Diversão e Arte

Não interessa o material, o grupo Stomp gosta mesmo é de fazer festa

postado em 10/09/2010 07:57 / atualizado em 03/11/2020 10:53

Junte vassouras, latas de lixo, caixas de fósforo, folhas de jornal, pneus de trator e, em vez de uma montanha de entulho, você terá instrumentos musicais de primeira. Essa é a proposta do grupo britânico de percussão Stomp (1), que contabiliza 19 anos de estrada e já impressionou espectadores de mais de 35 países. Em turnê por cinco capitais brasileiras, eles encerram a temporada em solo brasiliense, onde pisam pela primeira vez. De hoje a domingo, os espectadores conhecerão a performance vigorosa de artistas que investem na seguinte máxima: qualquer objeto suscetível ao toque certeiro produz música, e música das boas. Com A base da performance será a mesma que corre o mundo desde a década de 1990: oito integrantes do grupo desenvolvem uma coreografia frenética e sincronizada, tirando sons variados de tampas de panela, galões de plástico, canos cortados em diferentes comprimentos, boias e até isqueiros. Não há espaço para instrumentos convencionais. Uma busca pela internet revela que o grupo também investe em performances urbanas, situações em que transforma conteiners de lixo e até bolas de basquete em parte da batida rítmica. Entre eles, brilha o baiano Marivaldo dos Santos, 37 anos, porte atlético, sorriso farto e dreadlocks de impressionar. Único integrante brasileiro, ele entrou para o elenco da companhia em 1997. Criado no coração da baianidade, entre rodas de capoeira e a bateria da escola de samba Diploma de Amaralina, o músico parece talhado à perfeição para o grupo. Desde que passou a fazer parte do time, já se apresentou três vezes no Brasil. ;Percebo uma animação maior por parte da plateia. As pessoas começam a conhecer o show. Nos anos 1990, aquilo, provavelmente, era muito estranho;, destaca o artista, que conduz carreira paralela como produtor. Um de seus últimos trabalhos é o álbum novo da cantora Daniela Mercury. A cada semana, a trupe precisa de: 288 litros de água / 30 vassouras / 40 jornais/ 20 baquetas / 12 caixas de fósforo / 10 mastros de madeira / 10 quilos de areia / 10 tampas de latões de lixo / 10 botinhas / 7 latas de lixo / 5 rolos de fita adesiva / 4 cabos de martelo / 4 caixas de lenços / 3 canetas / 2 rolos de ataduras / 2 galões de tinta / 1 pacote de giz / 1 lata de lixo com pedal / 1 fita métricaSegundo ele, mesmo quem já viu o espetáculo em algum outro lugar encontrará novidades e surpresas: dois novos números foram incluídos na turnê. Um deles é Paint Cans, performance feita com latas de tinta, e justamente a que mais deu trabalho para ser assimilada. Marivaldo conta que a sincronia precisa ser perfeita. ;Existe um tempo certo para fazer a música, se movimentar e jogar a lata para o outro. No começo, quando estávamos aprendendo, levei três ou quatro latadas na cara. Até sangrou;, admite. Outra criação da dupla responsável pelas coreografias, Luke Cresswell e Steve Mac Nicholas, é Donuts. Neste número, cordas elásticas sustentam câmaras de pneus ao redor da cintura dos performers e todos os objetos acabam entrando na ciranda sonora. Passagens já conhecidas da plateia ganharam roupagem mais moderna. É o caso do quadro Boxes e de Bins, a sequência de batucadas nas latas de lixo que ganhou aprimoramentos. Depois de anos de tentativas, finalmente os criadores do espetáculo conseguiram reproduzir com fidelidade o som do guiro, uma espécie de reco-reco inventado na América Central, usando embalagens recicláveis de lâmpadas fluorescentes. As novidades, no entanto, não afastaram a estética urbana do espetáculo. Posições Na passagem por terras brasileiras, Marivaldo foi alçado ao posto de comandante do espetáculo. ;É o cara que está o tempo todo interagindo com o público, puxando as palmas, fazendo coisas engraçadas. Mas existe aquele que é o palhaço, faz tudo errado, e há o supermusical, que faz os movimentos mais intensos. Cada um tem uma função e se destaca em algum momento;, explica. Meia hora antes de as portas do teatro se abrirem, os integrantes da trupe exploram o palco, para marcar posições, treinar as inversões de papel e aquecer o corpo para a maratona. Na hora de manter a forma a longo prazo, cada um escolhe o próprio exercício. O brasileiro mantém a silhueta em dia com abdominais e alongamentos. Os pés, duramente exigidos durante as apresentações, recebem atenção especial. Antes de guardá-los na botina que extrai som do tablado do palco, ele calça quatro meias grossas e pisa sobre três palmilhas, além de um protetor de calcanhar. Em cada cidade por onde passa, a companhia contrata um massagista local. O sucesso veio em avalanche e o Stomp precisou se multiplicar para dar conta dos compromissos ao redor do globo. Hoje, quatro grupos diferentes executam o mesmo show. Dois cumprem temporadas fixas em Nova York e Londres, e os outros dois rodam por Europa, Ásia e América. Integrante do grupo que fixou residência na Big Apple, Marivaldo foi convidado a matar as saudades da América Latina. Metade do time selecionado para vir ao Brasil foi treinado pelo baiano. Juntos, eles têm se esbaldado por onde passam. ;Em Curitiba, fomos a um bar de samba e acabamos subindo no palco para tocar;, diverte-se. 1 - Batida do coração Stomp não tem palavras ; todos podem entender. Há pouca ou nenhuma melodia no sentido tradicional. Por isso, não importa se seu estilo favorito é jazz, música clássica, dance ou pop. Stomp é ritmo, comum a todas as culturas. Todos sabem o que é ritmo, apenas pelo batimento dos próprios corações ; a base de toda música. TRABALHO EDUCATIVO Além de impressionar plateias mundo afora, o Stomp se dedica a ações educativas e de inclusão. Em 2007, a trupe desenvolveu um workshop para internos da prisão Bullingdon, na Inglaterra. O trabalho costuma durar de três a quatro semanas e envolve o despertar gradual da noção de ritmo, a exploração de tempos e compassos musicais, coordenação motora, habilidade auditivas, verbais, noções de espaço e capacidade de trabalho coletivo. No fim da oficina, os alunos fazem uma apresentação para as famílias. A companhia também organiza workshops em escolas. Stomp Apresentação do grupo britânico. De hoje a domingo, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro. Hoje e amanhã, às 21h30; domingo, às 16h e às 20h. Ingressos: hoje (R$ 200 e R$ 100, meia); amanhã (R$ 240 e R$ 120, meia); domingo, às 16h (R$ 160 e R$ 80, meia), às 20h (R$ 200 e R$ 100, meia). Pontos de venda: bilheteria do Teatro Nacional, Fnac (ParkShopping) e pelo site . Classificação indicativa livre. Informações: 8432-3661.

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