Luciano Marques
Especial para o Correio
No Brasil, ser um famoso jogador de futebol, ator de uma grande emissora ou escritor é quase tão difícil quanto acertar numa loteria. O primeiro e o segundo fatalmente vão chegar lá se tiverem talento e um bom empresário, que conseguirá testes com os presidentes de clubes e os diretores de TV. O terceiro geralmente bate de porta em porta esperando que um dia seu livro seja publicado. E desiste sem nem mesmo saber que concorre com outras centenas de originais (cópias de livros ainda não publicados) que chegam à mesa do departamento editorial todos os anos. Pois saiba que há um profissional que pode lhe ajudar a ``furar a fila`` e colocar sua obra no mercado: o agente literário. É ele quem vai convencer o editor de que aquilo que você escreveu merece estar na prateleira de uma livraria.
Muitos sonham em editar pelo menos um livro na vida, e buscam seu espaço por conta própria, mas esbarram no maior problema do mercado editorial brasileiro: a falta de estrutura. As editoras recebem, por ano, centenas de obras para avaliação. Com um número reduzido de funcionários, muitas oportunidades se perdem ou passam despercebidas no meio das pilhas de livros que chegam pelos Correios. Geralmente, as obras que vão direto para a mesa do editor foram indicadas por agentes literários.
A profissão ainda engatinha no Brasil, mas no mercado internacional (principalmente nos Estados Unidos), editoras dificilmente publicam o livro de alguém que não é representado profissionalmente. O agente faz praticamente o mesmo trabalho que a editora: peneira o que há de melhor no mercado e seleciona apenas o que tem chance de ser publicado. ``Os representantes dos autores levam a obra diretamente ao dono da editora, ao editor ou ao chefe do departamento editorial, ou seja, às pessoas que decidem o que vai ou não para o mercado. E eles sabem que estão recebendo um bom material, um original que foi avaliado como promissor``, aponta o agente Andrey do Amaral. ``Os editores sabem que aquele livro entregue por um agente já passou por uma peneira, por um processo criterioso de análise e seleção``, completa o brasiliense e também autor de Mercado Editorial.
O motivo desse privilégio? Conhecimento de mercado e um bom networking. Os agentes não representam qualquer escritor. Mesmo que este pague rios de dinheiro. Esses profissionais recebem os candidatos, cobram pela análise inicial da obra e, se ela realmente tiver algum valor de mercado, aceitam agenciá-lo. ``Muitas pessoas pedem agenciamento, mas quando seu livro não tem uma mínima chance de dar certo, dificilmente um agente irá apresentá-lo em uma editora. Se ele faz isso, perde a credibilidade com o editor e, numa tentativa futura, pode ter um best-seller na mão que não será recebido``, explica Andrey.
Além de uma extensa rede de contatos, o agente literário possui um conhecimento de mercado que o autor não tem. Cada editora trabalha com um tipo de livro e uma simples abordagem equivocada pode colocar tudo por água abaixo. ``O agente sabe que aquele livro tem potencial para ser publicado nessa ou naquela editora. Ele tem uma noção clara do que o mercado absorve. É a história do livro certo, no momento certo e para a editora certa``, pontua Alessandra Pires, da agência O agente literário, de São Paulo. ``Nós fazemos a ponte entre o autor e a editora. Ou seja, ele é representado por um profissional que busca a editora adequada aos perfis da obra e do autor. Alguns agentes sabem, inclusive, que tipo de publicação esse ou aquele editor está procurando.``
Assim como o empresário do ramo artístico, que gerencia a carreira do cantor ou ator, o agente cuida dos interesses do escritor. Além de oferecer melhores chances de publicação, zela pela questão burocrática ; vendagem, pagamento de direitos autorais e assessoria jurídica ; e trata de encaminhar as demais produções, aquelas que vão levar o autor a construir sua carreira literária.