Diversão e Arte

Porão do Rock reúne 32 mil pessoas em maratona de 11 horas de show

Evento teve 33 bandas, do hip-hop ao metal

postado em 13/09/2010 08:00
Sábado, 23h. Dentro do Ginásio Nilson Nelson, as guitarras pesadas hipnotizam milhares de devotos do heavy metal. Ao fã que chega com alguns minutos de atraso, o segurança é categórico: não há mais espaço na pista. Está lotada. O jeito é espiar de longe a performance de André Matos, ex-vocalista do Angra. Ou subir as escadas que levam à área externa do prédio e, em poucos minutos, experimentar uma sonoridade completamente diferente ; o hip-hop de Gog, embalado em samplers dançantes e rimas engajadas. Outra opção é arriscar uma caminhada puxada até o palco Pílulas, onde reinam os violões ruidosos do Autoramas. A sensação é de que, pelo menos por uma noite, uma lei natural caiu por terra: três festivais de rock podem ocupar o mesmo espaço num mesmo período de tempo. Os gringos Los Primitivos (E) e She Wants Revenge (abaixo) dividiram opiniões: rockabilly argentino e herdeiros do Joy DivisionPara os supersticiosos, o número 13 pode significar azar. E se a 13; edição do Porão do Rock não deu muita sorte em alguns aspectos ; como a falta de verba que reduziu o evento a um dia ;, foi muito bem-sucedida em outros aspectos, caso da estrutura com três palcos idênticos funcionando simultaneamente. Diante de 33 atrações, em cerca de 11 horas de música, muitos deixaram os nichos de lado. ;Prefiro as bandas mais alternativas, como Autoramas, Pato Fu. Mas não vou perder o show do André Matos, que é uma referência para o metal. É uma chance para quem quer conhecer diferentes estilos;, aprovou Marina Flores, 19 anos, estudante de ciências sociais. Evento teve 33 bandas, do hip-hop ao metalNo anel externo do Nilson Nelson, o vaivém era intenso durante toda a noite. De acordo com a organização do evento, o espetáculo triplo (com entrada franca) atraiu 32 mil pessoas. O último show, da brasiliense Galinha Preta, terminou às 6h de ontem. O primeiro, da banda Mork, começou com quase duas horas de atraso, às 18h40. Depois deles, pelo palco batizado de GTR (escola brasiliense de guitarra), localizado dentro do ginásio, passaram mais 11 bandas de metal, hardcore e vertentes. O que se viu por ali foram grupos, em maior ou menor grau, competentes. Caso, por exemplo, do quinteto feminino Estamira, que justificou sua vaga no festival (conseguida na seletiva de Taguatinga) com um show carismático, de um metalcore brutal. Além de André Matos, Korzus e Gangrena Gasosa foram destaques que passaram pelo interior do Nilson Nelson. Os veteranos do Korzus não deixaram ninguém ficar parado. ;Estão morrendo aí, seus filhos da p;?! Manda enterrar!”, bradou o baixista barbudão Dick Siebert. Os fãs do ;saravá metal; da banda carioca Gangrena Gasosa esperaram até quase às 4h para assistir à pesada e irreverente apresentação do grupo, trajado como entidades de religiões afro-brasileiras Dedicado apenas às atrações de rock pesado, como André Matos, o Palco GTR, dentro do Nilson Nelson, foi o que mais atraiu públicoCom topedutos em suas linhas de frente, os trios Sick Sick Sinners, Los Primitivos e Autoramas (as três passaram pelo palco Pílulas) mostraram diferentes usos de referências do rockabilly. Trio paranaense, o Sick Sick Sinners apresentou a vertente mais pesada do gênero, o power psychobilly, mais próxima do metal. Os argentinos do Los Primitivos seguiram a linhagem mais clássica do estilo, com ecos de Gene Vincent, Carl Perkins, Johnny Cash e Stray Cats. O rockabilly é apenas um dos ingredientes dos Autoramas. Ao vivo, a versão acústica da banda (eles lançaram recentemente seu disco desplugado) não é muito diferente da elétrica ; e o show teve espaço para os dois formatos. O momento alto ficou com I saw you saying, parceria de Gabriel Thomaz com Rodolfo Abrantes, sucesso com os Raimundos nos anos 1990, e agora parte também do repertório do trio carioca. No comboio de convidados internacionais, as decepções superaram as boas descobertas. O quinteto espanhol The Right Ons dominou bem os clichês do rock ;n; roll com pegada setentista. Mas, para quem se autointitula ;a maior banda de rock;n;roll do mundo;, o quarteto americano Supersuckers deixou a desejar. Às 3h, pareciam cansados. A fadiga do público também pesou na friorenta apresentação do She Wants Revenge. Apesar da simpatia, a banda explicitou as limitações de um estilo que ainda deve muito aos vocais de Brian Molko (Placebo) e à sonoridade gótica de herdeiros do Joy Division. Hits como Tear you apart provocaram alguma excitação. Mas nada que se comparasse ao entusiasmo provocado pelo Mombojó e pelo Pato Fu. Numa festa com tantas opções, o público não ficou indeciso: escolheu o produto nacional.

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