postado em 30/09/2010 08:00
; Mario AbbadeEspecial para o Correio
Rio de Janeiro ; Apesar da rivalidade no futebol, argentinos e brasileiros são antenados quando o assunto é cinema. Existe um interessante intercâmbio entre as duas nações. Prova disso é a escolha da Argentina como país homenageado no Festival do Rio que acontece até 7 de outubro. Um dos convidados para prestigiar a mostra é o cineasta Marcelo Piñeyro, diretor de filmes como Prata queimada e O método, entre outros. Ele traz na bagagem seu novo filme Viúvas sempre às quintas. Muito simpático, Piñeyro falou com o Correio Braziliense sobre o cinema argentino, seus filmes e também sobre os novos talentos brasileiros.
Nesta última década, têm surgido vários cineastas argentinos com destaque internacional. Qual a razão?
Porque os filmes não viajavam para os festivais. Hoje em dia também há muito mais festivais do que nas décadas passadas. Também tivemos o advento da internet. A informação chega quase que instantânea. Nos anos 1960, às vezes, demorava anos para um filme conseguir chegar a um outro país. Tudo isso começou a mudar nos anos 1990. Filmes argentinos começaram a fazer sucesso na Espanha e na França. Outro fator que atrapalhou foram os anos de ditadura militar na Argentina. Não existia cinema nessa época. E os filmes que foram feitos não tinham nada haver com a realidade argentina e com o povo. Tinham poucos filmes interessantes na época da ditadura militar.
Pela estrutura policial, Viúvas sempre as quintas lembra Cinzas no paraíso,que você dirigiu em 1997. Parece sim, mas eu acho que tem mais haver com O método. Ambos os filmes têm o mesmo tipo de protagonista. Um personagem preocupado com vários tipos de valores sociais. São filmes que falam de um fim de uma era. Em Viúvas, o tema mais importante é a incerteza.
A decadência da família parece ser também um tema recorrente.
Meus filmes representam a minha visão da vida. Não falo sobre uma família específica. Eu acho que o conceito de família está em crise no mundo há tempos. Isso não quer dizer que não acredite no conceito de família. Mas acho que devemos encontrar um outro formato para que futuramente a família possa sobreviver.
Em Viúvas, você trabalha de novo com Leonardo Sbaraglia, depois de Tango feroz, Cavalos selvagens e Prata queimada. E também com Ernesto Alterio,que você fez Tango feroz e O método. Qual o motivo de convidar vários atores com quem já trabalhou antes?
Se procurar, você vai perceber vários atores em diversos dos meus filmes. Isso é confiança. Diretor e ator precisam ter essa relação. Às vezes, eu escrevo pensando no ator e outras não. Mas todos os atores que escolhi foram porque eles podiam expandir o papel. Isso é muito importante no projeto.
Face ao atual momento de crise financeira mundial poucos anos depois de a Argentina ter vivido uma forte crise interna, você tem tido dificuldade de conseguir financiamento para seus filmes?
Por sorte, nunca tive dificuldades (risos). Meu próximo filme terá investimento da Espanha, da França e da Inglaterra.
Pode falar algo sobre o seu novo projeto?
O título provisório é Ismael. Sobre um garoto africano tentando viver na Europa. E o filme já tem financiamento. Só tive dificuldade para financiar meu primeiro filme, mas depois todos eles não tiveram esse tipo de problema.
Tem algum cineasta jovem brasileiro que você gosta?
Dos novos diretores brasileiros, eu admiro o Karim A;nouz. Tive a honra no Festival do Rio de 2006, quando fiz parte do júri, de premiar O céu de Suely. Seu ultimo filme, Viajo porque preciso, volto porque te amo, é sensacional. Eu vi três filmes dele, fora esses dois, também assisti Madame Satã. Ele é um artista. Eu também gosto muito também de Cinema, aspirinas e urubus, do Marcelo Gomes.