Diversão e Arte

Brasília Gourmet revela que novatos da cozinha do DF têm futuro promissor

E provam que os frutos do cerrado rendem receitas elaboradas e muito saborosas

postado em 07/10/2010 08:00
Tatiana, Francisco e Talita: a vitória no Brasília Gourmet serve de impulso para carreiras que estão apenas começandoNa gastronomia, o caminho rumo à excelência é cheio de criatividade e ousadia. É preciso ser original na hora de criar uma receita, pesquisar a origem dos alimentos, apostar em uma apresentação convidativa e, acima de tudo, conseguir harmonia entre os sabores. Foi assim que Talita Cruvinel Marra, 27 anos; Tatiana Maria Costa Meira Maia, 31; e Francisco Natanael da Silva, 33, conseguiram os primeiros lugares no concurso de novos talentos na segunda edição do Brasília Gourmet, evento promovido no fim de semana passado pelo Correio. Os três aprendizes usaram produtos do cerrado para criar pratos inéditos e agora pretendem seguir novos rumos para ajudar a formar a culinária de Brasília.


Foram horas de preparação e muitos testes até chegar ao resultado final. Talita testou entradas e sobremesas, mas decidiu se inscrever apenas na primeira categoria. ;Achei que o tempo estipulado de 50 minutos ia ser pouco para os doces. Mandei a receita, mas nem pensei que poderia ser selecionada, especialmente depois de ver o nível dos participantes do ano passado;, conta a vencedora.

Frenched rack de queixada com canjiquinha, receita criada por Tatiana Maria MaiaNutricionista, Talita sempre gostou de culinária. Fazia banquetes para a família e os amigos, com direito a moqueca e feijoada. ;Sou filha de fazendeiros e meus pais nunca levaram muito a sério a história da gastronomia. Quando terminei a faculdade, fui fazer uma pós-graduação em Paris e lá comecei a ter outra visão. Fiz alguns workshops e aprendi muita coisa. Agora estou sempre inventando alguma coisa na cozinha;, diz.

O clima de Brasília inspirou Francisco Silva a elaborar o Trio do cerrado quente, seco e geladoFoi o namorado quem a avisou do concurso voltado para amadores, estudantes de gastronomia e chefs recém-formados. Talita trabalhou dias na sua criação: Sopa aerada do cerrado. Passada a fase dos testes de sabores, fez a receita cinco vezes antes do concurso, só para garantir que estava tudo certo. Para o prato, a chef se inspirou na gastronomia molecular e elaborou uma espuma de pupunha com torresminho de barriga de queixada cozido em uma redução de jabuticaba, com gengibre e vinho do Porto. ;Meu pai sempre fez muita guariroba refogadinha, mas como ela é muito amarga, resolvi substituir. Fiz testes com vinho tinto e azeite balsâmico até descobrir que a doçura do Porto combinava mais. Usei o sifão, que é maravilhoso, para dar consistência para a sopa;, revela.

Na última sexta-feira, ela preparou e apresentou o prato para o grupo de jurados. Quando recebeu a notícia de que tinha ficado em primeiro lugar, caiu no choro. ;Não imaginei que seria selecionada, muito menos ganhar! Meus concorrentes eram fortes e já tinham certa experiência. Ter sido reconhecida foi uma sensação maravilhosa. Ganhar trouxe mais confiança para mim e, principalmente, para minha família. Agora eu acredito que possa ser uma chef;, afirma a nutricionista, que pretende se inscrever em um curso de gastronomia no próximo semestre.

A Sopa aerada do cerrado, da chef Talita Marra, mereceu o primeiro lugar na categoria entradaPara Tatiana, vencedora na categoria prato principal, o Brasília Gourmet foi a oportunidade de trabalhar com o que mais gosta: os ingredientes da região. ;Vejo muitos amigos que querem ir estudar na Itália, na França e na Espanha, mas eu quero ser uma chef do cerrado. Nasci aqui e vou conseguir mostrar que é possível trabalhar com esses produtos;, revela a estudante de gastronomia.

Depois de muita pesquisa, Tatiana escolheu trabalhar com ingredientes raros na mesa do brasiliense: castanha de pequi, guariroba e cajuzinho-do-cerrado. O próximo passo foi tentar encontrar os produtos para fazer os testes, etapa na qual a família teve um papel importante. Ela e o marido foram para Pirenópolis tentar achar o cajuzinho no meio do mato. ;Fizemos uma trilha e estava quase desistindo quando encontrei. Só reconheci porque meu avô tinha plantado em casa há muito tempo. A guariroba foi presente do meu irmão, que conseguiu encontrar na feira de Vicente Pires. Minha tia também voltou da Chapada com uma bacia de cajuzinho. Se não fossem eles, não teria conseguido nada;, conta.

No fim da aventura, surgiu o prato vencedor: Frenched rack de queixada com canjiquinha. A carne foi marinada na cachaça, frita com um pouco de açúcar e cajuzinho. A canjica se transformou em uma versão do cuscuz marroquino com guariroba e tomate. Agora, Tatiana pretende continuar a levantar a bandeira da gastronomia do cerrado e fazer mais receitas com ingredientes da terra. ;Ganhar foi fantástico e me deu mais impulso. A gastronomia é a minha vida, eu amo o que eu faço. Meu objetivo é fazer um prato clássico que as pessoas comam por muitos anos. Brasília ainda é muito nova, precisamos colocar a nossa culinária em prática, fazer com que as pessoas que moram aqui apreciem o jatobá, a mangaba e o baru;, diz.

Doce
Já Natanael, que levou o prêmio na categoria sobremesa, não tinha tanta familiaridade com os ingredientes do cerrado, que considerava ;seres estranhos;. Natural de Açu, no interior do Rio Grande do Norte, ele veio para Brasília em 2008 para estudar gastronomia. A paixão pela cozinha começou com a mãe, Dona Lúcia, doceira de mão cheia que até hoje vende suas compotas na pequena cidade. Com 7 anos, ele não só ajudava na cozinha como vendia os doces na rodoviária. ;Gosto muito de confeitaria e quero continuar nesse caminho. Quem gosta dessa área sabe apreciar um doce de mamão com coco ou caju em calda;, comenta o estudante, que pretende fazer uma especialização em breve.

Quando resolveu participar do concurso, Natanael testou panquecas, trufas e outras receitas até chegar ao produto que apresentou no concurso: o Trio do cerrado quente, seco e gelado. ;Desde que eu cheguei a Brasília o clima tem sido assim;, brinca o aprendiz. Para representar o tempo seco, uma tuille (casquinha) feita com castanha de baru. O elemento quente foi uma geleia de jabuticaba. E o gelado, um sorvete de pequi. ;Nunca tinha trabalhado ou provado a fruta, só sentia os cheiros nos restaurantes. Mas, por mais incrível que pareça, é um produto forte e doce ao mesmo tempo;, explica.

Na hora do concurso, assim como aconteceu com Talita e Tatiana, ele ficou nervoso e também não imaginava qual poderia ser o resultado. Durante a apresentação, a primeira fornada de tuille queimou. ;Mas não deixei os jurados percebessem o erro. Como ainda tinha ingredientes, fiz outro rapidinho para substituir;, confessa o vencedor. Ele acredita que o prêmio vai criar novas oportunidades para os três. ;Para a gente, que ainda está começando na carreira, é muito interessante. Ganhar um concurso abre muitas portas e novas possibilidades;, conclui Natanael.

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