Acostumado a incorporar contrapartidas no âmbito social, na direção do PercPan (Panorama Percussivo Mundial), o instrumentista Marcos Suzano contribuiu com aulas de pandeiro no projeto Tambores do Brasil, que encerrou, com público modesto, no estacionamento da Caixa Cultural, uma série de iniciativas musicais ligadas à percussão. Pouco antes de integrar a jam session ; ;para todos simplesmente tocarem, sentindo-se à vontade; ;, o carioca repassava conhecimentos, antenado no ;metrônomo interno; dos alunos.
;Um bom pandeirista tem que ter senso de ritmo, entender os tempos fortes e controlar a acentuação das batidas. O domínio das melodias vem, depois, pela criatividade;, explicou Suzano, à frente de 18 aprendizes. Ele é fundador do Aquarela Carioca e parceiro de medalhões como Gilberto Gil, Djavan e Sting.
;É como um cavalo que, já selado, passa na sua frente;, comparou o servidor público Fábio Liberal, 41 anos, ao falar da oportunidade aproveitada e que complementa os estudos de percussão na Escola de Choro. A ;casualidade; o levou ao aprendizado ;íntimo e informal; com o mestre Marcos Suzano ; ;que demarca um antes e depois, na música percussiva;. ;É um aprendizado que mostra o caminho à sociedade, desvia a molecada de ficar com muito tempo livre;, avaliou Rafael da Paixão que, aos 17 anos, integra o projeto Sons da Cidadania, sediado em São Sebastião.
Pela terceira vez na cidade, o projeto entusiasmou o brasiliense Leander Motta, outro regente especializado em congada, marujada, catira e jongo. ;Muitas vezes, os grupos originais folclóricos não têm muito a oferecer em termos de mercado;, contou Motta, feliz com o fato de ;Brasília estar assinando a maturidade na percussão com esse projeto;. ;Praticamos aqui todos os fundamentos: sonoridade, técnica virtuose, subdivisão rítmica, voz e compassos compostos. Buscamos uma linguagem mais orgânica e tribal e a sonoridade dos tambores com essência voltada para a atividade de grupo, mais até do que para o resultado musical.;
Cidade junta
Fruto do projeto, criado há seis anos, a moradora do Jardim ABC (perto da Cidade Ocidental) Raquel de Sousa, 17 anos, depois de seguir o mestre Maurício Tizumba, redefiniu o guia musical pela nova experiência com Hermógenes Araújo, no comando de candomblé e sambas de roda e reggae. ;É um outro som, outro ritmo. Nisso, dou minha vida: não paro. Não vivo sem a música;, disse a estudante. ;Se tocasse sozinha, não teria o mesmo ânimo. Cada um precisa de todos, aqui. Se for só um, que toque teclado;, completou. ;É um trabalho de apreciação e um diálogo muito forte ligado ao improviso. A gente faz uma troca livre. Na música, não há barreiras, como mostrou o Villa-Lobos;, sublinhou Hermógenes Araújo, professor e um dos regentes dos 60 instrumentistas que compareceram para o encerramento das ações, com adesão estimada de 550 participantes das oficinas, do Tambores do Brasil.
A cidade, por sinal, teve participação efetiva com membros dos grupos Congonya e Vida, enquanto Ceilândia esteve representada pelo projeto Entorno das Artes. Rafael da Paixão, que montou o tambor (com materiais reciclados, na oficina Bandodipapel), nos preparativos da Orquestra de Percussão, enfrentou o desafio mais complexo: ;Memorizar os toques;.