Nahima Maciel
postado em 29/08/2010 15:54
Henri Cartier-Bresson desenvolveu um método muito simples para classificar seus filmes: cada rolo era marcado com um número. O primeiro rolo ganhou o dígito um na Ásia, no fim dos anos 1940. Em 1976, o fotógrafo chegou ao rolo 14 mil, o que significa um total de meio milhão de fotos. Graças à organização de Cartier-Bresson, o curador Peter Galassi, responsável pelo departamento de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), conseguiu chegar às imagens de O século moderno. A exposição esteve em cartaz até junho com imagens garimpadas pelo curador no acervo da Fundação Henri Cartier-Bresson e ganhou edição em livro realizado pela CosacNaify e pelo MoMA.
Livro e exposição percorrem todo o período de atividade do fotógrafo. São imagens realizadas ao longo das viagens destinadas às coberturas de fatos e momentos históricos na Ásia, no Oriente, na Europa e nos Estados Unidos. Cartier-Bresson foi um dos fundadores da Magnum ao lado de Robert Capa, George Rodger e David Seymour. Em 1947, ávidos por independência e devotos do aprimoramento da linguagem fotojornalística, um grupo de fotógrafos fundou a agência que se tornaria o mais importante berço do fotojornalismo do século 20. A ausência de patrão e de editor permitia ao grupo deslocamentos e escolhas independentes. O material era vendido para as grandes revistas ilustradas que começavam a esquentar o mercado editorial por todo o planeta.
Grande parte das imagens de O século moderno acabou publicada em formato de longas reportagens em revistas e jornais. "Em muitos casos, as imagens eram reveladas para um projeto específico ou uma reportagem encomendada, e a escolha dos negativos nem sempre era feita pelo próprio Cartier-Bresson. Durante sua carreira, ele sempre esteve mais interessado na próxima localidade que iria visitar do que nas imagens recém-captadas. Em outras palavras, estamos agora em um processo de descobrir que a obra deste grande fotógrafo é muito mais rica e extensa do que imaginamos", explica Galassi, em entrevista por e-mail. "A coleção da Fundação Henri Cartier-Bresson acumulou ricamente o produto de uma longa carreira que ninguém, nem mesmo Cartier-Bresson, revisou ou estudou sistematicamente."
A fundação costuma organizar exposições temáticas com pequenos lotes de fotografias realizadas em determinada época ou sobre aspectos históricos específicos, o que não é difícil na obra do fotógrafo. Poucos estiveram no lugar certo e na hora certa como Cartier-Bresson. Ele foi o último a entrevistar e fotografar Mahatma Gandhi vivo, entrou na ex-União Soviética e registrou o cotidiano de um país comunista quando as únicas imagens que atravessavam as fronteiras eram as cenas oficiais da propaganda socialista, visitou a China em plena revolução e acompanhou a chegada do Partido Comunista ao poder.
A exposição do MoMA e o livro recém-publicado querem ir além e oferecer um panorama completo da trajetória do fotógrafo francês, morto em 2004 aos 95 anos. "Temos um propósito diferente do que tem sido feito. Queremos sobrevoar a carreira completa, desde o início até o fim, tentando dar sentido a este complexo conjunto de imagens", avisa Galassi. "Claro, é impossível conhecer o mundo inteiro e todas as suas diferentes culturas, histórias e pessoas. E Cartier-Bresson nunca pretendeu conhecer o mundo inteiro - ele odiava pretensões acadêmicas e profissionais de qualquer tipo. Mas o grande alento de seu trabalho vem de uma vasta curiosidade, além do enorme prazer que as imagens nos proporcionam. O desafio para nós está em reconhecer, engajar, celebrar e explorar a diversidade da cultura humana em todo o planeta."
Henri Cartier-Bresson - O século moderno
Organizado por Peter Galassi.
MoMA e CosacNaify, 376 páginas.
Preço médio R$ 185.