Irlam Rocha Lima
postado em 15/09/2010 08:00
Rio de Janeiro ; O grande mérito do MPB Shell, o festival promovido pela TV Globo em 1980, foi revelar Sandra de Sá, intérprete de Demônio colorido, a primeira cantora brasileira de soul music. Trinta anos depois, com vitoriosa trajetória na música popular brasileira, ela comemorou a data cantando para 10 mil pessoas, sábado último, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.O show, sob o título Africanatividade, foi gravado e se transformará em DVD, a ser lançado no começo de 2011, numa parceria da produtora da artista com o Canal Brasil. O evento, de caráter celebratório, reuniu no palco amigos de diferentes vertentes musicais: do veterano João Donato, um dos precursores da bossa nova à grande revelação Maria Gadú, passando pelos consagrados Caetano Veloso, Alcione e Elba Ramalho.
;Esse é um encontro de amigos, que de forma carinhosa vieram dividir comigo esse grande momento da minha vida e da minha carreira;, comemorou Sandra, antes de subir ao palco e ser recebida com entusiasmo pela plateia, recheada de fãs. Emocionada, agradeceu a presença de todos e abriu a apresentação com um medley que incluiu Africanidade, África e música com a qual homenageou o bloco afrobaiano Ilê Ayiê. A acompanhá-la, uma banda poderosa integrada por seis músicos e dois backing vocals.
João Donato foi o primeiro convidado a surgir em cena. Com a cantora fez Emoriô, ;gravado por ela no meu songbook;, lembrou, depois, o genial pianista e compositor. Grande amiga de Cazuza, Sandra o homenageou ao soltar a voz em Blues da piedade. Sandra convidou Elba para ;blusear o que há de bom; e cantaram Imaginação.
Sandra passeou por várias canções do seu repertório, algumas tipo lado B, como Baile no asfalto e Tem alguma coisa errada. Convocada ao palco, Alcione, sempre irreverente, mandou: ;É um prazer quase sexual cantar você, colega;. Em seguida juntaram as vozes em Copacabana, canção com letra que evoca personagens que povoam o universo do mais famoso bairro do Rio.
Recebida em delírio pela legião de admiradores, Maria Gadú, usando figurino despojado, levou boa parte da plateia a fazer coro com ela e Sandra, no clássico Demônio colorido. ;Foi uma honra dividir com Sandra a música que lançou a rainha da soul music brasileira, uma referência para mim;, festejou Gadú, exibindo largo sorriso no backstage.
Na sequência, vieram hits que marcaram a carreira da cantora, com destaque para Solidão, Retratos e canções, Azul da cor do mar (com direito a reverência ao grande Tim Maia). Caetano, um dos convidados mais aguardados, mostrou-se bem à vontade ao lado de Sandra numa versão funkeada para o megassucesso Sozinho. Feliz com o resultado revelou: ;Aprendi essa música ouvindo Sandra. Nem sabia que era do Peninha. Depois a gravei no CD Prenda minha, que é, de longe, meu disco de maior vendagem;.
Cantando Olhos coloridos, a cantora preparou-se para receber o grupo de dançarinos do Jongo da Serrinha e a bateria da escola de samba Caprichosos de Pilares. Foi o fim apoteótico do show em, que cercada de pessoas queridas, como o filho e ator Jorge de Sá e a amiga Lucinha Araújo ; à frente de um grupo de jovens que mantém sob seus cuidados na Sociedade Viva Cazuza ;, Sandra celebrou quatro décadas de vitórias e importante contribuição para a moderna música brasileira.
O repórter viajou à convite da produção do evento