Irlam Rocha Lima
postado em 15/09/2010 08:00
Victor Biglione é o músico estrangeiro que mais contribuiu com a música popular brasileira. O guitarrista argentino já tocou em show e em discos com mais de 300 artistas nacionais ; de Caetano Veloso a Sérgio Mendes. No momento, ele divulga o Tangos tropicais, álbum em que recriou clássicos da MPB ao sabor do secular ritmo nascido em Buenos Aires.Nesta semana, esse carioca-portenho é a atração do projeto Brasília, 50 anos ; Capital do choro. De hoje a sexta-feira, às 21h, ele apresenta-se no Clube do Choro, onde esteve no ano passado, para celebrar Dorival Caymmi. Terá a companhia no palco dos instrumentistas brasilienses Oswaldo Amorim (baixo), Leander Motta (bateria) e Flávio Silva (teclados).
;O show que estou levando para o Clube do Choro, um lugar especial para todo músico, possibilitará prestar uma homenagem aos grandes criadores da música brasileira;, anuncia Biglione. ;Faço isso para retribuir o muito que recebi deles, em termos de ensinamentos, ao longo de quase 35 anos de carreira. Para mim, é um privilégio ter atuado ao lado de alguns entre os que vou prestar tributo;, acrescenta.
É longa a galeria dos homenageados de Biglione, que começa por Egberto Gismonti, de quem o guitarrista tocará Frevo. Os outros reverenciados serão: Cartola (Acontece e As rosas não falam), João Donato (Até quem sabe), Dorival Caymmi (trecho da Suíte dos pescadores), Durval Ferreira (Batida diferente) e Luis Bonfá (Gentle rain).
;Dois desses heróis da MPB que serão focalizados no show, estão presentes no Tangos tropicais, o CD que lancei recentemente, com show na Sala Funarte, aqui no Rio. Um é o maestro soberano Tom Jobim, de quem faremos Retrato em branco e preto e Samba de uma nota só; e o outro é Edu Lobo, autor com Chico Buarque de Choro bandido;, adianta.
Tangos tropicais, recebido com elogios pela crítica, foi idealizado por Nelson Motta. ;O Nelsinho me procurou e falou de um projeto em que clássicos da música popular brasileira pudessem ser ouvidos em versões que trouxessem elementos do tango;, explica. Mesmo radicado no Brasil ; mais especificamente no Rio de Janeiro ; desde os cinco anos de idade, Biglione manteve a ligação com a cultura de seu país de origem, lendo Jorge Luis Borges e Ernesto Sábato, e ouvindo Carlos Gardel e Astor Piazzolla.
Troca
;Na gravação do Tangos tropicais, usei formação semelhante ao do sexteto de Piazzolla. Apenas troquei o violino pelo violoncelo, e o bandoneon pelo acordeon de Marcos Nimrichter;, comenta. Os outros músicos que participam do disco são Alex Rocha (contrabaixo), Marcos Vieira (violoncelo), Cláudio Infante (bateria) e José Lourenço (piano).
A dificuldade maior do guitarrista no processo de criação do álbum foi em relação aos arranjos. ;Como não uso computador para trabalhar, escrevi os arranjos literalmente à mão, tanto para as bases como para acordeon e violoncelo. Há faixas que têm 16 vozes de violoncelo;, explica. Entre outros temas gravados há Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil), Tatuagem (Chico Buarque e Ruy Guerra), Esse cara (Caetano Veloso), As canções que você fez pra mim (Roberto e Erasmo Carlos) e Mistérios (Joyce e Maurício Maestro).
Para saber mais
Amigo da casa
Victor Biglione é um velho conhecido do brasiliense. A primeiro vez em que ele se apresentou na cidade foi no começo da década de 1980, na Piscina Coberta, acompanhando Gal Costa no show Gal Tropical. Depois voltaria à cidade com o grupo A Cor do Som, e ao lado de Ivan Lins, Milton Nascimento e com Andy Summers, ex-guitarrista do The Police.
O guitarrista, que no ano passado lançou no Clube do Choro o CD Uma guitarra no Tom, participou recentemente do festival I Love Jazz, com Elza Soares, no Teatro Oi Brasília. Autor de trilhas sonoras para cinema, foi premiado com o Kikito, no Festival de Gramado, pela trilha de Como nascem os anjos, de Murilo Salles; e no Rio Cine Internacional, pela trilha de Faca de dois gumes, do mesmo diretor.
VICTOR BIGLIONE
Show do guitarrista, acompanhado por Oswaldo Amorim (contrabaixo), Leander Motta (bateria) e Flávio Silva (teclados), de hoje a sexta-feira, às 21h, pelo projeto Brasília, 50 anos ; Capital do choro. No Clube do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não redomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.