Diversão e Arte

Lauryn Hill, musa da black music, se apresenta na cidade às 19h

postado em 12/09/2010 08:00
Há quem acredite que o segredo dela está na voz, que oscila entre a delicadeza da soul music e a fúria do rap. Para outros, ele pode ser encontrado na força de uma atitude por vezes até radical. Outras qualidades pesam: a inquietação musical, o engajamento em causas sociais, a enorme influência que provocou sobre as mulheres do hip-hop. A soma de todos esses fatores explica por que, mesmo após quase 10 anos de baixíssima produtividade, Lauryn Hill continua a ser tratada como uma autoridade incontestável da black music. Daí as expectativas para a estreia brasiliense da cantora e compositora ; hoje, às 19h, no Iate Clube.

The miseducation of Lauryn Hill (1998), o primeiro disco solo , vendeu 18 milhões de cópias no mundo todo e faturou cinco prêmios Grammy ; inclusive o de melhor do ano. Mais extraordinária do que essas conquistas, no entanto, é a permanência do álbum no coração dos fãs ; Prince e Michelle Obama estão entre eles. Isso depois de um período em que Lauryn trocou o estrelato pelo isolamento, passou a esnobar a imprensa e se trancou numa crise criativa que ainda não se resolveu totalmente. O último disco foi um Unplugged de crueza quase franciscana, em 2002.

Em Brasília, o séquito da cantora resistiu à temporada silenciosa. O respeito é unânime entre cantoras influenciadas por soul music e rap. ;A voz dela é um escândalo. É um misto de suavidade com rouquidão. Suave, gostosa de ouvir. É voz de diva;, resume Indiana Nomma, que já abriu shows de Gloria Gaynor e Billy Paul. Além de admirar os dotes vocais, a fã acrescenta uma característica que transcende as canções. ;Quando ela sobe no palco, você sabe que vai ouvir uma cantora que não tem medo de falar de política;, afirma. São dois elementos que, em grande parte, respondem pelo fascínio provocado pela americana: o talento nato para a música e para a contestação.

Nascida em Nova Jersey, filha de uma professora de inglês e de um programador de computadores, Lauryn Noel Hill cresceu cercada por discos e instrumentos musicais. Os pais eram fãs do pop negro da Motown, produzido nos anos 1960. A mãe tocava piano, o pai testava o gogó em casamentos e o irmão mais velho aprendia saxofone, guitarra, gaita e bateria. Lauryn, no entanto, queria mais: foi cheerleader, tentou a sorte em programas de tevê, largou a universidade e, finalmente, entrou no trio Fugees, com (o ex-namorado) Wyclef Jean e Pras Michel. Dois hits do álbum The score, de 1996, foram interpretados pela vocalista: as versões de Killing me softly, do repertório de Roberta Flack, e de No woman, no cry, de Bob Marley. Naquele ano, ela conheceu um dos filhos de Bob, Rohan Marley, com quem teve cinco crianças.

O sucesso mundial de The miseducation of Lauryn Hill, curiosamente, estancou a escalada de Lauryn e acenou para um período mais introspectivo. ;Ela sofreu muito com a saída do Fugees. Havia um peso em cima dela. Em vez de seguir a onda da banda, ela veio com um disco totalmente diferente, com uma mistura de soul, rap e reggae;, lembra Indiana. A mescla atrevida de estilos, que marcou o disco de estreia, encanta Ellen Oléria, outra fã. ;Essa é uma inquietação que eu também tenho. Você pode dar nomes diferentes para a música que ela faz. Ela reaproveita a matéria-prima;, define.

Rappers
A postura combativa como Lauryn peita a indústria musical ; o terceiro álbum, aliás, foi adiado tantas vezes que provocou prejuízos estimados em mais de R$ 2,5 milhões à Columbia Records ; também desperta apreço. Tal como o estilo visual. ;A maioria das rappers admira muito a carreira dela. Nós, mulheres, encontramos nela um modelo. Antes, as referências eram quase 80% masculinas. No Brasil, as mulheres se masculinizam. Ela e Erykah Badu inspiraram toda uma geração;, afirma Vera Verônika, rapper, pedagoga e mestre em educação. ;Ela é uma pessoa engajada socialmente, contra a discriminação racial. Existe toda uma abordagem social nas próprias letras;, comenta Georgia W. Alô.

A atitude imprevisível de Lauryn desnorteia o público. Ela evita conversar com jornalistas e gosta de um improviso no palco. Por isso, ninguém bate o martelo sobre o show de hoje a noite. Haverá hits como Doo wop (That thing), Everything is everything e Ready or not? Músicas novas? Falatório com um quê político? ;O que me deixa muito feliz é que, apesar de ter tido um reconhecimento no mercado pop, ela não mudou a essência dela. Não estou esperando nada do que ela já é. Espero um amadurecimento musical, mas não quero ver um show pirotécnico. Essa não é a verdade dela;, resume Georgia. Uma verdade às vezes inconveniente, mas que não desafina.

LAURYN HILL

Hoje, às 19h, no Iate Clube (Setor de Clubes Norte, Tc. 2, Cj.4). Abertura de Negra Li e participação dos DJs Pezão, Chicco Aquino e Drezin. Ingressos a R$ 70 (pista, meia- entrada) e R$ 120 (pista premium, meia). Assinantes do Correio têm 50% de desconto na compra de ingresso inteiro (cupom Sempre Você). À venda nas lojas Mormaii e na central de ingressos do Brasília Shopping. Pela internet, em www.livepass.com.br. Não recomendado para menores de 16 anos.

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