Diversão e Arte

O show de Mr. Frampton

Em uma apresentação impecável, o guitarrista britânico esbanja bom humor e boa música para 1.700 fãs

postado em 11/09/2010 15:20
Um encontro com um rock;n roll puro e permeado de lembranças. Esse foi o menu da noite oferecido pelo guitarrista britânico Peter Frampton aos cerca de 1.700 fãs que conferiram sua primeira apresentação em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Por mais de duas horas, ele passeou por clássicos da carreira e mostrou novidades do álbum recém-lançado, Thank you, Mr. Churchill.

Entre os fãs, o vocalista da Plebe Rude, Philippe Seabra. ;Uso uma guitarra Les Paul, em parte, por causa dele. Me acostumei com a aridez da seca e com o clima de Brasília ao som do Frampton. Não tem como ser garotão de 14, 15 anos, no fim dos anos 1970, e não ser fã;, defendeu. A geração teen daquela época estava representada em peso. Uma delas era a produtora de moda Sônia Barbosa, 49 anos, tiete do cantor desde quando ele era ;galã;. Depois de dar passar a plateia em revista, ela sentenciou: ;Meu Deus, só tem coroa aqui!”.

Tinha razão, mas, aqui e ali, era possível ver adolescentes, levados pelos pais para uma aula de rock das antigas. Fã do artista desde a fase em que ela ostentava uma longa cabeleira loira, a administradora Shirley Borges, 45 anos, levou a filha, a estudante de história Ana Carla Borges, 21 anos, para sentir o gostinho da adolescência setentista. ;Eu ficava colada no rádio, esperando as músicas dele tocarem, para gravar em fita. Choro quando escuto;, emocionou-se.

Pouco depois de 21h30, as luzes se apagaram e o guitarrista dispensou a pompa: entrou no palco ao lado da banda e abriu a noite com Plain shame. Os primeiros gritinhos ecoaram pelo auditório quando, logo em seguida, ele atacou as primeiras notas de Show me the way, um dos sucessos de sua carreira. O guitarrista de 60 anos, que vestia calça jeans e camisa xadrez dobrada nos punhos, esbanjou simpatia durante toda a noite. Arriscou frases em português, como ;é bom estar de volta ao Brasil; e ;esta música é do novo CD;. A todo momento, despejava sequências de ;obrigado;. Mas setenciou: ;É uma língua muito sexy, mas muito difícil. Como vocês conseguem aprender?;, brincou.

Galanteador, não perdeu a chance de seduzir a plateia feminina presente: ;Como não sei falar português, preciso de uma intérprete, uma mulher, para me ensinar português. De preferência, em uma praia, no Rio;, convidou. Em vez de mostrar uma cópia diminuta do novo CD, levou ao palco uma mostra de um bolachão, com direito a letras na parte interna do encarte. ;Por favor, comprem os dois;, pediu.

Depois de alguns sucessos do disco mais aclamado, ele encadeou uma sequência de músicas do novo trabalho. Alguns rocks mais rasgados, como Money, ajudaram a ferver o público, mas o ápice de animação chegou com a balada Baby, I love your way. Antes de terminar, dedilhou a introdução de Garota de Ipanema e encerrou a noitada, por volta de 23h40, com um inesperado e suave cover de While my guitar gently weeps, dos Beatles.

O britânico Peter Frampton tocou sucessos que marcaram gerações e músicas do seu novo disco, Thank you, Mr. Churchill
Crítica
Como barril de carvalho

Permita-me o neologismo: ;rock orgânico;. Foi assim a apresentação do ;vovô; Peter Frampton e de seus jovens asseclas no palco do espaço Ulysses Guimarães ; diga-se com uma boa acústica naquela noite. Nada de anabolizantes, nada de estripulias, mas o som puro de duas guitarras, um baixo e uma bateria impecável sob o controle das baquetas de Dan Wosciechowsski. Bem comportada, a plateia, basicamente de quarentões (e acima), curtiu o show nota a nota da Gibson Les Paul com três captadores tocados pelo ;professor; Frampton. Aula bem assistida pelos guitarristas eméritos da cidade Haroldinho Matos e Philippe Seabra, entusiasmados com a performance do britânico (pena que os preços impeditivos espantaram a garotada, que preferiu guardar dinheiro de olho na apresentação do Green Day, em 17 de outubro).

Grande parte do público estava lá para ouvir os hits como Do you feel like we do, Baby, I love your way e Show me the way. Tudo bem. Mas certamente saíram satisfeitos com esse ;novo velho; guitarrista. Volte breve, Mr. Frampton. (José Carlos Vieira)

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