postado em 12/08/2010 07:00
No camarim do Teatro Goldoni, na Casa D; Itália, o ator e diretor Fernando Martins recebe a reportagem do Correio trajando apenas sutiã e meia calça preta. Unhas postiças vermelhas e salto alto. Aos poucos, a figura masculina se dissolve para dar lugar a Genevi;ve, protagonista da esquete A dama da noite, uma das personagens do espetáculo Solidão (texto de Vicente Pereira), hoje a sábado, às 21h, domingo, às 20h.;Vicente Pereira (1) é um dos autores pioneiros do gênero besteirol no teatro brasileiro. Mas, é bom localizar, o humor dele não é o mesmo do gênero como o conhecemos hoje em dia. É bom avisar para o público não pensar que são tiradas de riso rasgado;, avisa Martins. Sozinha no palco (na verdade, um bar), Genevi;ve é aparentemente uma quarentona, solteira, esforçando-se para agradar um parceiro imaginário no primeiro encontro.
Ao longo da noite, doses de um poderoso drink, chamado Paris em Chamas, dão as elipses necessárias para o final desastroso da narrativa curta. ;Nós tomamos o cuidado de fazer as caracterizações femininas de uma forma bem sutil. O exercício não é apoiado na caricatura. Não existe nenhum esforço de direção ou atuação como variação de voz para caracterizar as personagens femininas;, explica Martins.
As luzes se apagam e, ao serem ligadas novamente, é para que a atenção seja voltada ao banheiro de um homem com trejeitos de socialite, encarnado por Luiz Felipe Ferreira. A segunda esquete da noite, investiga a vaidade masculina e suas consequências no ambiente doméstico. Por uma questão de logística, para possibilitar a troca de figurinos de Ferreira para a próxima e última esquete, Fernando precisa assumir o palco numa troca sutil. ;Tem gente que pergunta onde está o terceiro ator. É muito engraçado;, diverte-se Ferreira, que reaparece para a última cena, transmutado numa senhora de idade que cuida da melhor amiga, uma doente terminal.
;Em todas as cenas, existe uma curva de virada do humor para algo sério que leva as pessoas a pensarem. Quando isso acontece, a respiração da plateia muda. Existe uma coisa no texto do Vicente que diverte, mas leva as pessoas a pensarem;, analisa o diretor do espetáculo. A trilha sonora original criada e executada ao vivo por César Lignelli também pontua as ações. A dama da noite levou o troféu de júri popular no Festival Dulcina de Cenas Curtas deste ano.
1 - Morte em Brasília
Vicente Paulo Pereira nasceu em Uberlândia em 1950. Estreou no teatro como figurinista e assistente de direção de Sylvia Orthof, em Brasília, nos anos 1960. Na década seguinte, trabalhou como cenógrafo de espetáculos do grupo Secos e Molhados e do cantor Ney Matogrosso. Durante os anos 1980 e 1990, participou da patota de autores que criaria o gênero besteirol como Mauro Rasi, Miguel Falabella e Pedro Cardoso. Pereira trabalhou como roteirista de programas de humor televisivos como TV Pirata e Armação ilimitada. O autor morreu em Brasília, em 1993.
SOLIDÃO
Direção de Fernando Martins e texto de Vicente Pereira. Com Fernando Martins, Luiz Felipe Ferreira e César Lignelli. De hoje a sábado, às 21h. Domingo, às 20h, no Teatro Goldoni (Casa D;Itália, 208/209 Sul; 3244-3333 ou 3443-0606). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 12 anos.