postado em 07/09/2010 11:08
Diana Krall nasceu no Canadá, gosta de dias chuvosos e não tem muita intimidade com palavras em português. Mas, ainda que todos esses fatores indiquem o contrário, mantém um romance duradouro com as melodias calorosas da bossa nova. E não é recente. O flerte começou na infância, quando a menina da voz macia se encantou por um disco do Sergio Mendes Trio que repousava na coleção de discos do pai. Aos 15 anos, interpretou Garota de Ipanema e Corcovado no colégio, em aulas de piano. "A música brasileira foi tão importante para a minha educação jazzística quanto Charlie Parker e outros mestres. A bossa nova faz parte da linguagem do jazz", define a cantora, de 45 anos, em entrevista por telefone ao Correio.
O affair sonoro sempre se deu de forma intensa, assumida. Mas Diana só oficializou o "caso" há um ano, quando lançou o disco Quiet nights. Com a bênção do arranjador alemão Claus Ogerman - que trabalhou com Tom Jobim e colaborou em Amoroso (1977), de João Gilberto, um dos favoritos da musa -, criou um álbum para se ouvir "deitado com o seu amante na cama, sussurrando as canções no ouvido". Um brinde à sensualidade, aos laços do casamento (com o roqueiro Elvis Costello), à família. E, não menos importante, ao Brasil. "O que mais me atrai na bossa nova é o sentimento", ela resume, e faz uma pausa longa, dramática, antes de completar o raciocínio. "É algo diferente de tudo o que ouvi na minha vida", observa.
Ela admite que gravar o disco - todo ele fervido por sussurros "gilberteanos" - exigiu uma certa dose de coragem. Mas a grande responsabilidade apareceu depois, quando, ainda em 2009, Diana veio ao Brasil para gravar um DVD no Rio de Janeiro. Como interpretar bossa nova no país que criou o gênero? É esse o desafio que ela volta a enfrentar neste mês, quando se apresenta em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília, no dia 18, no Teatro Oi. "Cantar bossa nova no Brasil pode ser intimidante. Mas acontece o mesmo com o jazz. Interpretei para Oscar Peterson, com Ray Brown, com músicos que praticamente ajudaram a inventar essa forma de arte. O que você acha disso? Foi estranho", enfatiza. "O ideal, para mim, é transformar intimidação em inspiração", ensina.
Aos que cobram autenticidade e um longo currículo de serviços prestados à canção brasileira, Diana não é de firulas. "Tal como os brasileiros, eu também ouço essas canções desde pequena. Eu sou totalmente honesta com o meu público. Eu chego e digo: oi, sou do Canadá, gosto de bossa nova, espero que vocês gostem do meu som. E é isso", conta. Parece fácil. Mas levou tempo - e deu trabalho - para criar a atmosfera enfumaçada que envolve interpretações de So nice, de Marcos Valle (com letra em inglês de Norman Gimble), Este seu olhar, de Jobim, Garota de Ipanema e Quiet nights (versão em inglês para Corcovado), que entraram no disco mais recente. "Mas não é complicado levar essa atmosfera de intimismo para o palco. Não é. O disco é o que eu sou. Não sou uma pessoa técnica. Meu trabalho é criar um clima, um sentimento", sublinha.
"Design"
Existe, de fato, leveza na forma como Diana degusta o tema. A entrevista cumpre os rituais das celebridades da música - dura 10 minutos e exclui questões que não digam respeito ao show e ao álbum -, mas a cantora cria imediatamente um tom simpático, de conversa fiada. Especialmente, mostra curiosidade sobre Brasília, onde se apresentou há cinco anos para um público de 1,5 mil fãs. Quer saber onde fica a Catedral e o "Planalto%u2019s Palace" (Palácio do Planalto). Admira Oscar Niemeyer. "Brasília é a cidade do design, é uma cidade 'cool', um dos lugares mais impressionantes que conheci, um dos meus lugares preferidos", derrama-se. "Da outra vez que estive aí, só consegui ver a paisagem pela janela do hotel. Agora quero tirar um dia para caminhar", avisa.
Mais do que o interesse pela arquitetura brasiliense, Diana quer trocar impressões com músicos do país. Quando gravou o DVD no Rio de Janeiro, escalou uma banda de instrumentistas brasileiros, jovens. Ficou emocionada com o resultado. "Os músicos mergulharam no show. Foi uma das melhores noites da minha vida. Ainda não consegui assistir ao DVD e não quero. Prefiro deixar aquelas imagens guardadas na minha lembrança da forma como eu vi", revela. E pede licença para cuidar dos filhos, os gêmeos Dexter e Frank, que fazem bagunça durante a entrevista. "Quando toquei em Brasília, os meninos não tinham nascido. Eles estão quase fazendo quatro anos. É muito tempo. Mas lembro tudo, e foi uma noite especial", conta.
DIANA KRALL EM BRASÍLIA
18 de setembro, às 21h, no Teatro Oi Brasília (SHTN trecho 1, lote 1-B, bloco C ). Ingressos a R$ 600 (inteira, setor VIP) e R$ 100 (inteira, cadeira extra), à venda nos sites www.teatrooibrasilia.com.br e www.ingresso.com, na bilheteria do teatro (de terça a sábado, das 13h às 19h) e por telefone (4003-2330). Não recomendado para menores de 16 anos.