Irlam Rocha Lima
postado em 28/09/2010 08:00
Dona Ivone Lara tem dificuldade para se locomover. No show que fez com Délcio Carvalho, domingo, na Sala Martins Pena, para comemorar 35 anos de parceria, chegou ao palco apoiada em Mário Lago Filho, o diretor do espetáculo, e em André Lara, o neto que toca banjo na banda que a acompanha. Passou o tempo todo em cena ; algo em torno de 40 minutos ; sentada, mas ao soltar a voz, exibiu vigor e brilho inimagináveis para uma quase nonagenária.O show da grande dama do samba foi na segunda parte do programa, aberto por Délcio. Antes houve a exibição de vídeos em que os dois homenageados (ele andando por becos da Lapa; ela em sua casa, no subúrbio de Bento Ribeiro, no Rio) falaram de inspiração, do prazer de compor e de cantar e da alegria de ver as músicas acolhidas pelas pessoas.
Délcio, que tinha em sua companhia um quinteto competente, formado por músicos cariocas, com o reforço do violonista brasiliense Evandro Barcelos, abriu a apresentação cantando Derradeira melodia. ;Esse é o samba que inaugurou minha parceria com Dona Ivone. Estávamos numa roda de samba na Rua São Clemente, em Botafogo, da qual também participava Silas de Oliveira, que havia feito com ela o samba-enredo Os cinco bailes da história do Rio. Ele morreu naquela noite, vítima de um AVC, e fizemos o samba para homenageá-lo;, contou.
Na sequência, Délcio mostrou Alvorecer, outro sucesso da dupla, e depois quatro composições inéditas: O tempo passou, Sol de verão, Nem é preciso falar e Ainda baila no ar. Os espectadores, obviamente, ainda não as conheciam e limitaram-se a aplaudir. Mas, convidados por Délcio para juntar as vozes à dele no clássico Acreditar, formaram um coro vibrante.
Quando Dona Ivone surgiu no palco, exibindo largo sorriso, a plateia, que lotou a Martins Pena, ficou de pé para recebê-la com aplausos calorosos. Após se ajeitar numa cadeira, a eterna partideira da Império Serrano agradeceu a presença de todos, emocionando-os com pérolas que divide com Délcio Carvalho.
Entre os oito sambas selecionados para o show, havia os poucos conhecidos Amor sem esperança, Sonho e saudade e Cigana, e os consagrados Sereia Guiomar, Nos combates dessa vida e Candeeiro da vovó (o cavaquinista Bruno Castro e o neto André Lara faziam contraponto) antecedidos pelos melodiosos ;lará, lará, lará, lará; ; marca registrada de Dona Ivone. O público, que logo entrou no clima, a acompanhou com palmas ritmadas.
Um grande coro formou-se no fim apoteótico, quando Dona Ivone e Délcio tiveram ao lado deles toda a Martins Pena no canto de Sonho meu. Mesmo depois da saída dos dois, os fãs continuaram reverenciando-os, cantando a música por mais algum tempo.