Grupos de dança costumam escolher como palco de suas coreografias os tradicionais tablados teatrais, galerias de arte e praças públicas. Mas o Núcleo Alaya Dança inovou na hora de escolher o cenário para a 5; Mostra de Dança, batizada de 5; Mostra de Intérpretes-Criadores. Até o próximo domingo, as coreografias e atividades complementares, todas gratuitas, serão apresentadas no restaurante do Museu Nacional da República.
Segundo a diretora do núcleo, Lenora Lobo, depois de fazer exibições em escolas, palcos tradicionais e até mesmo no meio da rua, a ideia era evitar o convencional. A inspiração foi o tema dessa edição, Metáforas espaciais. ;Este ano estamos trabalhando a influência do espaço no corpo e no fazer artístico. Saí em busca de lugares e encontrei esse, muito interessante. Todo envidraçado, permite que a cidade adentre o espaço das coreografias. Além disso, tem o traço arquitetônico de Brasília;, ressaltou.
Sempre às 20h, bailarinos formados na cidade, em outras regiões do país e até em escolas internacionais, caso da convidada Lina do Carmo, piauiense discípula do artista francês Marcel Marceau e há 20 anos radicada na Alemanha, mostrará suas criações inspiradas na relação entre espaço e dança. Ex-bailarino do Grupo Corpo, Rui Moreira e sua parceira Bete Arenque trazem de Minas Gerais a coreografia Já Massageou seu gato hoje?, trabalho que investe em projeções de vídeo e analisa a percepção do toque.
Representante de Brasília, João Negreiros construiu o espetáculo Relação im-permanente, que aborda as inconstâncias do corpo, seja mudando de lugar ao longo da vida, seja vivendo revoluções internas. Outro brasiliense a expor sua obra é o bailarino Alessandro Brandão, autor do número Maior é a saudade, que nos tem inspirado, do que o mar de distância que nos separa. Neste trabalho, ele questiona a infinidade de espaços amplos e vazios da capital. Também prata da casa, Alexandre Nas desenvolveu Róseo-amarelo-alba em ângulos voadores, coreografia que recorre a um jogo de imagens para refletir sobre a exuberância dos ipês multicoloridos que enfeitam o cerrado.
O cenário foi desenvolvido com uma proposta comum a todos os participantes: o artista plástico Wagner Hermusche criou uma escultura de fibra de vidro inspirada nas formas orgânicas e naturais que costuma pesquisar, para que os bailarinos pudessem interagir com a peça. ;Dependendo da posição em que é colocada, parece uma duna, uma onda. Nem mesmo Hermusche dá uma definição exata;, comenta Lenora Lobo.
Aprendizado
Quando comparada a outros eventos de dança, a mostra tem um diferencial: em vez de contar com uma curadoria que seleciona trabalhos já existentes, os diretores definem um tema e os bailarinos criam algo novo, especialmente para a mostra. ;Quando a companhia, que hoje tem duas décadas, completou 10 anos, percebi a necessidade que todos tinham de pesquisar e aprender a coreografar. No começo, era uma proposta caseira, mas começamos a investir no intercâmbio com outras pessoas. Hoje, cerca de 40% dos participantes são daqui e 60% de fora;, revela Lenora.
A ideia de variar leituras artísticas prosperou e hoje a mostra recebe convidados internacionais. Este ano, a atração ;estrangeira; será Lina do Carmo. Apesar da distância geográfica, ela usa elementos brasileiros em suas criações, celebradas mundo afora. Depois de se dedicar às suas origens primitivas, buscando inspiração em elementos de sua terra natal, como as vitórias-régias e o Parque Nacional da Serra da Capivara (PI), ela decidiu investigar a origem cósmica da vida. Criou Viajante da luz, dança baseada nos conhecimentos que os maias deixaram sobre a gênese da Terra.
PERFORMANCE COM OS INTÉRPRETES CRIADORES
Aulas teóricas
Além dos espetáculos, o público poderá participar de discussões mais teóricas e subjetivas sobre a dança produzida atualmente. Hoje, às 20h, a doutora em dança pela Universidade de Sorbonne (França) Márcia Almeida fará palestra sobre o tema A Influência do espaço no corpo e na criação em dança contemporânea. Em seguida, participará de uma mesa redonda ao lado das bailarinas Soraia Silva (UnB) e Fernanda Bevilaqua (grupo Uai q dança, de Uberlândia). No próximo sábado, Lina do Carmo comandará uma vivência que chamou de ;Espaço ; Movimento e Plenitude;, entre 10h e 13h, no centro de dança do DF. O evento é aberto à comunidade e os interessados devem usar roupas brancas.
Programação
Hoje (20/9)
Massageou seu gato hoje?
Rui Moreira e Bete Arenque (Duo Afeito ; Belo Horizonte - MG)
De um ponto a outro...Olhos que descansam
Christiane Lapa e Marcilma Carvalho (DF)
Dia 21
Performance com os intérpretes-criadores
Palestra: Márcia Almeida (IFB)
Tema: A Influência do espaço no corpo e na criação em dança contemporânea
Mesa-redonda: Soraia Silva(UnB) , Fernanda Bevilaqua (Uai q Dança- Uberlândia) e Márcia Almeida (IFB)
Dia 22 Sobre as viabilidades de um projeto Patrícia Arantes (Uberlândia - MG) Róseo-amarelo-alba em ângulos voadores Alexandre Nas (DF) Maior é a saudade que nos tem inspirado que o mar de distância que nos separa Alessandro Brandão (DF) Dia 23 Sobre as viabilidades de um projeto Patricia Arantes (Uberlândia - MG) Endereço Im-Permanente João Negreiros com participação de Aida Cruz (DF) Maior é a saudade que nos tem inspirado que o mar de distância que nos separa Alessandro Brandão (DF) Dia 24 Sotaque e Protetor Solar Janaina Lobo (Teresina-PI) Róseo-amarelo-alba em ângulos voadores Alexandre Nas (DF) Leito de Adega Márcia Lusalva (DF) Dia 25 Sotaque e Protetor Solar Janaína Lobo (Teresina-PI) Endereço Im-Permanente João Negreiros com participação de Aida Cruz (DF) Leito de Adega Márcia Lusalva (DF) Vivência Espaço: Movimento e Plenitude Vivência com Lina do Carmo (Brasil/Alemanha) Centro de Dança do DF - 10h às 13 h Aberta a estudantes e profissionais das artes cênicas e interessados no movimento como autoconhecimento. Pedimos que venham com roupas brancas e confortáveis ao movimento. Dia 26 Viajante da Luz Lina do Carmo (Brasil/Alemanha