Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Fernando Calixto se apresenta no Teatro Nacional interpretando clássicos


Sem sombra de dúvida parece cena de filme: um jovem, com apenas 12 anos de idade, é apresentado por obra do destino ao piano. Através dele, percebe o poder de expressão que a música clássica poderia lhe dar. Mesmo sem ter parentes que se dediquem a esste tipo de arte, o menino se apaixona pelo instrumento e passa a dedicar sua vida ao estudo e a sua profissionalização como pianista. ;Minha mãe comprou um tecladinho de brinquedo para o filho de uma amiga. Como era criança, fiquei enciumado e acabei ganhando um igual. Me apaixonei, e a partir daí, a música se tornou minha companheira;, narra o rapaz.


Esse quase roteiro hollywoodiano é a biografia resumida de Fernando Calixto. Hoje com 26 anos (14 após o presente que mudou sua vida), o pianista mineiro, natural de Uberaba, volta a Brasília para, assim como quatro anos atrás, subir ao palco da Sala Martins Pena (Teatro Nacional). Depois de se apresentar em Viborg, na Dinamarca; Selenogorsko e São Petersburgo, na Rússia; e Santiago, no Chile; o Distrito Federal volta a integrar sua agenda para um único concerto hoje, às 21h. Dessa vez, o público brasiliense poderá contemplar gratuitamente a interpretação de Fernando para os clássicos de Beethoven, Chopin, Claude Debussy, Alexander Scriabin, Franz Liszt e Villa-Lobos. ;Quis montar um programa bem variado, passando por vários períodos, como o classicismo, o romantismo e, obviamente, a música brasileira;, explica.


A relação entre o músico e a capital não é de hoje, já que seu bacharelado na área foi conquistado exatamente na Universidade de Brasília (UnB). O currículo de Fernando é consistente: além da graduação, o jovem talento também já concluiu mestrado em piano pelo Conservatório de São Petersburgo, onde foi condecorado com o diploma vermelho, concedido exclusivamente a alunos com nota máxima nos exames finais e em 75% do curso; e concluiu cursos com professores de renome, como Nadezhda Eysmont, Ivan Mikhailov e Irina Kusonskaya.


O pianista, que hoje reside na Rússia onde permanece se dedicando à carreira, enfatiza que prefere não se arriscar quando o assunto é criação. Canções próprias não costumam fazer parte dos planos do artista. Segundo ele, apesar dos verbos suscitar e interpretar caminharem juntos na música, representam lados diferentes de uma mesma face. ;Tentei compor na infância, mas sempre tive fascínio por interpretar e buscar não só o que o compositor queria dizer, mas também meu próprio eu através das canções;, conta.

Fernando Calixto

Sala Martins Pena (Teatro Nacional, Setor Cultural Norte, Via N2; 3325-6256). Hoje, às 21h, concerto com o pianista interpretando clássicos de Beethoven, Chopin, Claude Debussy, Alexander Scriabin, Franz Liszt e Villa-Lobos. Entrada franca. Não recomendado para menores de 16 anos.


Três perguntas para Fernando Calixto:

Qual show mais marcou sua carreira?

Cada show é único, mas na semana passada tive um concerto solo em Santiago, no Chile,e apenas tratei com a produção sobre datas e horários. Cheguei sem saber muito bem aonde ia tocar. Ao chegar, vi que seria em uma sala muito prestigiada e que toda a produção se empenhava para dar o seu melhor. Na plateia, 800 pessoas me assistiram. O que é muito para uma apresentação de piano solo. Essas coisas que tornam cada show especial.

Quais as principais diferenças você destaca entre o público brasileiro e o russo?

De certa forma são parecidos. Os dois são muito calorosos, mas o conhecimento musical na Rússia é fator formativo do individuo enquanto cidadão. Desde a infância os concertos ocupam lugar na rotina dos russos. Porém, sempre acredito que a música não é elitista e até um leigo no assunto pode dizer o que é bom ou não, partindo do que é agradável para seu próprio corpo e audição.

Você acha que falta incentivo para a música clássica nacional?

Impossível dizer que não falta, porém existem muitas pessoas que querem ajudar. O nosso país já faz parte do cenário mundial, mas o que falta é um trabalho de base para formação do público, ou seja, para que cada cidadão possa compreender, não necessariamente tocar, e desfrutar melhor da musica clássica. Isso pode inclusive ajudar a sanar diversos problemas sociais. Precisamos inserir música clássica no cotidiano brasileiro.