postado em 05/08/2010 07:00
;O poder tem os canhões. Nós temos o grito.; Com os versos instigantes de ;Gritemos;, Pedro César Batista, paulista da pequena Álvares Florence, inicia Candeeiro do tempo ; poemas, décimo quarto livro, o nono de poesia. Mas o pequeno poema foi primeiramente publicado em 1979, no livro artesanal Tudo tem, impresso com auxílio de mimeógrafo, em Brasília. Batista é um poeta itinerante, apoia movimentos sociais e utiliza o cotidiano brasileiro como matéria-prima para a sua ficção.É uma poesia de suavidade e reflexão, que conta, nas páginas de Candeeiro, três décadas da história do autor: da época da ditadura, no início dos anos 1980, aos anos mais recentes. ;Ao construir Candeeiro, verifiquei uma coisa. Depois de 31 anos do meu primeiro livro, meu estilo permanece, meu compromisso com a literatura permanece. Os sonhos são os mesmos;, destaca. O novo livro de Batista será lançado hoje, às 19h30, na Biblioteca Demonstrativa de Brasília (506/507 Sul).
Aos 2 anos de idade, o poeta foi morar em Paragominas (Pará). A juventude foi vivida em Belém, de onde partiu para conhecer boa parte do país. Reside em Brasília há oito anos, mas já está de malas prontas para São Paulo. Na literatura, ele também pode ser considerado um andarilho: além da poesia, já se embrenhou em biografias e romances, como Marcha interrompida, uma narrativa sobre o massacre em Eldorado dos Carajás (PA). O principal interesse, qualquer que seja a natureza do projeto, é sempre o mesmo: defender a vida. ;A poesia é vida. É a síntese da alma do autor e do mundo em que ele vive. A minha poesia e todos os meus livros têm compromisso com a vida;, afirma.
"Candeeiro do tempo ; poemas"
Fome humana
Quando alicate
come unha
peito engole bala
carne torna-se elétrica
ou
não se sabe nada
a injustiça
aparece
e a justiça
padece
sem poder
somente querer
existir
Imagem
Dentro da lua
meus olhos
te olham.
Ao amanhecer
sou sol
que não se põe,
nasce com a lua.
Olho meu olhar
que não tem fim,
vai além mar ar
terra voar,
como gaivota,
que pousa n;água.
Sou terra
que não tenho.
Canto do vento
Cantador de tristezas.
Cantador do tempo
quente e alegre.
Cantador de vitórias.
Cantador ou contador
não conta nada.
O que conta é o vento
a ventania
a tempestade
vindo
linda
ao pôr do sol.
Nosso tempo de sol.
Nosso novo tempo.
Vento ventania
para onde vais?
Vem, leva-me.
Fonte
Água doce
Teu beijo
Como broto d;água.
Vida no sol
No dia de chuva,
Receber calor.
Fazer vida.
Nova como a flor
Que nasce de manhã.
Viva como ser;
Vivo pela vida
De construir
Nossa vida
Para como rio
Cair no tempo
Aspirar o ar
Amar pela liberdade
De conquistar o novo;
O teu amor.
Riscar
Riscar um papel,
Poesia,
Casta,
Manifestos,
Denúncias,
Vidas.
Escrever um livro,
Justo,
Comum,
Popular
Com amor.
Riscando com a baioneta.
Tua vida;
Conquistar nossa liberdade
Nosso direito de não desistir da luta.
Candeeiro do tempo II
Inconstância do tempo
Provoca turbulência e ventania
Irrequieto espalha sementes indignadas
Sem terra nem paradeiro
Deseja um abraço apertado
Olhares brilhantes
Sorrisos abundantes
Tarda a aurora
Corpos se retesam
Movimentos letárgicos
Dissipam a imaginação
Vozes se perdem - sem eco
Insistem em descobertas
Plantar sonhos
Romper ordens
A dignidade é natural
Descobrir esse tempo
Respirar;