postado em 07/08/2010 07:00
Ao percorrer as páginas de O mito do vaso partido e outros escritos ; literatura e psicanálise, o leitor pode achar que o autor, André Vianna, já soma várias publicações, é um escritor com vasta experiência. Aos 63 anos, porém, é a primeira vez que Vianna tem uma obra de ficção editada, apesar de escrever há algum tempo. O hábito de não passar o dia sem rabiscar ao menos uma linha, adquiriu há pouco mais de um ano. O paulista, em Brasília desde 1973, passou de cirurgião a psicanalista, mas agora se considera mais escritor do que qualquer outra coisa. A obra será lançada hoje, às 18h, no restaurante Carpe Diem (104 Sul). [SAIBAMAIS]Na primeira parte do livro, dedica-se exclusivamente a contos ficcionais. Na segunda, entrelaça literatura e psicanálise, e inclusive analisa criações suas. Por último, Vianna compartilha um pouco da experiência na Oficina de Escrita em Psicanálise, idealizada por ele há um ano. Psicanalistas se encontram quinzenalmente, discutem questões sobre literatura e procuram, a partir de textos das duas áreas, partir para a escrita.
Com Vianna, traduzir a imaginação para o papel ; ou melhor, para a tela do computador, na maioria das vezes ; se tornou quase um vício. E não só para ele. ;Escrever não é uma coisa fácil, requer disciplina. Escrevendo todo dia, você vai adquirindo. No fim das contas, ninguém quer saber de escrever psicanálise! Tá todo mundo querendo escrever ficção! Foi uma surpresa para todos nós. Na hora de descrever uma coisa psicanalítica, facilita, porque você tem traquejo de escrever ficção;, analisa. Enquanto a produção da oficina não ganha livro próprio, os participantes (cerca de 10) postam suas criações no blog www.sempontoesemvirgula.blogspot.com.
A interface entre psicanálise e literatura, explica Vianna, não tem objetivo algum de procurar explicar ou interpretar a ficção. Os dois universos se complementam. ;Desde a origem, são duas coisas que estão próximas. O próprio Freud, na obra dele, cita muita literatura. O Édipo Rei, de Sófocles, é de 450 anos antes de Cristo. Freud o aproveita para o mito de Édipo, que é o mito central na teoria psicanalítica. Isso não é novo. A psicanálise propicia um olhar um pouco diferente a respeito da condição humana. Mas não se trata, de maneira nenhuma, de interpretar nem a obra nem o autor;, conta.
No capítulo dedicado à psicanálise, ele se debruça sobre a narrativa de Kafka, em dois textos, sempre com um olhar que busca integrar análise, teoria e observações pessoais. E ele se permite fazer o mesmo exercício com seus próprios textos. O conto Atentado, por exemplo, recebe considerações críticas e psicanalíticas. ;Interpretar a obra com a psicanálise poderia ser considerado até uma falta de respeito com o autor. Aqui, não posso chamar de falta de respeito porque fui em quem escrevi;, brinca.
O MITO DO VASO PARTIDO E OUTROS ESCRITOS ; LITERATURA E PSICANÁLISE
De André Luiz Vianna. 186 páginas, Ex Libris. R$ 40. À venda no site da editora . Lançamento hoje, às 18h, no Carpe Diem (104 Sul).