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Mario Vargas Llosa: vida, obra e polêmica marcaram a literatura latinoamericana

postado em 08/10/2010 07:11
O escritor Mario Vargas Llosa é um dos autores que mais marcaram nas últimas décadas a literatura latinoamericana através de sua aguda percepção da complexa sociedade peruana.

Com 74 anos, Vargas Llosa foi um dos protagonistas do chamado "boom latinoamericano", junto com outros grandes nomes como o colombiano Gabriel García Márquez, o argentino Julio Cortázar ou o mexicano Carlos Fuentes.

Admirado por sua descrição das realidades sociais, no plano político suas posições de direita suscitaram hostilidade em meio intelectual que tende majoritariamente para a esquerda.

"Os latinoamericanos são sonhadores por natureza e temos problemas para diferenciar o mundo real e a ficção. É por isso que temos tão bons músicos, poetas, pintores e escritores, e também governantes tão horríveis e medíocres", assinalou certa vez.

Nascido na sulista cidade de Arequipa, em 28 de março de 1936, em uma família de classe média, foi educado por sua mãe a avós maternos em Cochabamba (Bolívia) e depois voltou ao Peru. Após seus estudos na Academia Militar de Lima, obteve uma licenciatura em Letras e deu, muito jovem, os primeiros passos no jornalismo.

Instalou-se pouco depois em Paris, onde casou com sua tia, Julia Urquidi, 15 anos mais velha que ele (e que inspiraria, mais tarde, o livro "Tia Júlia e o Escrevinhador"), e exerceu várias profissões: tradutor, professor de espanhol e jornalista da Agência France-Presse.

Depois de romper com Urquidi, casou-se com sua prima-irmã Patricia Llosa, com quem tem três filhos.

Vivendo grande parte dos anos 60 em Paris, Llosa se deixou cativar pelo esplendor cultural e político que dominava o país.

"Desde pequeno sonhava com Paris. Estava convencido de que se não fosse a Paris, jamais seria um escritor, que era preciso viver em Paris para ser um escritor porque Paris era o centro da cultura e da literatura", relatou em uma entrevista à AFP, em 2009, em sua casa de Madri, onde vive a metade do ano.

"Foram para mim anos formidáveis: gozava tanto da atmosfera, do ambiente intelectual... Paris ainda era uma cidade aberta, na qual a pessoa se sentia em casa desde que chegava", contou o escritor.

Pouco depois de chegar a Paris, entrou para a Agência France-Presse. "Trabalhamos com um grupo de latinoamericanos e espanhóis, muitos dos quais depois fizeram uma notável carreira jornalística. Formamos um grupo muito simpático e tenho magníficas recordações, inclusive até do prédio, que era muito velho, tremia, e parecia que ia desabar; depois construíram o novo, que existe agora na ;Place de la Bourse;".

Depois, trabalhou na Rádio Televisão Francesa à noite, o que lhe dava mais tempo para escrever.

No final dos anos 60 foi para Londres, porque queria viver na Inglaterra. "Havia um centro que antes estava em Paris e que se deslocou para Londres, com a revolução psicodélica, os hippies", explicou.

Sua longa carreira literária despontou já em 1959 quando publicou seu primeiro livro de relatos, "Los jefes", com o qual obteve o Prêmio Leopoldo Alas. Mas ganhou notoriedade com a publicação do romance "A cidade e os cachorros", em 1963, seguido, três anos depois, por "A casa verde".

Seu prestígio se consolidou com o romance "Conversa na Catedral" (1969).

Seguiram-se depois "Pantaleão e as visitadoras", "Tia Júlia e o Escrevinhador", "A guerra do fim do mundo", "História de Mayta", "Quem matou Palomino Molero?", "Lituma nos Andes" e "O peixe na água" (memórias de sua campanha eleitoral), entre outras.

Entre seus livros mais recentes figuram os romances "A festa do bode", de 2000, "O paraíso na outra esquina", de 2003, e "Travessuras da Menina Má", de 2006, seu último romance publicado.

Incursionou também no teatro, onde há dois anos estreou, em Madri, "Ao pé do Tâmisa".

Com sua obra traduzida para 30 idiomas, Vargas Llosa distinguido com o Prêmio Cervantes, o Príncipe das Astúrias de Letras, Biblioteca Breve, o da Crítica Espanhola, o Prêmio Nacional de Romance do Peru e o Rómulo Gallegos.

Na política passou de seu apoio entusiasmado (e posterior rejeição) à revolução cubana a posições conservadoras nos anos 80, as mesmas que defendeu quando foi candidato à presidência do Peru em 1990.

Estava a ponto de ganhar quando apareceu o desconhecido agrônomo Alberto Fujimori, que acabou eleito.

Sua participação desde então na política peruana tem sido marginal, e se limita a ter aceitado, no ano passado, a dirigir o Museu da Memória sobre a guerra interna do período 1980-2000, apesar de ter renunciado no mês passado por suas divergências em relação a um decreto do governo que beneficiava os violadores dos direitos humanos.

Politicamente foi seduzido por Fidel Castro, mas, em 1971, rompeu com a revolução castrista ante o caso do poeta Heberto Padilla, obrigado pelo regime a fazer uma "autocrítica".

Seus últimos dardos no plano internacional foram lançados contra o presidente venezuelano, Hugo Chávez, a quem define como um "caudilho messiânico".

Teve uma grande amizade com o escritor colombiano Gabriel García Márquez, que terminou abruptamente num incidente confuso que ambos preferiram não comentar. "Que os biógrafos se encarreguem desse tema", afirmou certa vez.

A plenitude que Vargas Llosa reconhece em sua vida literária contrasta com as frustrações que viveu em sua vida política.

Depois de seu fracasso político voltou às letras, de onde - segundo disse - jamais deveria ter saído.

"Escrever é um trabalho que requer perseverança, horários, impor-se uma disciplina e respeitá-la, e creio que isso é fundamental. A razão pela qual me submeto com tanta facilidade a essa disciplina em meu trabalho é porque não tenho a sensação de que seja um trabalho, e sim um prazer", explicou.

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