. Na Paraty da Flip, escritor vira celebridade, é assediado, seguido na rua e protagonista de sessões de autógrafos para lá de concorridas.A maratona de encontros tem início hoje e segue até domingo com lista de convidados que inclui 35 autores, sendo 15 brasileiros e 20 estrangeiros, e programação centrada nas 19 mesas de debates realizadas em auditório de 850 lugares. ;É uma contradição né, essa ideia do espetáculo? O Brasil, um país de raríssimos e escassos leitores, de tiragens de 2 mil exemplares para 200 milhões de habitantes. Nessa circunstância, não deve ser visto com maus olhos aliar a literatura com esse aspecto de entretenimento;, acredita Flávio Moura, há três anos na direção da Flip. ;O importante é que a programação nunca se pautou por isso, nunca se cogitou relaxar alguns critérios pensando no espetáculo. Aqui a ideia de espetáculo tem que ser um pouco mais bem definida porque é um espetáculo muito particular que acontece em Paraty.;
De todas as edições do evento, a 8; Flip será a mais antenada em relação à atualidade. Na programação, duas mesas foram consagradas ao futuro do livro. ;É um assunto muito forte da pauta. É incontornável e a gente teve a sorte de conseguir três pessoas muito gabaritadas para falar disso. Fizemos duas mesas para explorar o máximo desse assunto;, diz Moura. Quando e-books, iPads e Kindles começam a movimentar o mercado editorial, a Flip traz nomes de referência na pesquisa da história do livro e da leitura. O norte-americano Robert Darnton, diretor da Biblioteca de Harvard, e os ingleses Peter Burke, historiador, e John Makinson, diretor da editora Penguin, se encontram para lembrar que a morte do mercado editorial é anunciada há mais de dois séculos e discutir como as tecnologias contemporâneas podem mudar a maneira como a leitura é exercitada.
Conflitos
Fé e ciência também voltam a pautar a Flip, a exemplo do que aconteceu na última edição, quando Richard Dawkins subiu ao palco para defender o ateísmo. Dessa vez, é o inglês Terry Eagleton, crítico assumido de Dawkins, quem fala sobre razão e fé. Os conflitos religiosos e territoriais são temas de outro encontro, o do israelense Abraham Yehoshua e da iraniana Azar Nafisi, autora de livros sobre a condição feminina em um regime fundamentalista.
Salman Rushdie é o rosto mais conhecido da Flip este ano. Durante a festa, o escritor indiano lança Luka e o fogo da vida, no qual narra a história de um garoto que descobre ser capaz de poderes mágicos e comunicações com mundos paralelos. Para os fissurados em quadrinhos, o evento traz o tão arredio quanto cultuado Robert Crumb. Entre os brasileiros estão Beatriz Bracher e Ronaldo Correia de Brito, que dividem com Reinaldo Moraes uma mesa sobre fábulas contemporâneas. O primeiro debate de hoje reúne Moacyr Scliar, Edson Nery da Fonseca e Ricardo Benzaquen para analisar os aspectos literários da obra de Gilberto Freyre, homenageado do evento. No sábado, Ferreira Gullar também recebe homenagem com uma sessão que celebra seus 80 anos e o Prêmio Camões, recebido este ano. Veja abaixo quais são alguns dos escritores que participam da Flip até domingo.
Programação
Hoje
10h - Mesa 1 ("Ao Correr da Pena", com Edson Nery da Fonseca, Moacyr Scliar e Ricardo Benzaquen)
12h - Mesa 2 ("De frente pro Crime", com Patrícia Melo e Lionel Shriver)
15h - Mesa 3 ("Fábulas Contemporâneas", com Reinaldo Moraes, Ronaldo Correia de Brito e Beatriz Bracher)
17h15 - Mesa 4 ("Veias Abertas", com Isabel Allende)
19h30 - Mesa 5 ("O Livro: Capítulo 1", com Peter Burke e Robert Darnton)
Amanhã
10h - Mesa 6 ("O livro: Capítulo 2", com Robert Darnton e John Makinson)
12h - Mesa 7 ("Além da Casa-Grande", com Alberto da Costa e Silva, Maria Lúcia Pallares-Burke e Ângela Alonso)
15h - Mesa 8 ("Chá Pós-Colonial", com William Boyd e Pauline Melville)
17h15 - Mesa 9 ("Promessas de Um Velho Mundo", com A. B. Yehoshua e Azar Nafisi)
19h30 - Mesa 10 ("Em Nome do Filho", com Salman Rushdie)
Sábado
10h - Mesa 11 ("Andar com Fé", com Terry Eagleton)
15h - Leitura ("Alguma Poesia", com Chacal, Antonio Cicero, Ferreira Gullar e Eucanaã Ferraz)
17h15 - Mesa 13 ("Gullar, 80", com Ferreira Gullar)
19h30 - Mesa 14 ("A Origem do Universo", com Robert Crumb e Gilbert Shelton)
21h45 - Filme ("José & Pilar", com Miguel Gonçalves Mendes)
Domingo
09h30 - Mesa Zé Kléber ("Paraty: Passando o Futuro a Limpo", com Victor Zveibil, Ana Carla Fonseca Reis e Luís Perequê)
11h45 - Mesa 16 ("Gilberto Freyre e o Século 21", com José de Souza Martins, Peter Burke e Hermano Vianna)
14h30 - Mesa 17 ("Cartas, Diários e Outras Subversões", com Wendy Guerra e Carola Saavedra)
16h30 - Mesa 18 ("Nacional, Estrangeiro", com Benjamin Moser e Berthold Zilly)
18h15 - Mesa 19 ("Livro de Cabeceira", em que convidados da Flip leem trechos de seus livros prediletos)