postado em 23/08/2010 08:12
Durante várias décadas, Adauto Novaes organizou ciclos de conferências em torno do tema crise. Há quatro anos, o jornalista e escritor percebeu que o caminho do pensamento seguia outra direção e iniciou o projeto Mutações. "O que se percebe é que houve uma mudança no status das ideias, do trabalho, dos ideais políticos", afirma ele, que em 2000 fundou a produtora cultural Artepensamento. Hoje, começa a edição brasiliense, com o título Mutações: a invenção das crenças. Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte são as outras cidades que estão recebendo as 14 conferências, que se propõem a tratar das crenças além do sentido religioso. Quem abre o projeto é o compositor e ensaísta José Miguel Wisnik, com a palestra Crença no Espelho, em que confrontará, no Átrio dos Vitrais da Caixa Cultural, as visões abordadas por Machado de Assis e Guimarães Rosa em contos homonimamente chamados O espelho.Novaes, que idealizou e dirige o projeto, assinala que as crenças podem ser divididas em dois tipos. As passivas são aquelas que o ser humano recebe sem agir sobre elas, o que engloba as próprias religiões, os dogmas e as superstições. Já as ditas crenças ativas são a filosofia, a arte, a política, ou seja, todas aquelas em que há uma ingerência, uma iniciativa das pessoas. "Um dos pontos centrais é, por exemplo, a crença na ciência e na tecnologia, a esperança de que elas terão a capacidade de desvendar todos os mistérios do mundo", exemplifica.
Assim como nas edições anteriores - Novas configurações do mundo, de 2007; A condição humana, no ano seguinte; e, em 2009, A experiência do pensamento -; o fio condutor de Mutações se baseia em três eixos: o tecnocientífico, o biotecnológico e o da informação. Cada ciclo anual resulta em um livro, lançado no fim do evento seguinte. Em 2010, segundo Novaes, também está sendo produzido um documentário, previsto para ser apresentado na TV Brasil.
Cada ciclo começa a ser pensado com um ano de antecedência. Adauto Novaes envia um pequeno texto com o que imagina para o projeto a cada conferencista, que deve elaborar uma sinopse. Com o tema devidamente apresentado, os conferencistas ficam responsáveis por elaborar uma sinopse. O grupo se reúne por três dias na cidade de Tiradentes (MG), para discutir o tema geral e as abordagens específicas propostas por cada orador. "Na era dos especialistas, buscamos a interdisciplinaridade", resume o organizador.
O time inclui, além de Wisnik, o jornalista Eugênio Bucci, o poeta Antonio Cicero e o filósofo Franklin Leopoldo e Silva, professor da USP, responsável pela palestra de amanhã. "Mantenho um diálogo permanente com o grupo que vem acompanhando o projeto. Não existe um elenco de pessoas constantemente reunido em torno do pensamento, isso é novidade no Brasil", afirma.
Apesar das mais de 20 apresentações, Novaes acredita que o tema não se esgota. "Há muito mais nuances do que a gente consegue abordar. Tentamos exatamente levantar a questão de estar vivendo entre dois mundos. Um que não acabou, regido por normas morais e éticas rígidas, e outro que ainda não começou, sob novas formas de organização política e de se pensar a ética", conclui Novaes.
A INVENÇÃO DAS CRENÇAS
Ciclo de conferências Mutações: a invenção das crenças. Hoje, às 19h, José Miguel Wisnik, com o tema A crença no espelho. Caixa Cultural, Átrio dos Vitrais (SBS, quadra 4, lotes 3 e 4, térreo; informações pelos telefones 3206-9448, Caixa Cultural, e 2109-5854 e 2109-5855, Cespe/UnB). Inscrições para o ciclo, que vale como curso de extensão com certificado: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (estudantes, professores e idosos).