Diversão e Arte

Artistas em início de carreira partem para a produção independente

postado em 15/08/2010 15:05
Você está sentado em um boteco da cidade com os amigos jogando conversa fora e tomando aquela cervejinha para combater a ;baixa umidade;, quando alguém chega de surpresa e lhe oferece um CD e um DVD. Cena bastante comum em várias cidades brasileiras, se não fosse por um detalhe. Os discos de agora não são comercializados, mas distribuídos gratuitamente para os frequentadores de bares, boates, casas de show e afins.

Pedro Paulo & Matheus: dupla alcançou o sucesso com a estratégiaUma estratégia encontrada por vários artistas para apresentarem seus trabalhos, já que não tocam nas rádios. É como diz a música: ;Ir aonde o povo está;. ;Todo mundo gosta de ganhar presente e se sentir valorizado. Esse contato direto com as pessoas sempre dá resultado. Em muitos de nossos shows, nas casas especializadas em sertanejo, somos nós mesmos que entregamos os nossos discos para o público. Em pouco tempo, muita gente já está com as músicas na ponta da língua;, revela Roniel, da dupla de mineiros radicada em Brasília Roniel & Rafael, que contabiliza dois discos produzidos independente e distribuídos gratuitamente.

A onda de distribuição de graça de CDs e DVDs teve início no Norte e Nordeste do país, principalmente com os grupos de forró e de tecnobrega. No entanto, está se tornando prática cada vez mais comum em vários cantos do Brasil. Em Brasília, em Goiás, em Minas e no interior de São Paulo, são os sertanejos que aderiram à nova moda. Muitas duplas que estouraram de 10 anos para cá se renderam a esse movimento. ;E está só crescendo. É a única forma de se fazer conhecido, ainda mais para quem está começando. É o nosso cartão de visita. E mesmo quem já está no mercado há algum tempo, continua com essa prática para divulgar novos trabalhos. O resultado é sempre muito bom;, revela Matheus, da dupla Pedro Paulo & Matheus. O artista lembra que na época em que a dupla lançou o primeiro disco, em 2006, Puro sertanejo, eles mesmos colocaram a mão na massa. Foram atrás de um estúdio, produtor, mandaram confeccionar a capa do disco e fizeram 10 mil cópias. Inicialmente, o produto foi distribuído para amigos e conhecidos. Toda vez que recebiam o cachê de algum show, o dinheiro já tinha destino certo: produzir mais CDs. ;No total, chegamos a fazer 35 mil cópias. A gente bancava tudo mesmo. Não era visto como um gasto, mas um investimento. Foi o pontapé inicial da nossa carreira e fundamental para sermos conhecidos hoje;, destaca Matheus.

Custos
Roniel e Rafael distribuem seus discos durante os showsOs custos para produzir um disco dessa maneira independente saem bem mais em conta do que por meio de uma gravadora. Até porque é difícil encontrar um grande selo que invista em quem está começando. O cantor Roniel revela que produzir um disco de forma independente sai em torno de R$ 1 a unidade, e que se fossem seguir o modelo tradicional, um CD não sairia a menos de R$ 13. ;Há casos em que um disco pode sair até mais barato, R$ 0,70, por exemplo. Depende dos custos da produção, mas certamente é bem mais acessível do que via gravadora. Por isso, o disco quando vai para as lojas não sai menos do que R$ 20, senão a gravadora quebra. Mesmo produzindo de maneira independente, estamos gerando empregos, renda e o resultado para os artistas é estrondoso;, declara.

Roniel acrescenta ainda que quando começaram a entregar CDS em bares, shows, muitos estranhavam e não entendiam o motivo de estar ganhando um disco. ;Alguns chegavam a perguntar quanto era o produto ou mesmo insistir para pagar. É uma ótima maneira de nos divulgar. Estamos em fase de lançamento do nosso disco Me liga e já distribuímos cerca de 30 mil cópias nos shows que estamos fazendo em bares e casas de espetáculos do Plano Piloto, satélites e Entorno. Nossa intenção é chegar a 100 mil discos distribuídos.;

Uma das duplas que está em alta graças a esse mercado informal é Fernando & Sorocaba que começaram a carreira também distribuindo há três anos discos de mão em mão. O sucesso veio rápido e inicialmente eles produziram 30 mil cópias que eram entregues por onde passavam.;Bares, shows. Todo lugar a gente ia. Para os que já conheciam o nosso trabalho, foi mais fácil. Os demais, também não faziam cara feia (risos). Não tenho dúvida de que essa coisa do boca a boca foi fundamental para nosso reconhecimento. Até hoje, se bobear, ainda fazemos isso. É muito bacana ver o sorriso de uma pessoa recebendo o nosso trabalho. Hoje, todos os artistas têm CDs e com toda essa tecnologia, tornou-se um projeto bem mais fácil para se realizar;, acredita Sorocaba.

; Ouça a música De Boa, da dupla Roniel e Rafael


; Ouça Música no Ar, do grupo Clima de Montanha


Além do sertanejo
Clima de Montanha: projetos independentes para serem reconhecidosNão só as duplas sertanejas aderiram a esse movimento de distribuir discos ou DVDs gratuitamente. Artistas e bandas de outros gêneros musicais não ficam atrás. O grupo brasiliense de samba-pop Clima de Montanha pôs o pé na estrada há cinco anos e lançou um projeto de forma independente. O músico Jonatas Cardoso, que toca surdo, conta que era muito oneroso para a banda entrar no mercado.

Conheceram o produtor paulista Arnaldo Saccomani que os aconselhou a ir para São Paulo e os ajudou na gravação do primeiro e único disco da carreira, o Música no ar, com três regravações e 10 músicas próprias. ;Foi um marco na história da banda. Nosso primeiro trabalho e realmente ficou muito bom. Quando uma banda ou artista tem o seu CD, prova que já existe, tem algo a mostrar. Até hoje, em todos os nossos shows, a gente ainda entrega discos;, diz.

Jonatas reconhece a importância de uma gravadora na vida de um grupo ou artista, no entanto, acredita que é possível sobreviver no meio mesmo de maneira independente. ;A gravadora é muito importante pela abertura que proporciona no mercado, na mídia, em rádios. Ela realmente dá um suporte. Mas temos exemplos de quem consegue se manter mesmo sem ela. Vamos gravar o nosso primeiro DVD agora, também de maneira independente e estamos aí na estrada, apesar de não termos um selo;, destaca.

; Saiba mais sobre a estratégia de sobrevivência dos grupos de tecnobrega

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