Comida simples, variada e cheia de tempero. É possível encontrar um cardápio como esse bem no centro da capital federal, a poucos minutos da Esplanada dos Ministérios. De segunda a sexta-feira, na Torre de TV (1), enquanto as bancas de artesanato, flores secas e móveis estão fechadas, quem reina é a gastronomia. Na sombra das barracas de toldos azuis, dezenas de pessoas aproveitam para almoçar uma boa refeição caseira com toques da culinária do Norte e do Nordeste. E por bem pouco.
Na barraca de Terezinha de Jesus Sobrinho, a fila é grande. De vestido vermelho e sorriso no rosto, ela convida quem passa para almoçar. O cliente paga R$ 6 (o mesmo preço de outros lugares da feira) e come à vontade. No menu, baião de dois, farofa, salada de cenoura e repolho roxo, arroz, feijão, macarrão com molho, carne de sol e linguiça na chapa. ;Fazemos uma comida caseira, que todo mundo gosta, para a pessoa se sentir em casa. Mas tentamos variar todos os dias;, conta a dona da banca.
A barraca foi aberta pelo pai dela, Luis Léssio Sobrinho, em 1976, na feira. A boa comida conquistou uma clientela fiel nesses 34 anos. Enquanto o pai curte a aposentadoria, Terezinha cuida de tudo. ;Trabalhei aqui desde o começo e adoro servir as pessoas;, diz. Para não perder o sucesso, quase todos os dias a equipe da cozinha prepara o prato mais elogiado da banca: carne ao molho. ;Ela fica bem macia, uma delícia;, garante a dona da banca.
Com uma vista privilegiada para a nova fonte da Torre de TV, a barraca da Maria de Jesus Vaz é outra com clientela cativa. ;Aqui tem sarapatel, feijoada e um churrasco maravilhoso, preparado pelo meu marido;, avisa logo a dona da banca e cozinheira. Maria trabalha na feira há cinco anos e diz que adora o que faz. ;Tenho clientes cativos, muita gente que trabalha nestes prédios do Setor Hoteleiro corre pra cá para almoçar;, diz.
No cardápio, que a própria Maria de Jesus prepara, estão o feijão-preto e carioca, o arroz, o macarrão com molho de tomate e o ensopadinho de jiló. ;Esse último eu não gosto muito não, é amargo. Mas o povo adora;, brinca a cozinheira. Para ela, o grande diferencial de sua barraca é o fato de os clientes poderem se servir nas panelas, direto da boca do fogão e pegar a comida quentinha. O prato de que ela mais se orgulha é a feijoada, servida apenas nos sábados. Mas quem quer experimentar deve chegar cedo à feira. ;A barraca fica lotada;, avisa Maria.
Nas barracas que servem almoço à vontade na Feira da Torre de TV, dois itens não podem faltar: churrasco e macarrão com molho de tomate. Em alguns lugares, a fumaça é grande e o cheiro bom de comida também. Em frente à cada banca, forma-se uma pequena fila, com trabalhadores da construção civil, lojistas e gente de escritório. ;Venho aqui há mais de seis anos. A comida é gostosa e barata. Todo dia tem uma boa variedade e o tempero tem um jeito de feito em casa;, conta o motorista Francisco Batista, 49 anos, cliente fiel da barraca de Terezinha. Ele aproveita que trabalha em um shopping perto dali e bate ponto na feira.
Simplicidade
O atendimento direto e simples é uma das características da feira. Maria Jesus, por exemplo, passa em cada mesa oferecendo uma rodela de abacaxi de sobremesa. ;Sempre que eu posso, trago uma fruta;, diz a cozinheira. Além do mimo dado aos clientes, o tempero da cozinheira garante o bom movimento. ;É o melhor da feira! E o feijão dela não tem igual;, afirma Francisco da Silva Sousa, 35 anos, outro freguês. Para Maria Zeneide Araújo, 48, o diferencial é a forma como a comida é feita. ;Temos muitas opções na feira, tem para todos os gostos, mas é preciso ver se o lugar é limpo. Eu prefiro os pratos mais saudáveis, sem muita gordura, e adoro um jiló com feijão;, conta a autônoma.
Bem na entrada da feira, virada em direção ao Eixo Monumental, está a barraca Belém do Pará, uma das quatro que vendem comidas típicas do Norte e a única do tipo que fica aberta durante a semana. O dono, o paraense Sérgio Souza, era juiz de futebol e teve de largar o ofício depois que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC). Veio para Brasília em busca de qualidade de vida em 2000, e abriu a banca na Torre de TV. ;Minha mulher é a cozinheira e trazemos todos os ingredientes de lá (do Pará);, conta.
Durante a semana, na hora do almoço, é difícil para o casal competir com as barracas de comida simples, mas, no fim de semana, o movimento aumenta. O prato mais famoso é o tacacá. ;Ele é feito com o tucupi, caldo da mandioca boa, que tem mais qualidade, e não da brava, como muita gente costuma fazer;, conta Sérgio. Além disso, a receita leva camarão e jambu, folha que deixa a boca dormente. Na barraca também é possível degustar o pato no tucupi e o vatapá.
O açaí também é estrela na banca Belém do Pará, mas não espere que ele seja servido com granola ou banana. Ali, o fruto é servido ao estilo paraense: com farinha d;água ou tapioca em flocos, peixe frito ou camarão. ;Você já sentiu o verdadeiro sabor da terra? É assim que deve ser o gosto do açaí. Porque eles crescem no mangue, no barro, e a árvore se alimenta daquilo. Lá no Pará, tem em tudo quanto é lugar. Quem come um prato desse fica satisfeito o dia inteiro;, conta Sérgio.
1 - Gigante no centro
A Torre de TV de Brasília foi inaugurada em 1967. Com 224m de altura, ela tem um mirante panorâmico com capacidade para 150 pessoas. Para ter uma visão geral da cidade e da Esplanada dos Ministérios, o local está aberto diariamente das 9h às 18h. Em volta da torre funcionam 522 barracas de artesanato, móveis e gastronomia. Grande parte dos comerciantes abre suas bancas apenas no fim de semana. De segunda a sexta-feira, a parte de alimentação funciona na hora do almoço.