Diversão e Arte

Tropa de elite 2 movimenta os cinemas do DF com sessões lotadas

Ricardo Daehn
postado em 11/10/2010 13:32
O casal Elisabeth Paranhos e Everton Freitas lamentou que o filme não tivesse estreado antes do primeiro turnoEnquanto o tremor de terra atingia a Esplanada dos Ministérios, na última sexta, os ingressos esgotados e as inflamadas reações dos primeiros espectadores, nas filas de cinema, prenunciavam outro estrondo a postos para atingir, em cheio, a imagem da capital brasileira: Tropa de Elite 2 ; O inimigo agora é outro. ;Achava que meu herói nacional fosse o Amyr Klink, mas agora sei que é o Capitão Nascimento (Wagner Moura). Ele teve coragem de ir contra o sistema e jogar toda a sujeira no ventilador. O momento eleitoral é muito oportuno para o lançamento do filme. É claro que Brasília tem que estar representada: se o esgoto não parte daqui, a cidade, pelo menos, recebe tudo o que vem para cá. Acho essa continuação do filme ainda melhor. Tem bem a cara do Brasil atual, com a podridão que não está restrita à bandidagem e circula em todas as camadas, junto com a impunidade;, comentou o administrador Gilnei Lima, 44 anos, que vê o longa servindo de ;válvula de escape; para a sociedade brasileira.

Com conhecimento de causa, mas suspeito, na condição de realizador de Tropa 2, José Padilha é taxativo e mordaz: ;A única conjuntura para que o filme fosse panfletário seria se o Congresso Nacional fosse totalmente honesto, ninguém estivesse roubando nada no Brasil, não existissem crimes relacionados à Segurança Pública e as milícias fossem uma mentira. Quando, por exemplo, há a cena aérea do Congresso Nacional (relacionado a falcatruas), ouvi de um amigo: ;fiquei com medo de que a imagem virasse para a esquerda e apresentasse o Palácio do Planalto;;.

Espectador atento do primeiro Tropa e do novo filme, o servidor público Thiago Melo, 27 anos, confessa que, ao assistir (em DVD), ao primeiro longa, pensou: ;Esse filme não vai para o cinema, não;. Passados três anos, com a continuação da fita, ele presenciou a incandescente resposta à cena de agressão protagonizada pelo tenente-coronel Nascimento que leva um deputado a nocaute, em ensanguentado capô de luxuoso carro. ;A plateia incentivou com gritos de ;toma ;, toma, mesmo!’ No contexto geral, acho que a postura do Nascimento passa do limite, mas é difícil julgar, já que o crime atinge a um personagem que é pai de família e tem dependentes. Outra coisa bem chocante foi ver a consequência do Capitão Mathias (André Ramiro) peitar o chefe da milícia;, observa Thiago Melo.

;A gente não quer mais a impunidade. Já estamos anestesiados, em termos de absorver violência. Por isso, achei melhor do que o primeiro filme. O diretor soube puxar orelhas, mostrando tantas coisas que queremos dizer. Não é à toa que termina com a imagem de Brasília, e a carapuça serviu;, analisa a bibliotecária mineira Cláudia Vilela, 45 anos. Vislumbrando ;associações oportunas; com a realidade nacional, ela acha que temas como a projeção dada à validação dos direitos humanos (;que, muitas vezes, ignoram a vítima;) são bons ;para dar uma chacoalhada nas pessoas;. ;Acho o personagem que coordena a ONG (o professor Fraga, interpretado por Irandhir Santos) um palhaço. A gente se pergunta: ;cadê o apoio das entidades humanistas para a viúva, para aquele filho que fica sem mãe?; O herói é Capitão Nascimento. Ele é muito mais do que um ator do Big Brother ou um Wolverine! Herói é quem sobre morro para enfrentar bandido. Por R$ 800, eu não subiria nem para vender pipoca;, enfatiza.

Carapuça de herói
;Óbvio que o Nascimento é um grande herói. O filme, na verdade, traz todo mundo tentando impor a própria filosofia, e isso, gera uma guerra: ninguém se olha mais, ninguém mais se escuta. Para alcançar metas, as pessoas estão se esquecendo de trocar, o que é o mais importante para a vida;, opina André Ramiro, ator que dá vida ao Capitão Mathias. ;Quinze anos depois, na trama, o Nascimento não é mais o mesmo. Tive que me desprender do primeiro filme. O personagem já era um homem frágil: ele tremia a mão o tempo todo, tinha síndrome do pânico e travava quando ia escalar montanha. Acho que ele está mais consciente, inclusive da própria fragilidade. Nascimento serviu a propósito que acreditava ser nobre, mas descobriu que era peça num quebra-cabeça escroto;, comenta Wagner Moura.

Entre os elementos do pérfido jogo que invade as telas em Tropa de elite 2 está a violenta narrativa gráfica ; embalada pela descrença na coerção policial ; que acopla cenas como a breve (e nada shakespeariana) exposição de um carbonizado crânio. ;Achei a violência apropriada, por causa do tema revelado. Agride, mas mostra a realidade;, avalia a estudante Renata Cotta, 24 anos. ;No filme, acho que o herói toma um choque de realidade;, completa o namorado dela, Carlos Eduardo Carneiro. O contundente fardo reservado à imagem de Brasília não irritou o funcionário público. ;Não me agride, porque o esgoto brasiliense é proporcionalmente pequeno, em termos de quadro político. É como disse a um colega, no fim do primeiro turno: temos que mandar um ;Obrigado, Brasil, por mandar o lixo para cá;.

;Acho injusto associar o câncer social da corrupção pairando por aqui: Brasília não se limita aos políticos. Temos funcionários públicos e uma iniciativa privada desenvolvida;, defende o militar Everton Freitas, vigilante com ;sofismas; defendidos por José Padilha. Descontente com o ;desprestígio; da Polícia Militar na primeira fita ; ;limitada à atuação do Bope; ;, Freitas se satisfez com a contextualização da violência. ;Já estive em missão de paz, e existem coisas da natureza do que é mostrado no filme para pior;, argumenta. Mulher do militar, a médica Elizabeth Paranhos, uma carioca que já foi assaltada, presenciou arrastão e já fugiu de blitz (;na marcha a ré, por não saber quem comandava a operação;), lamenta que Tropa de elite 2 não tenha estreado antes das eleições. ;Que governador vai acabar com a milícia que rende 300 mil votos para ele? O filme exprime a realidade nua e crua. Em termos de violência, ainda achei que até foi brando e ocultou muita coisa. Basta lembrar que um Fernandinho Beira-Mar é classificado como ;quinto escalão; da bandidagem;, conclui.

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