O curador holandês Pieter Tjabbes levou cinco anos para convencer o Museu Escher, em Den Haag (Holanda), que era possível realizar uma grande exposição do artista no Brasil. Conseguiu. Um pouco graças a Rembrandt. Realizada com sucesso em Brasília em 2002, uma exposição do mestre do retrato holandês ajudou a provar a excelência do trabalho de Tjabbes. Agora, a mostra O mundo mágico de Escher, que comemora os 10 anos do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), traz, a partir de hoje, a Brasília 85 obras originais e uma sala interativa concebida para ajudar a compreender o universo do artista.
Apenas três coleções de gravuras de Maurtis. C. Escher estão disponíveis para circular por museus estrangeiros. O lote que visita Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo ficará guardado durante quatro anos nas gavetas do museu holandês antes de ser exposto novamente. ;Quis dar um panorama completo da carreira de 50 anos. A maioria das pessoas conhece o Escher por 15 ou 20 imagens, que circulam pelo mundo, mas ele foi um artista muito completo;, garante Tjabbes.
Maurits C. Escher (1898-1972) era um cara de enigmas. Fascinado por matemática e intrigado com as limitações do olho humano, ele passou a vida a investigar como transpor para as duas dimensões da folha de papel as perspectivas imperceptíveis à visão humana. A escada que sobe e desce ao mesmo tempo, a água que cai para cima ou a sala na qual o chão parece teto são imagens bastante conhecidas do artista holandês nascido no final do século 19. Nos anos 1920, influenciado pela carga decorativa da art déco, ele começou a explorar o ilusionismo em desenhos posteriormente transformados em litogravuras.
Desprezado pela crítica da época por conta do caráter decorativo da gravuras, Escher ganhou a simpatia dos cientistas, especialmente dos matemáticos. ;Ele era muito preocupado com a perspectiva e conceitos de eternidade, de procurar o sentido da vida e, de alguma forma, ele encontrou isso nos conceitos matemáticos. Debruçava-se sobre as formas de preenchimento do papel e foi muito longe nisso. Consegui desenvolver técnicas matemáticas que não são aplicadas com rigor científico, mas os matemáticos encontraram nas imagens a ilustração das teorias que só conseguiam representar com fórmulas e palavras;, explica Tjabbes.
O descaso da crítica europeia foi substituído pelo enorme sucesso quando os norte-americanos descobriram o artista nos anos 1950. Escher saiu então do marasmo e precisou atender à intensa demanda pelas tiragens. Suas gravuras nunca receberam numeração, embora não tirasse mais de 200 de uma mesma matriz. Escher se considerava um artista gráfico. Chegou a fazer algumas esculturas e aquarelas, mas nunca pintou uma tela. A obra é marcada por um repertório de enigmas recorrentes, como as escadas, as perspectivas infinitas, os espelhamentos, a brincadeira com a gravidade e as distorções. ;O que ele faz é uma tentativa de nos confundir, na posição de questionar o que vemos. Ele usa o espelhamento para mostrar o que nosso olho não consegue ver;, avisa Tjabbes.
Azulejos árabes
Escher passou anos debruçado sobre as técnicas e possibilidades de divisão do plano. O fascínio começou em 1922, quando visitou ospalácios de arquitetura moura de Granada, na Espanha. As repetições dos motivos dos azulejos árabes instigaram o artista.
Mosaico de idéias
Arquitetura, repetição de padrões, jogos espelhados, simetrias, metamorfoses, combinações de formas côncavas e convexas, situações impossíveis, perspectivas infinitas e gravidade são algumas das ideias que compõem o repertório do artista.
SALA DOS ENIGMAS
Pieter Tjabbes e os artistas Marcos Muzi e Luís Felipe Abbuti transformaram uma das galerias do CCBB em espaço interativo para aproximar o público do universo de Maurits C. Escher. Com ajuda de espelhos e técnicas de ilusionismo, a Sala dos Enigmas retoma algumas experiências presentes nas gravuras do holandês em seis ambientes marcados por espelhos, anamorfoses, distorções e periscópios que levam o público a duvidar do próprio olhar. ;A ideia é mostrar que nosso olho é facilmente enganável. A exposição é um equilíbrio entre o sério e o lúdico para ajudar o público a entender melhor os conceitos do Escher, mas não é um parque de diversões;, alerta Tjabbes. Na sala multiuso, um filme em 3D proporcionará ao espectador a sensação de passear pelo interior das gravuras e, na marquise do CCBB, um quebra-cabeça, um jogo de objetos com espelhos e um Ames Room, muito usado no cinema para criar ilusões de gigantismo e nanismo, estão à disposição do público.
O MUNDO MÁGICO DE ESCHER
Exposição de obras de Maurits C. Escher. Curadoria: Pieter Tjabbes. Visitação até 26 de dezembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB ; SCES, Trecho 2, lote 22).