postado em 05/09/2010 08:45
Um palco, uma plateia, nenhum personagem. Assim, de cara limpa ; ou melhor, de blush, rímel e batom ; atrizes e roteiristas desbravam o ainda masculino (e, muitas vezes, machista) território das comédias stand up. Pioneira, a paranaense Marcela Leal está nos palcos há apenas cinco anos no meio. Depois dela, Dani Calabresa, Carol Zoccoli, Andrea Barretto, Larissa Câmara, Criss Paiva são algumas das comediantes na faixa dos 30 anos de idade que conquistam o público sedento por risadas em teatros, bares e eventos empresariais Brasil afora.
O gênero, nascido nos Estados Unidos, virou uma febre nos últimos anos e revelou humoristas que foram parar na TV (Marcelo Adnet, da MTV; Rafinha Bastos, Danilo Gentilli e Oscar Filho, do CQC, da Band, são alguns famosos que fizeram ou fazem espetáculos de stand up). Da matriz americana, o comediante mais conhecido por aqui é Jerry Seinfeld. Foi ao assisti-lo que Marcela Leal, uma das mais bem-sucedidas representantes da atual geração stand up ,descobriu que rumo queria dar à carreira. ;Fazia um curso de roteiro de humor para TV, com o Claudio Torres Gonzaga (do grupo carioca Comédia em pé), quando ele me mostrou o Seinfeld. Pirei. Vi que era um humor muito sintético, mais interessante que o de personagens. Gosto de desafios;, conta Marcela.
A atriz e roteirista faz, em média, 25 espetáculos mensais, incluídos seu solo, Tirando do sério (há três anos em cartaz e atualmente viajando pelo Brasil), o semanal Clube da comédia (ao lado de Marcelo Mansfield, Oscar Filho e Danilo Gentili), no Teatro Procópio Ferreira, e a Seleção do humor, às sextas-feiras e sábados, no Teatro Folha, ambos em São Paulo. Antes disso, Marcela escrevia para o também paulistano Terça insana, criado e dirigido por Grace Gianoukas. Em sua nona temporada, o espetáculo é composto por esquetes e, embora não se encaixe no perfil de stand up comedy, inspirou alguns atores-autores a seguir esse caminho.
Para Grace, o sucesso das atrizes e roteiristas nesse gênero de humor é um processo natural de conquista de territórios naturalmente machistas ; o que, lembra, vem ocorrendo em todo o mercado de trabalho: ;As mulheres estão mais seguras, sacando o seu poder no sentido de parar de acreditar que não têm capacidade. Em qualquer empresa, uma executiva ainda ganha, em média, 30% menos que um homem na mesma função;.
Para Danilo Gentili, o que importa é ser engraçado, independentemente do sexo. Ele, que começou no stand up pelas mãos de Marcela, acredita que talento se mostra no palco. ;Se a mulher for autêntica, ela vai se dar bem. Elas estão percebendo que é um humor de alta aceitação. O que pode atrapalhar é a vaidade, porque o que tem potencial para fazer rir é o que dá errado. Elas não gostam de falar que engordaram ou que o namorado as chifrou;, observa.
Adriana Nunes, da Cia. de Comédia Melhores do Mundo, lembra que humoristas, em geral, já sofrem preconceito no meio teatral. Fã de stand up, ela afirma não ter nenhuma vocação para trilhar o gênero. ;Acho louvável que a presença delas esteja crescendo. As histórias femininas são muito engraçadas, quando vejo me divirto. Mas tem uma coisa da cara limpa que não é a minha praia. Gosto de botar peruca, maquiagem, figurino;, comenta.
Nada de piada pronta
Stand up comedy é o gênero de apresentação traduzido literalmente como ;comédia em pé;, o stand up, mais do que isso, é a comédia de opinião. Sua principal característica é a crítica de si mesmo, social e política. Os atores fazem a performance a partir de texto próprio, sem uso de cenário, figurino nem personagens. Piadas prontas ferem os princípios do gênero. No palco, primeiro é necessário que o comediante crie empatia com o público, ganhando sua confiança, e só depois entre na crítica social. Acreditar no que se está dizendo e divertir-se com o que fala é fundamental para que a plateia faça o mesmo. Por isso, os adeptos do stand up costumam escolher assuntos sérios e pessoais.
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