Nahima Maciel
postado em 01/09/2010 07:00
A arte como suporte sustentável de toda a cultura humana perpassa os 120 objetos reunidos pelo curador e artista Luiz Galvão em O exercício do olhar, em cartaz a partir de hoje na Galeria do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Habituado a esculpir a madeira e preocupado sempre refletir sobre a permanência da cultura e do meio ambiente no Brasil, Galvão reuniu 10 artistas cujo trabalho orienta em seu próprio ateliê para contar como a arte está intimamente ligada ao conceito de preservação e projeção do conhecimento humano.Cerâmica, tecido, escultura, pintura, pouco importa o suporte. ;O que se está buscando é demonstrar a sustentabilidade que sempre foi uma função da arte. A ciência é que se apropriou desse termo. Quando o homem fez os primeiros desenhos na caverna, estava preservando o seu meio e o ambiente. A função da arte é preservar a cultura e aí reside a sustentabilidade;, garante o artista, também curador da mostra. ;Manejo florestal é uma coisa insignificante. Quero ver é fazer sustentabilidade na arte.;
Arquiteto de formação, Galvão tem longo histórico no trabalho com comunidades do Amazonas. Há 10 anos, o artista compra, regularmente, peças de artesanato de 150 famílias indígenas e ribeirinhas das regiões dos rios Negro e Amazonas. Os objetos são transformados em obras de arte e exportados para seis países europeus. As encomendas regulares criaram um mercado para escoar a produção das comunidades. ;Meu trabalho começa onde termina o deles. É (um trabalho) de agregar duas culturas. O produto final agrega a tradição indígena com a cultura ocidental;, explica Galvão. A mistura de referências é detalhe presente em todas as peças de O exercício do olhar.
Arranjos
A cerâmica é o suporte de Juliana Sato. Lamparinas esmaltadas cujas hastes lembram ikebana materializam um jogo de luz a sombra tão efêmero quanto a planta dos arranjos orientais. Nos móbiles, a artista utiliza os mesmos materiais, sempre mesclados ao fio de cobre e objetos resgatados em antiquários ou brechós. Nessa combinação, Juliana encontra a sustentabilidade pregada por Galvão. ;Ikebana faz parte da minha cultura e o trabalho é um conjunto que representa a minha vivência;, explica a artista, filha de ceramista e descendente de japoneses.
A recuperação de objetos descartados também serve de base para as esculturas de Ana Leyla Ferreira. O grafismo dos galhos secos recolhidos cerrado afora e retrabalhados pela artista ganham ares de alegria e servem de metáfora para a necessidade de preservação e reciclagem. ;Acho a natureza de Brasília superbacana e queria que ela estivesse no meu trabalho, que é o de transformar o que as pessoas e a natureza descartam. Muitas pessoas não enxergam a beleza daquilo e tenho que transformar para que elas vejam;, diz. A leveza está presente nas bonecas de Renata de Sordi, pequenas esculturas pescadas nas lembranças de uma infância passada entre costureiras, a nas cabaças utilizadas por Ângela Lavinas. Pinturas, estampas em tecidos e colagens, desenhos são as linguagens escolhidas pelos outros sete artistas que integram a exposição.
O EXERCÍCIO DO OLHAR
Exposição de Ana Leyla Ferreira, Juliana Sato, Renata de Sordi, Bete Costa, Abiacy Fradique, Alves Carneiro, Raquel Braga, Claudia Azeredo, Ângela Lavinas, Luiz Galvão, Alice Botelho e Rosália Vasques Silva. Visitação até 24 de setembro, de segunda a sexta, das 9h às 19h, na Galeria do Superior Tribunal de Justiça (STJ).