Diversão e Arte

Artistas levam aos recantos do DF projeto que resgata o melhor da MPB

postado em 12/10/2010 08:00
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Criança ao lado de George Lacerda descobre a batida do pandeiroEles estão acostumados à lonjura das cidades, ao isolamento e à escassez de programas culturais. Mas, desde o começo de setembro, o contato com a música brasileira vem estampando sorrisos nos rostos de alguns desses estudantes de escolas rurais do Distrito Federal. Muitos nem sequer conhecem Brasília, mas, graças ao empenho de três músicos da cidade, estão sendo apresentados ao pandeiro, à viola caipira, ao xote, ao forró e a outras pérolas produzidas muito além da região onde vivem.

Na primeira edição do projeto Intervalo cultural, em 2007, o violeiro Cacai Nunes, ao lado de George Lacerda e sua percussão e do baixo elétrico de Vavá Afiouni, levou as tradições brasileiras às escolas rurais do Paranoá e de Planaltina. ;Queremos atender pessoas que realmente não têm acesso a nenhum tipo de manifestação cultural. Para muitos deles, a escola é o único espaço de convívio social e, nas casas de alguns, nem comida tem;, comenta Cacai. A segunda edição, que se estenderá pelo mês de outubro, já visitou seis escolas. Só em um dia, foram três instituições, que obrigaram o trio a rodar mais de 200km. A saga parece ter valido a pena: ;Esse é o tipo de projeto que mais nos alimenta e traz satisfação. Sorriso de criança não tem preço;, comemora.

Alunos exibem cartilha que ensina noções de música: som brasileiro chega às comunidades mais carentes do DFE por onde passam, certamente, eles arrancam sorrisos. Depois de receber a visita dos artistas, há duas semanas, a diretora da escola classe do Núcleo Rural Capão Seco, Consuelo Ferreira, diz não ter palavras para descrever os efeitos da iniciativa nos cerca de 150 alunos, de 4 a 10 anos, que participaram do encontro. ;Eles ficaram fascinados diante de uma realidade muito distante da que vivem. Muitos não teriam acesso a música de qualidade tão boa, nem na vida adulta;, elogia. Mais seis escolas serão escolhidas para a imersão em ritmos brasileiros.

Cada visita musical, que funciona como um intervalo às matérias oficiais ; daí o nome do projeto ;, dura pouco mais de meia hora. Se os músicos se animam e perdem a noção do tempo, a brincadeira não tem hora para terminar. O roteiro passeia por ritmos como samba, forró e coco, apresentando compositores, instrumentos e suas possibilidades de uso. ;A meninada fica atenta, até porque brincamos que depois vai ter prova. A primeira música que tocamos é Brejeiro, um maxixe composto por Ernesto Nazareth. No fim, quando perguntamos sobre a primeira música, todos sabem que é um maxixe;, brinca Cacai Nunes. A intenção, reforça ele, não é criar gênios infantis ou fazê-los decorar uma cartilha musical. Trata-se, simplesmente, de permitir que a criançada saiba o que existe no grande espectro da música brasileira.

Depois do maxixe, eles revelam à ávida plateia uma sequência de clássicos do cancioneiro nacional, como Baião, de Luiz Gonzaga; Chiclete com banana, de Gordurinha; Vatapá, composta por Dorival Caymmi, além de cantigas de roda, como Cálix bento e Peixinhos do mar, que a meninada acompanha a plenos pulmões. Dia desses, os alunos se sentiram tão à vontade que pediram um improviso de hip-hop e uma palhinha de Michael Jackson, no que foram prontamente atendidos.

Espanto

Outro momento de curiosidade extrema é quando George Lacerda apresenta os instrumentos de percussão. Um deles é o cajón, espécie de caixa acústica inventada no Peru, semelhante a um bauzinho. Quando ele se senta e começa a tocar o ;banquinho de madeira;, a reação é de espanto geral. ;As crianças do fundão se levantam pra ver. Os chocalhos feitos de semente também impressionam pela riqueza de sons;, avalia.

Diante do sucesso da empreitada, muita gente questiona se os músicos não pretendem levar o Intervalo cultural a escolas da cidade. Mas o foco do projeto está bem definido: ;Não quero desmerecer o urbano, mas muitos projetos já chegam a essas escolas. Quero ver criança com brilho nos olhos sempre que vê algo diferente;, observa o violeiro.

Para ele, iniciativas semelhantes não deveriam ser fruto de idealismo dos artistas, mas políticas culturais de todo e qualquer governo. ;As secretarias de Educação e Cultura poderiam ter a sensibilidade de criar uma parceria contínua, seja estimulando músicos locais a levarem sua arte a essas escolas, seja mobilizando professores ou até mesmo criando um coral para fazer essas apresentações;, sugere. Demanda não vai faltar. ;Os pais dos meninos estão agradecidos pela oportunidade e muitos alunos já me perguntaram quando eles vão voltar à escola;, salienta a diretora Consuelo Ferreira.

A agenda

Os novos locais e datas ainda não foram definidos, mas as próximas escolas a serem selecionadas devem se situar ao sul do DF, como, por exemplo, Gama e Recanto das Emas. Na primeira edição, em 2007, e nos eventos já realizados em 2010, cidades da Saída Norte foram privilegiadas.

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