Diversão e Arte

Virada Cultural só conseguiu atrair um público de mil pessoas à Esplanada

Irlam Rocha Lima
postado em 30/08/2010 08:20
Mal planejada, realizada às pressas, a Virada Cultural Distrital, promovida pela Secretaria de Cultura, no fim de semana, foi um fiasco. Diferentemente do evento em São Paulo - tomado como referência - que, desde 2005, reúne algo em torno de 1 milhão de pessoas por edição, o brasiliense contou com a participação de público irrisório, numericamente, frustrando as otimistas expectativas dos organizadores. A banda carioca Blitz tocou para uma plateia pequenaSegundo informações de bastidores, foram gastos R$ 1,5 milhão para pagamento dos cachês de artistas e a montagem de estruturas dos shows que ocorreram na Esplanada dos Ministérios, Guará, Santa Maria, Brazlândia, Fercal e Sobradinho. Iniciada na sexta-feira, às 18h, a Virada prosseguiu até o começo da madrugada de hoje. Estavam programados shows de Marcelo D2, Nando Reis, Latino e Raimundos, entre outros. Para se ter ideia, no sábado, às 19h, na apresentação da cantora pop Eliane Leite (a segunda a cantar no sábado), no palco instalado em área à frente da Sala Martins Pena do Teatro Nacional, havia pouco mais de 50 espectadores. A platéia continuou diminuta até as 21h, quando do show da banda candanga de rock Besouro de Rabo Branco, que, a pedido da produção, tocou além do tempo destinado a ela, porque a principal atração da noite, a carioca Blitz demorou a surgir em cena. "É um desrespeito com o brasiliense promover um evento como esse, de nome pretensioso, praticamente sem divulgação, estrutura precária e num lugar como esse, com chão de barro de onde sobe poeira. Que Virada Cultural é essa que só contempla algumas cidades, ao contrário da de São Paulo que é bem abrangente?", questionou em tom de reclamação o artista plástico Jailson Dantas, morador do Gama. Maratona de shows Se no começo da noite, o público se mostrou indiferente aos primeiros shows, a partir da apresentação do quinteto Na Lata, a resposta dos presentes ficou mais animada - até porque o número de pessoas começou a aumentar depois das 20h. "Faltou para o evento o pacote completo. Tivemos uma boa estrutura de som, palco e recebemos cachê, mas não rolou a divulgação para o público", comentou Juliano Corrêa, guitarrista da banda Na Lata. Fãs do grupo - cujo som tem elementos de rock pesado, hip hop e eletrônica -, as amigas Ludmila Moura, 17 anos, e Ana Carolina Reis, 15, levaram um cartaz para homenagear os ídolos. "Quando soubemos do show, tentamos avisar o máximo de pessoas possível pela internet e para os nossos colegas na escola", contou Ludmila. "Mas a confirmação do evento foi muito em cima da hora mesmo, não deu para fazer muita coisa", acrescenta Ana Carolina. Banda frequentadora no circuito de boates, a Faluja mostrou desenvoltura de palco. No repertório, algumas composições próprias e muitos covers, para músicas do Jota Quest, O Rappa, Michael Jackson e Barão Vermelho. A frente da banda Besouro do Rabo Branco, o performático vocalista Gabriel Costa cantou músicas do disco de estreia do quarteto (lançado ano passado). O set list ainda contou com composições de Tião Carreiro (Nós, conhecida na voz de Cássia Eller), Sidney Magal, Beatles, Jorge Ben e Barão Vermelho. Diante de uma público que se avolumava, a apresentação teve boa acolhida da plateia. "Para mim, mais interessante até do que o cachê seria ter a Esplanada cheia. Pois o que as bandas independentes querem é divulgar o seu trabalho para mais pessoas", disse Gabriel. Liderado pelo eterno "menino do Rio" Evandro Mesquita, a Blitz que em outros tempos - à epoca do estouro de Você não soube me amar - chegou a lotar o Ginásio Nilson Nelson, foi vista por apenas 1 mil pessoas. No show - marcado para as 20h, só foi começar às 22h30 -, o vocalista e seus companheiros não decepcionaram os fãs que os aguardavam pacientemente. "Venho a Brasília desde o tempo do Asdrubal Trouxe o Trombone. Gosto muito da cidade e do rock de suas bandas do underground", afirmou Evandro Mesquita no camarim, antes de subir ao palco. Clássicos da banda como Betty frígida, Biquini de bolinha amarelinha, Geme geme, Weekend, A dois passos do paraíso (com direito a citação One love e Stir it up, de Bob Marley), fizeram parte do revival. Mescla de ritmos A elas se juntaram hits de contemporâneos da Blitz, como Óculos (Paralamas do Sucesso), Sonífera ilha (Titãs), Beth Balanço (Barão Vemelho) e Perdidos na selva (Gang 90 & As Absurdetes) que entusiasmaram o público. Do DVD Skut Blitz, lançado no final de 2009, ouviu-se as inéditas Voo cego e Zero absoluto, parcerias de Evandro com John Ulhôa (Pato Fu) e Leoni, respectivamente. Depois da Blitz, a noite continuou com a mescla de ritmos regionais promovida pelo grupo Pé de Cerrado, e pela cantora Myrlla Muniz e com o axé das bandas baianas A Xerife e Via Circular.

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