postado em 13/08/2010 08:13
Culpem os dias quentes de verão. O clima ensolarado talvez explique por que, nos últimos meses, o rock californiano invadiu a praia da música independente norte-americana. É uma cena caudalosa. Os ventos do Pacífico, que inspiram as melodias de bandas como Avi Buffalo, Girls e Dodos, incidem diretamente sobre duas revelações da temporada: o Wavves e o Best Coast.
Os sintomas de insolação estão no título do novo disco do Wavves, King of the beach (em português, "rei da praia"), e na capa amarelada da estreia do Best Coast, Crazy for you (uma colagem que mostra coqueiros, mar, sol e um felino). Mas a aparência pode provocar mal-entendidos. Os dois projetos, apesar de seguir a trilha de conterrâneos como Beach Boys e The Byrds, têm o espírito irônico - quase cínico - de quem não acredita nos estereótipos turísticos da região.
Nathan Williams (o comandante do Wavves) e Bethany Cosentino (a musa do Best Coast) vivem a Califórnia real, de dias nublados, fossas e tardes de tédio em frente à tevê. "Fico esperando, esperando, esperando o telefone tocar", canta Beth, em crônicas sobre amores rasos e, às vezes, sufocantes. Já Nathan se perde numa cidade de delírios, desejos impossíveis. "Eu nunca vou morrer. Vou continuar para sempre surfando dentro da minha mente", avisa, em Idiot.
Com afinidades tão semelhantes, as bandas parecem ter sido separadas no nascimento. A começar pela forma despretensiosa como vieram à luz. Tanto o Wavves quanto o Best Coast começaram como aventuras caseiras e logo foram notados como representantes do chamado "bedroom rock". Sonhos grandes em equipamentos baratos.
Mas isso é passado. Frustrado com os shows ruins e com o som experimental demais, Nathan convocou os amigos Stephen Pope e Billy Hayes (que tocavam com Jay Reatard, morto em janeiro) e transformou o Wavves num máquina de noise-pop. Daí King of the beach, um disco parrudo e acessível que rende comparações a Dookie, do Green Day, e Nevermind, do Nirvana. "Eu nunca gravaria o mesmo disco duas vezes. É o tipo de coisa que me deixaria totalmente entediado", admitiu o rapaz, de San Diego.
Banho de sol
O novo colorido divide os fãs antigos - que esperavam por um trabalho mais enigmático, talvez - e conquista fãs. Uma das reviravoltas mais interessantes do ano. Faixas como Convertible balloon brincam com elementos de eletrônica e rock psicodélico. Liberdades que Beth Cosentino prefere não tomar. Acompanhada do guitarrista Bobb Bruno e do baterista Ali Koehler (que se uniu à dupla em julho), a cantora passou um tempo em Nova York e, saudosista, escreveu Crazy for you como uma "carta de amor a Los Angeles". A caligrafia é simples, mas nada redondinha: o vocal doce de Beth é sobreposto a ruídos, ecos e outros efeitos de guitarra.
O estilo, rotulado de surf-fuzz, deve agradar a fãs de bandas como Camera Obscura e She & Him, que atualizam a doçura do pop sessentista. Ainda mais atrevida, Beth narra as canções com a informalidade de uma conversa de amigos. Fala sobre os gatinhos (os felinos são tratados como uma obsessão da californiana), ciúmes, namoricos, substâncias ilegais e desilusões. "Quando estou preocupada, canto uma música de Brian Wilson e tudo fica bem", ela comentou, certa vez. Como o Wavves, produz canções ardidas, bronzeadas - e que prometem sobreviver ao fim da estação.
WAVVES
Conheça a banda de San Diego, Califórnia, em www. myspace. com/wavves. O terceiro disco, King of the beach, foi lançado pela Fat Possum Records. Importado. ***
BEST COAST
Conheça a banda de Los Angeles, Califórnia, em www.myspace.com/bestycoasty. O disco de estreia, Crazy for you, foi lançado pela Mexican Summer/Wichita Records. Importado. ***