Diversão e Arte

Criador do troféu do Brasília Gourmet 2010 também se arrisca na cozinha

Nahima Maciel
postado em 28/09/2010 08:00
O artista plástico Ricardo Stumm encara a escultura e a gastronomia como duas faces de uma mesma paixão. A devoção é tanta que construiu, lado a lado, o ateliê e um espaço gourmet. ;Sou artista plástico e aspirante a chef. São as duas coisas que adoro fazer na vida, fiz inclusive um forninho a lenha caipira, que eu mesmo construí;, conta. O forninho a lenha é para os assados. Gaúcho fiel à tradição carnívora, Stumm tem como prato predileto as carnes cozidas no forno caseiro. A intimidade com a cozinha facilitou o trabalho do artista quando recebeu o convite para criar o troféu do Brasília Gourmet 2010, concurso de novos talentos para cozinheiros amadores organizado pelo Correio e que acontece entre 1; e 3 de outubro.

Stumm criou para o troféu uma escultura em bronze de um chef em forma triangular, com o coração estampado no peito, um prato na mão e o tradicional chapeu gourmet. O prêmio será entregue ao concorrente eleito melhor chef ao final da competição. ;Como era um troféu voltado para o Correio, imaginei fazer algo com formas sintéticas, gráficas, estabelecidas graficamente como um triângulo. Em cima fui criando alguns elementos para identificar o chef e a sacada foi colocar o coração. Daí surgiu o slogan ;cozinhar com amor;.; O troféu ainda não tem nome e os leitores poderão escolher um título para a peça pelo site do evento (www.brasiliagourmet.com.br). Esta é a segunda edição do evento, mas é a primeira em que o vencedor terá direito a um prêmio.



Ricardo Stumm, 48 anos, trocou Porto Alegre por Brasília ainda menino. Veio com os pais, em 1974. Adolescente, depois de uma temporada nos Estados Unidos, retornou à capital gaúcha para estudar arquitetura, mas largou a prancheta ao descobrir as artes gráficas no então tradicional Ateliê Livre de Porto Alegre. Já em Brasília, em meados dos anos 1980, integrou o Clube da Gravura, criado por artistas como Leda Watson e Glênio Bianchetti. Dos anos 1990 para cá, Stumm deixou de lado as artes gráficas para se apaixonar pela escultura. Fez curso em Barcelona e, ao voltar ao Brasil, montou um ateliê de fundição no qual executa as próprias peças e ministra oficinas de escultura. Atualmente, seus novos trabalhos podem ser vistos na Galeria Acervo da Caixa Cultural, até 17 de outubro, na mostra Além dos limites.

ALÉM DOS LIMITES
Exposição de Ricardo Stumm. Visitação até 17 de outubro, de terça a domingo, das 9h às 21h, na Galeria Acervo da Caixa Cultural (SBS, Q. 4 Lt. 3/4).

Veja programação completa do evento e saiba mais sobre as inscrições para aulas e palestras no site

Encontros e desencontros

Ricardo Stumm assistia a uma performance em Paris quando teve a ideia de esculpir no bronze corpos que se enlaçam e desenlaçam numa dança afetiva. No palco de um teatro, o casal encenava encontros e desencontros protegido por um fino lençol. Stumm quis ver como a ideia se portava ao ser transposta para o bronze. A proposta fermentou na cabeça do artista durante mais de uma década até ganhar os primeiros moldes. No ano passado, ele fez as primeiras experiências. Apresentou parte delas no Espaço Chatô em maio de 2009. Novas peças surgiram desde então e o artista mostra agora um conjunto de 25 esculturas na Caixa Cultural. Além dos limites narra uma história que, para Stumm, deve ser longa e produtiva.

Certos temas costumam se instalar por décadas inteiras na prática do artista. ;Trabalho com séries de longas gestações;, avisa. ;Que vão tomando corpo à medida que vou me envolvendo.; A experiência diante da performance parisiense é um exemplo. ;Me impressionou, achei tão plástica. Aquilo ficou na minha cabeça por anos e acho que essa série ainda vai ter uma grande declinação.; Por enquanto, Stumm segue em duas direções muito claras. Enlaces e desenlaces dominam a narrativa das cenas propostas pelas esculturas.

Há sempre dois corpos em situações de encontros e desencontros. Quando solitários, são intencionalmente colocados em poses sugestivas de movimentos e gestuais próprios de uma dança. ;Essa série envolve um pouco de teatro, porque são cenas que falam de uma situação amorosa. Tem dança e também expressão corporal. As esculturas sempre partem do corpo humano.; Envoltas em curvas que mascaram os detalhes, como se fosse possível transformar o bronze em finos lençóis, os corpos parecem emergir de uma mesma massa.

O movimento e o gestual estão na composição das cenas, na maneira como um braço ou uma perna são posicionados, num tronco torcido ou numa cabeça reclinada. Mas não há separação no caso das figuras esculpidas em dupla. Mesmo quando o escultor sugere um possível afastamento, ele é impedido por esse véu que une as massas dos corpos como se fosse um invólucro. E muitos são vazados por contornos curvos que perfuram as peças e respondem pela característica abstrata que convive com a figuração de Stumm. ;A narrativa é a da entrega;, avisa.

Por enquanto, figuras em dupla ou individuais marcam a série. É um estágio para passar às massas capazes de abrigar três, quatro ou mais personagens, ideias que permeiam o pensamento do artista para obras futuras. São os limites aos quais se refere no título da mostra. ;O limite é essa coisa de transpor para as obras as próprias limitações, como se fossem camadas que você fosse desvendando, desafios pelos quais você vai tendo que passar na vida.;

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