O mundo não é o bastante para Julia Roberts. Aos 42 anos, uma das celebridades mais bem pagas de Hollywood anda preocupada com questões que nada têm de terrenas. ;Sempre fui uma pessoa muito mimada por meus amigos e pela minha família. Na minha próxima vida, quero ser mais tranquila e compreensiva;, comentou à revista Elle, em entrevista recente. Já pensando na próxima encarnação, simpatizou-se com o hinduísmo. Toda semana, vai ao templo para ;rezar, cantar e celebrar;, acompanhada do marido e dos três filhos. Uma transformação espiritual que não seria possível sem a interferência de um invento humano: o cinema.
A nova fase da atriz deve-se ao filme Comer, rezar, amar, que chega às telas brasileiras em 1; de outubro. Na adaptação das memórias de Elizabeth Gilbert ;que vendeu 4 milhões de unidades no mundo todo e ficou por 180 semanas na lista de best-sellers do The New York Times ;, Julia interpreta uma escritora recém-divorciada que abandona a rotina, faz as malas e embarca numa viagem sem destino definido. Na Itália, descobre os prazeres das lasanhas e pizzas. Em Bali, na Indonésia, se apaixona por um brasileiro chamado Felipe. Mas é no meio do caminho, em solo indiano, que a americana de Nova Jersey toma um banho de espiritualidade.
Inspirada na personagem do longa, coproduzido por Brad Pitt e dirigido por Ryan Murphy (da série Glee), Julia adotou mantras para balancear uma rotina de filmagens, entrevistas e compromissos familiares. Não à toa. A musa de comédias românticas como Uma linda mulher (1990) e Um lugar chamado Notting Hill (1999) vive o período mais sereno da carreira. Com uma fortuna estimada em US$ 140 milhões, toca os projetos que bem entende e (mais importante) com total controle da própria imagem. Proprietária de um pequeno estúdio ; o Red Om Films ; e contratada pela grife francesa de cosméticos Lancôme, ela está entre os nomes mais poderosos da indústria cinematográfica. Os 40 filmes em que atuou produziram, ao todo, uma bilheteria de US$ 2,4 bilhões.
O momento tranquilo reflete a maturidade de uma estrela que ; como poucas outras ; soube preservar a popularidade (e o prestígio) em um showbusiness cada vez mais implacável. ;A vida de celebridades é grotesca, como um circo. Não existe mais tempo para que se desenvolva uma carreira longa. Você faz um bom filme e pronto, está no topo;, observou à revista Vanity Fair. Sorte, no entanto, não foi um fator decisivo para a ascensão de Julia. Atenta às idas e vindas do mercado, soube planejar cada passo de uma trajetória que aliou sucessos de bilheteria com produções que testaram os talentos da intérprete. Os serviços prestados à indústria renderam um Oscar por Erin Brockovich, de 2000, e mais duas indicações (por Flores de aço e Uma linda mulher).
Holofotes
Julia Fiona Roberts entende o funcionamento da ;máquina de ilusões;. Nascida em uma família de atores e dramaturgos, ela aprendeu cedo a não ser chamuscada pelos holofotes. Eis a diferença: enquanto outras queridinhas da América se deslumbram com flashes de paparazzi, a atriz dribla as armadilhas da calçada da fama. Foi assim que, nos anos 1990, optou por trabalhar com cineastas como Woody Allen (Todos dizem eu te amo) e Robert Altman (O jogador). E, nos últimos anos, brincou com a imagem de estrela em fitas como Doze homens e um outro segredo (2004), em que interpreta uma trapaceira que se passa por; Julia Roberts. Isso sem abandonar a rotina de Miss Simpatia em comédias como O casamento do meu melhor amigo e Noiva em fuga. Ou desapegar-se de certos luxos: no set de Comer, rezar, amar, trocou de figurino 103 vezes.
Hoje, ela se encontra em condições de escolher papéis que condizem com o período em que está vivendo. Daí o novo filme, em que faz par romântico com o espanhol Javier Bardem, de Onde os fracos não têm vez. Casada com o cameraman Daniel Moder, com quem teve três filhos, ela defende uma meia-idade com rugas e sem botóx. ;É uma pena que vivamos numa sociedade tão paranoica e transtornada. As mulheres não se dão a chance de saber como elas se pareceriam numa idade mais avançada;, afirmou. Mas são detalhes que, segundo ela, não têm muita importância. E o resto? Apenas um punhado de (muitos) dólares.
O NÚMERO
US$ 140 milhões
Patrimônio da atriz
De Cinderela a mulherão
; Flores de aço (1989)
Nada de glamour. Ainda desconhecida do público, Julia interpretou Shelby Latcherie, uma mulher diabética que resolve não ouvir o conselho do médico e engravida. O filme reuniu atrizes como Sally Field e Shirley MacLaine, mas foi ela quem recebeu a indicação ao Oscar de coadjuvante.
; Uma linda mulher (1990)
Numa das comédias românticas mais populares dos anos 1990, Julia viveu uma história de Cinderela ; dentro e fora das telas. No longa, a prostituta desastrada conquista Richard Gere. Em Hollywood, a atriz se transforma em celebridade e recebe mais uma indicação à estatueta dourada.
; O Dossiê Pelicano (1993)
Cansada das comédias românticas e dos melodramas, Julia investe em um thriller inspirado em livro de John Grishan. Ao lado de Denzel Washington, convenceu como uma estudante de direito que descobre uma perigosa teia de conspiração política.
; Um lugar chamado Notting Hill (1999)
De volta ao playground das comédias românticas, mas com uma novidade: na produção britânica, faz graça da própria condição de celebridade interpretando uma atriz de sucesso que começa a namorar um zé-ninguém (interpretado por Hugh Grant). Virou fenômeno de bilheteria.
; Erin Brockovich (2000)
Demorou, mas chegou. Pelo papel de uma mulher desempregada, que se revolta contra uma grande corporação, Julia levou o Oscar de melhor atriz. E iniciou a parceria com o diretor Steven Soderbergh (Onze homens e um segredo). A partir daí, a atriz seria associada a personagens duras na queda.
Veja a filmografia completa de Julia Roberts
; Firehouse (1987)
; Sangue da terra (1988)
; Três mulheres, três amores (1988)
; No amor e no rock (1988)
; Flores de aço (1989)
; Linha mortal (1990)
; Uma linda mulher (1990)
; Hook, a volta do Capitão Gancho (1991)
; Tudo por amor (1991)
; Dormindo com o inimigo (1991)
; O jogador (1992)
; O dossiê Pelicano (1993)
; Prêt-à-Porter (1994)
; Adoro problemas (1994)
; O poder do amor (1995)
; Todos dizem eu te amo (1996)
; Michael Collins (1996)
; Mary Reilly (1996)
; Teoria da conspiração (1997)
; O casamento do meu melhor amigo (1997)
; Lado a lado (1998)
; Noiva em fuga (1999)
; Um lugar chamado Notting Hill (1999)
; Erin Brockovich (2000)
; Onze homens e um segredo (2001)
; Os queridinhos da América (2001)
; A mexicana (2001)
; Confissões de uma mente perigosa (2002)
; O grande campeão (2002)
; Full frontal (2002)
; O sorriso da Mona Lisa (2003)
; Doze homens e outro segredo (2004)
; Closer ; Perto demais (2004)
; A menina e o porquinho (2006)
; Balsan, three days in september (2006)
; Lucas, um intruso no formigueiro (2006)
; Jogos do poder (2007)
; Um segredo entre nós (2008)
; Duplicidade (2009)
; Idas e vindas do amor (2010)
; Comer, rezar, amar (2010)