Diversão e Arte

Oito estúdios resistem na área conhecida como Porão do Rock

A mística do endereço convive com os problemas estruturais do prédio

postado em 21/08/2010 07:50


<i>Rodrigo Badaró equipou uma sala para ensaiar com sua banda, a Funk Blunt</i>Algumas quadras comerciais do Plano Piloto são conhecidas por reunir um grande número de lojas do mesmo tipo, como a rua dos restaurantes, das elétricas ou das farmácias. As quadras 207 e 208 Norte, por exemplo, concentram muitas lojas de informática. Mas, algum tempo atrás, era outra atividade que ajudava a caracterizar o endereço. Isso porque no bloco A da SCLN 207 está localizado o Porão do Rock, apelido do subsolo que abriga estúdios de ensaio e gravação. Ali, em 1998, foi articulada a primeira edição do festival que, com o nome emprestado do espaço, virou uma referência musical da cidade. Amanhã, aliás, será realizada uma seletiva para o festival, a partir das 17h, no Estacionamento do Nilson Nelson.

<i>Representantes dos estúdios garantem que o clima de camaradagem faz parte da relação deles</i>Em meados da década de 1990, o subsolo concentrava 14 estúdios. ;Mais de 200 bandas ensaiavam por ali;, contabiliza o músico e fotógrafo Clausem Bonifácio, presidente da ONG Porão do Rock. Ele comenta que esse vai e vem de músicos por ali foi determinante para o surgimento do evento. A presença na comercial de bares e restaurantes que abriam espaço para shows também colaborou para que o Porão fosse um ponto de encontro tanto de músicos quanto do público.

Treze anos depois do começo do festival, o endereço ainda guarda algumas das características que fizeram do local um cenário musical efervescente. Muita coisa mudou, mas o espírito de amizade e colaboração entre quem ensaia e trabalha no subsolo permanece. Atualmente, apenas oito estúdios resistem no local, cinco comerciais (Musimix, Sonar, Degrauz, Só Batera e 61) e três particulares. Cada sala tem 30 metros quadrados.
[SAIBAMAIS]
Fernando Fernandes, 28 anos, baixista da banda Pé de Cerrado, é dono do Sonar desde 1999. <i>O 61 é um dos cinco estúdios comerciais funcionando no Porão</i>;Abrir um estúdio foi um sonho de moleque, de ter um lugar para me divertir e ganhar uma grana também;, conta. Segundo o músico, um estúdio como o dele rende o suficiente para manter o estabelecimento e fazer pequenos investimentos. Uma hora de ensaio no Porão do Rock custa entre R$ 15 e R$ 25. Cada estúdio recebe, em média, 10 bandas diariamente.

;O Porão continua uma referência para quem quer ensaiar. As bandas novas sabem que é só chegar aqui e procurar algum estúdio com horário disponível;, afirma Thiago Sales, 32 anos, proprietário do Estúdio 61. ;É comum esbarrar com gente de outras bandas, trocar ideias, contatos, informações;, diz Rafael Axé, tecladista da banda Reggae a Semente, uma das frequentadoras do 61.<i>A produtora Musimix, da cantora Daniela Firme, está no local há três anos</i> ;Esse intercâmbio é uma das coisas mais legais do Porão. Lembro que nos anos 1990 era muito comum ver veteranos e novatos por aqui, conversando, armando shows;, conta Renato Glória, 40 anos, professor e dono da Só Batera.;Quando eu precisei encontrar um novo baixista para a minha banda, achei no estúdio ao lado;, lembra a cantora Daniela Firme, 27, vocalista da On the Rocks e proprietária da Musimix. ;Outra vantagem é que aqui é um dos poucos endereços onde você ainda pode ter um estúdio e não se preocupar em fazer barulho;, ela continua. Alexandre Braia, 28, dono do estúdio Degrauz, complementa dizendo que a camaradagem é regra entre os estúdios: ;Somos concorrentes, mas amigos, um ajuda o outro, seja emprestando algum equipamento, seja indicando o estúdio ao lado quando o seu está sem horário para ensaio;.

<i>Murilo Timo mora, ensaia e grava em seu estúdio</i>Dos estúdios particulares, dois são exclusivos. Em um deles ensaia a banda Surdodum e no outro, a Funk Blunt. No terceiro, o músico e funcionário público Murilo Timo reside, ensaia e grava seus projetos. ;Eu estava procurando onde morar e percebi que aqui tinha a conjuntura perfeita para o que eu precisava. O intercâmbio entre as pessoas que circulam aqui não é tão intenso quanto eu gostaria, mas existe uma sinergia, pois todos trabalham com arte;, explica.


Revitalização já
A convivência entre donos de estúdios é harmoniosa, mas não faltam reclamações deles quanto ao prédio. ;A estrutura é terrível. Não temos síndico. O sistema de esgoto fica embaixo da escada, o que atrai ratos, baratas e deixa mau cheiro;, reclama Daniela Firme. ;Estamos tendo que bancar as reformas na estrutura da sala porque a imobiliária não tem cumprido essa função;, conta Leandro ;Inseto; Moraes, 30 anos, diretor musical do Surdodum. ;Precisamos de uma revitalização total;, pede <i>O Sonar é um dos espaços mais antigos do Porão</i> Renato Glória. Ele explica que o prédio, de propriedade do grupo OK, de Luiz Estevão, não pode vender nenhuma das lojas por questões jurídicas. A imobiliária responsável também não têm interesse em locar mais imóveis dali para serem usados como estúdios. Muitos ex-estúdios hoje são depósitos, quitenetes ou pequenas empresas.

A solução para muitos foi sair do endereço. Caso do professor de bateria George Camargo, 33 anos, que tem há quatro anos o Big Drummer, no subsolo do bloco A da SCLN 107. O local já concentra sete estúdios de ensaio, fenômeno ;geográfico; parecido com o visto na quadra vizinha ; vale ressaltar que estúdios de ensaio estão espalhados pela cidade, mas é rara a concentração de vários deles em um único subsolo. ;Aqui, se melhorar mais um pouco, tem tudo para virar o novo Porão do Rock. Queríamos até chamar de Galeria do Rock;, conta. Será o começo de um nova história? Aguardemos.

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