Diversão e Arte

Beto Barata lança livro com imagens do fundo do Paranoá

Nahima Maciel
postado em 13/10/2010 07:17
Destroços de uma obra captados nos mergulhos que o fotógrafo fez no ParanoáNo leito do Lago Paranoá, na região da Barragem, repousa uma boneca amarrada com panos a uma haste fincada na areia. Está lá desde que um professor de mergulho elegeu o lugar como área de batismo dos novatos na prática. Às vezes, assusta os mergulhadores pouco experientes. Às vezes, faz rir. O fotógrafo Beto Barata ficou impressionado com o objeto. É do time dos assustados. Só quando retornou à superfície descobriu a origem da boneca. E passou dias a matutar o que mais haveria por ali. Durante as férias, como descanso da atividade fotojornalística no jornal O Estado de S. Paulo, decidiu descobrir. Da paisagem subaquática chegou à superfície e encontrou uma cartografia cheia de histórias. Brasília submersa, que Barata inaugura hoje no anexo do Museu da República, nasceu assim.

A exposição conta com 51 fotografias sobre a vida ambiental, humana e arquitetônica à beira do Lago e rendeu livro homônimo. ;É um documento fotográfico do Lago resgatando a memória submersa;, avisa Barata. Nas 24 imagens realizadas fora da água estão as várias facetas dos frequentadores do Lago, além de sua flora e fauna. O contraste entre a Brasília endinheirada e a realidade de quem vive na periferia ficam explícitos nos registros da lanchas de luxo e nos churrascos em família nas margens. ;O Lago é elitizado;, constata o fotógrafo. ;A população mais carente frequenta as margens e, com esses empreendimentos imobiliários à beira lago, o espaço para a população está ficando restrito.;

A situação ambiental também é um dos focos de Barata. Os objetos e lixo jogados nos córregos que desaguam no Paranoá já provocaram a redução dos 40km originais de lago. Agora são 35km. ;Ele está secando por causa do assoreamento.; Debaixo da Ponte JK, o fotógrafo mergulhador encontrou enorme quantidade de depósito de lixo, restos deixados pela empresa contratada para construir a obra. ;Varreram a sujeira para debaixo da ponte;, lamenta. Garrafas pet e latas de cerveja são outro problema. Eles ocupam o lugar que deveria ser reservado exclusivamente à fauna marinha. Mas vida aquática é variada e Barata encontrou até mesmo tartarugas. ;Apesar de a água estar limpa e apesar de um processo de limpeza que o governo realizou há 20 anos e com o qual gastou um dinheiro enorme, o lago continua sujo.;

Imagens da antiga Vila Amaury, que chegou a abrigar 60 mil pessoas, principalmente operários empregados na construção de Brasília, completam a parte subaquática da mostra. Para dialogar com as imagens, Barata também levou objetos resgatados na vila e hoje integrantes do acervo do museu do mergulhador José Ricardo. As casas cinematográficas que povoam as margens das pontas sul e norte também entraram para a documentação de Brasília submersa, mas configuram uma parte menor do trabalho. São 24 fotografias tradicionais e 24 subaquáticas, além de três painéis. Para as imagens realizadas durante os mergulhos, o fotógrafo criou molduras em forma de aquário. Uma fina lâmina de água serve de véu aos registros.

Brasília submersa

Exposição de fotografias de Beto Barata. Abertura hoje, às 19h, no Anexo do Museu da República. Visitação até 5 de novembro, de terça a omingo, das 9h às 18h30.

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