Diversão e Arte

Grupo Corpo encerra em Brasília turnê que comemora 35 anos de trajetória

A programação conta com dois espetáculos

postado em 16/09/2010 08:00
Corria o ano de 1975 quando uma família mineira, com amigos igualmente entusiasmados, decidiu criar um grupo de dança. A primeira sede foi o casarão onde o clã vivia, no Bairro da Serra, em Belo Horizonte. Hoje, exatos 35 anos depois, a família Pederneiras se tornou referência no cenário artístico internacional e a companhia que criou, o Grupo Corpo (1), virou inspiração inconteste para fãs de dança. Para celebrar o aniversário, o grupo decidiu excursionar por São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro e encerrar o périplo em Brasília, onde se apresenta, de hoje a domingo, na Sala-Villa Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro. Formado em Belo Horizonte, o grupo de dança Corpo é reconhecido internacionalmente por sua originalidade e suas coreografiasO programa é composto por dois espetáculos: Ímã, coreografia que estreou no ano passado, e Lecuona, sucesso de 2004 escolhido por internautas. ;Temos um público cativo e fiel. Decidimos ser democráticos e deixar que eles escolhessem;, destacou o coreógrafo e um dos criadores do grupo, Rodrigo Pederneiras. Ímã surgiu a partir de um texto do antropólogo Roberto da Matta, e propõe uma mistura de luminosidade e leveza. Investindo em formações fugazes, o espetáculo trabalha contrastes, passando do cheio ao vazio, da união à dispersão, da atração à repulsa. A iluminação é um dos pontos mais importantes da construção cênica: potentes refletores de LEDs de sete cores, capazes de reproduzir inúmeras tonalidades foram usados, pela primeira vez, nesta montagem. A trilha sonora foi composta pelo trio 2, formado por Domenico, Kassin e Moreno. Já Lecuona é o retrato de um amor derramado, feito de ciúme, volúpia, saudade e muito drama. Envergando trajes de gala e vestidos esvoaçantes, os pares circulam por entre cubos luminosos e protagonizam um pas-de-deux com duração de 38 minutos. ;Além de ser um espetáculo recente, ainda presente na memória, é uma das peças mais emotivas da nossa trajetória. Muitas pessoas choram;, comenta Pederneiras. A inspiração surgiu das canções de Ernesto Lecuona, considerado um ícone da música cubana. Esse espetáculo, por sinal, marca a exceção que o grupo abriu ao mestre latino. Desde 1992, as trilhas sonoras são especialmente compostas para as coreografias. Dos ensaios no quintal de casa aos palcos mais refinados do planeta, o grupo criou mais de 30 espetáculos e atravessou momentos variados. No começo, era preciso contar com o empenho dos colaboradores, com destaque para o coreógrafo argentino Oscar Araiz, responsável pelos primeiros passos do Corpo. Quando a família começou a assumir o lado artístico das peças, decidiu investir nos clássicos como trilha sonora. ;Afinal, foi isso que ouvi a vida inteira;, afirma Pederneiras. Nuances Após a montagem de A missa do orfanato, baseada em criações de Mozart, o coreógrafo começou a se perguntar como seria a expressão única do brasileiro ao dançar. Nesta fase, o grupo desenvolveu a gama de movimentos e nuances artísticas que o caracteriza mundo afora. Também nos anos 1990, surgiu a ideia de encomendar musicas inéditas a artistas consagrados. Milton Nascimento, José Miguel Wisnik, João Bosco, Tom Zé, Arnaldo Antunes e Caetano Veloso foram alguns dos compositores que fizeram trilhas sonoras para os espetáculos do grupo. A comemoração é marcada por sonhos e planos arrojados. Entre eles, a criação de um espetáculo baseado em músicas medievais, compostas pelo galego Martim Codax, que usava em suas cantigas, jamais gravadas antes, um misto de espanhol e português. José Miguel Wisnik já foi à Espanha para continuar as pesquisas, ao lado do compositor Carlos Nuñez. Ainda este ano, os bailarinos levarão seis coreografias (Bach, Breu, Ímã, Lecuona, Onqotô e Parabelo) para um tour por 19 cidades do Canadá, da Espanha, da França e da Escócia, além das cinco capitais brasileiras. Em breve, a companhia que começou no quintal dos Pederneiras deve ganhar nova sede: está previsto para 2011 o início da construção do novo espaço do Corpo, com direito a administração, local para ensaios, galeria de arte, cinema, restaurante, biblioteca, videoteca e até um teatro com capacidade para 1.200 espectadores. 1 - Uma verdadeira corporação O coreógrafo do grupo, Rodrigo Pederneiras, afirma que o nome Corpo foi sugestão de seu irmão Paulo, diretor artístico da companhia. Eles não sabiam como batizar a trupe e então Paulo deu a ideia, que simboliza, além do instrumento para a execução da dança, a ideia de um grupo, uma corporação, um conjunto de pessoas que trabalham com a mesma finalidade. RADIOGRAFIA DA DANÇA Quem quiser conhecer mais sobre o Grupo Corpo pode assistir ao documentário produzido pela família Barreto, batizado de Corpo ; uma família brasileira. Lançado em 1996, o filme é um apanhado de depoimentos, memórias, vivências e trechos de espetáculos. Outra opção, exclusiva para quem passar por Belo Horizonte, cidade natal do grupo, é visitar a exposição Grupo Corpo 35 Anos, com fotos de José Luiz Pederneiras, em cartaz no Palácio das Artes, até 3 de outubro. Nas três salas, o público encontrará fotos de grandes dimensões do espetáculo Ímã, instalação de tubos com fotos em backlight mostrando a trajetória do grupo, além das cidades visitadas pela companhia durante a trajetória. A visitação está aberta de terça-feira a sábado, entre 9h e 21h. GRUPO CORPO 35 ANOS ; ÍMÃ E LECUONA Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional (Setor Cultural Norte, Via N2; 3325-6256). De hoje a sábado, às 21h; e domingo, às 20h. Ingressos: R$ 70 e R$ 35 (meia). Classificação indicativa livre.

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