postado em 05/10/2010 08:13
Mario Abbade - Especial para o CorreioRio de Janeiro ; O ator Bill Pullman veio a convite do Festival do Rio para o lançamento de Rio sex comedy. O longa dirigido por Jonathan Nossiter foi filmado no Rio e conta com um elenco internacional composto por Charlotte Rampling, Ir;ne Jacob e Fisher Stevens. Eternamente lembrado por interpretar o presidente dos EUA no blockbuster Independence day, Pullman conversou com o Correio Braziliense sobre quase não ter protagonizado o filme de Nossiter, sobre teatro, suas inspirações e os cineastas com que gostaria de trabalhar: Fernando Meirelles, Walter Salles, Paul Thomas Anderson e Quentin Tarantino. Sobre Walter Salles, ele chegou a fazer as leituras do roteiro de On the road, próximo filme do diretor, mas foi descartado do projeto por não ter financiamento americano. Pullman demonstrou ser um profissional antenado em política e chegou a comentar sobre as eleições no Brasil.
Um gosto pelo Brasil
Como Rio sex comedy chegou até você?
Esse projeto iniciou há muitos anos com os outros atores. Eu fui o último a integrar ao projeto. Ninguém sabia quem iria interpretar meu personagem, o embaixador. Quando recebi o convite, tive quatro dias para vir ao Rio de Janeiro conversar sobre o assunto. Eu li o roteiro e fiquei interessado, mas meus agentes foram contra por vários motivos: não tinha uma segurança que seria filmado, se seria pago pelo trabalho, se seguiria as regras do sindicato, se chegaria a ser distribuído, entre outros fatores. Você não imagina a burocracia envolvida. Se vai ser importante para a carreira, se vai ser um bom filme.
Quando esteve aqui para lançar Sob controle no Festival do Rio de 2008, você já estava no projeto?
Sim, já estava. Jonathan comentou que os organizadores do festival pediram se eu podia vir apresentar a sessão de Sob controle.
O filme tem várias situações cotidianas cariocas em que os brasileiros conhecem. Você acha que o público americano conseguirá entender todas elas?
O filme foi exibido mês passado no Festival de Toronto e o público reagiu de forma maravilhosa. Meu sobrinho é professor na Universidade de Toronto e ele adorou. Rio sex comedy é uma combinação de entretenimento, comédia e documentário. O público que não mora no Brasil vai aprender várias coisas interessantes sobre o Rio e o país.
Você já esteve antes no Brasil.
Sim, há 13 anos para o lançamento do Independence day, depois com Gasparzinho, o fantasminha camarada e deve ter um outro filme que não me lembro. Estive aqui com esses fins promocionais sempre em São Paulo.

Sim, obviamente com Fernando Meirelles e Walter Salles. Principalmente se pudesse fazer um personagem que falasse português. Eu trabalhei no filme que Walter está fazendo agora, On the road. Eu conheço o roteirista José Rivera. Ele e o Walter me convidaram para fazer uma leitura do roteiro, mas infelizmente não teve nenhum financiamento dos Estados Unidos e, por isso, não existe uma obrigação de colocar algum ator americano no filme. Está sendo filmado no Canadá, que investiu no projeto, como também a França, entre outros países. A maioria é ator canadense. Tem até uns dois atores americanos quando os personagens eram jovens. Infelizmente não estou no projeto.
Quando você era jovem, qual ator lhe fez querer abraçar essa profissão?
O mais importante foi George C. Scott. Sua atuação em Patton é fantástica. Ele era ótimo nos filmes e no teatro. Eu comecei no teatro.
Você protagonizou no teatro a peça A cabra ou quem é Sylvia?, que, aqui no Brasil, seu personagem foi interpretado por um grande ator, o José Wilker, e dirigido pelo Jô Soares. Como foi essa experiência?
Quando você inicia a carreira de ator, um dos sonhos é interpretar algum papel controverso. Eu fui o primeiro ator a interpretar esse personagem que se apaixona por uma cabra. Hoje em dia esse personagem é famoso, mas, quando entrei para o projeto, muitas pessoas me aconselharam a não fazer, pois era ridículo. Alguns críticos chegaram a se recusar a escrever sobre a peça. E depois do enorme sucesso e ganhar o prêmio Tony (2002), todos falaram bem da peça (risos).
Você trabalhou com David Lynch na A estrada perdida e com sua filha Jennifer Lynch em Sob controle. Qual a diferença?
Foi um dos privilégios da minha vida. Eles possuem métodos diferentes, mas compartilham o tema de explorar o lado perturbador da humanidade.
Você participou de blockbusters e de filmes independentes. Tem lguma preferência?
É um privilégio poder trabalhar nos dois tipos. Eu escolhi meus projetos. Já recusei um salário alto de uma grande produção, pois sabia que não teria prazer no projeto. Como também escolhi outros independentes que achei que seriam prazerosos e não foram (risos). Sem prazer e sem dinheiro (risos). Você se arrisca e não posso reclamar. Sou muito sortudo em poder trabalhar no que gosto.
Qual diretor que você sentiria com vontade de trabalhar
independentemente do filme?
Fora os brasileiros que já citei, eu gosto de cineastas que fazem trabalhos que valorizem algum tema. Acabei de fazer The killer inside me, com Michael Winterbottom, um diretor britânico que sempre quis trabalhar. Eu tive a sorte de trabalhar com Thomas Vinterberg e Lars Von Trier em Querida Wendy. Gostaria de trabalhar com Paul Thomas Anderson e Quentin Tarantino, se ele escrevesse um papel que precisasse do Bill Pullman matando alguém (risos). Adoraria trabalhar com Quentin.
Tem algum projeto novo?
Ainda está tomando forma e se chama Beyond Apollo. Uma ficção científica ambientada no futuro sobre a primeira missão ao Planeta Vênus. Duas pessoas são enviadas: o capitão e um oficial de ciências. E só o oficial retorna. Eu faço o capitão. E a trama é sobre o que aconteceu ao capitão. Surgem diferentes versões. Marca a estreia de Michael Grodner na direção e no roteiro.
Provavelmente você não tem todas as informações sobre a política brasileira, mas domingo passado foi dia de eleição no Brasil. Vamos eleger nosso novo presidente. O voto é obrigatório no Brasil, diferentemente dos EUA.
Eu não sabia que vocês eram obrigados. Eu estou desencorajado, pois na América poucas pessoas votam. Porém, forçar alguém a votar talvez não traga os melhores votos. Muitas pessoas podem acabar votando por interesse pessoal ou por intermédio de algum tipo de suborno. Sem a obrigação, só quem realmente tem uma postura política votaria.
Você votou no Obama nos Estados Unidos? Acha que ele está fazendo um bom trabalho?
Sim. Os tempos são difíceis e perigosos na América. São muitos problemas econômicos para serem resolvidos. Acho que o Brasil tem mais possibilidades de superar esses problemas do que os Estados Unidos. O Brasil é um país de grande potencial e me parece que, apesar das diferenças políticas, as pessoas querem andar para frente. Na América, cada grupo acha que sabe o que é melhor, sem escutar outras opiniões. Não querem ouvir e tentam se destruir a todo o momento. Existe uma enorme intolerância.