Agência France-Presse
postado em 15/10/2010 12:19
Sarajevo - A atriz Angelina Jolie afirmou nesta sexta-feira que deseja reunir-se com as vítimas da guerra para esclarecer os mal-entendido depois que as autoridades da Bósnia revogaram sua autorização para rodar no país algumas das cenas de seu primeiro filme como diretora.
[SAIBAMAIS]Angelina Jolie, embaixadora da boa vontade do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), manifestou a vontade de encontrar as mulheres vítimas da guerra entre as comunidades muçulmana e sérvia de 1992-1995, segundo uma mensagem difundida pelo Acnur em Sarajevo.
"Tenho um grande respeito pela obra da associação Mulheres Vítimas da Guerra (...) e gostaria de ter a oportunidade de falar com elas pessoalmente para esclarecer qualquer mal-entendido sobre este projeto", afirmou Jolie segundo o comunicado.
"A decisão de realizar um filme sobre esta região e de colocá-la na História tem a finalidade de recordar às pessoas o que aconteceu na Bósnia há pouco tempo e chamar a atenção para os sobreviventes da guerra", destacou a atriz.
"Minha esperança é que as pessoas não façam nenhum julgamento até que tenham visto o filme", acrescentou.
A decisão de anular a autorização das filmagens casou polêmica em Sarajevo, onde muitos esperavam pela chegada da estrela de Hollywood.
A diretora bósnia Jasmila Zbanic, cujo filme "Grbavica" ganhou o Urso de Ouro na Berlinale de 2006, denunciou o ato "primitivo e totalitário" das autoridades.
Gabrilo Grahovac, ministro da Cultura da Federação Croato-Muçulmana, uma das duas entidades da Bósnia, anunciou na quarta-feira que anularia a permissão de filmagem em território bósnio do longa-metragem de Angelina Jolie.
O ministro voltou atrás em uma decisão tomada em setembro pelo mesmo Ministério, depois de uma reunião com membros de uma associação local de mulheres muçulmanas estupradas durante a guerra da Bósnia, num episódio de limpeza étnica.
A imprensa bósnia argumentou recentemente que o filme tratava de uma história de amor entre uma mulher muçulmana violentada e seu carrasco, um sérvio, durante a guerra entre as duas comunidades que devastou a Bósnia na década de 90.
Para que Angelina Jolie possa obter novamente a autorização para filmar na Bósnia, será necessário que o filme conte "uma história diferente da que é conhecida hoje, depois do que nos disseram às pessoas que leram o roteiro", decidiu o ministério.
O script, como foi descrito pela imprensa bósnia, indignou associações de vítimas da guerra.
"A história é baseada em uma mentira. Entre os milhares de testemunhos de mulheres estupradas durante a guerra, não existe um que conte uma história de amor entre a vítima e seu carrasco", disse à AFP Bakira Hasecic, presidente da associação "Mulheres vítimas da guerra" de Sarajevo.
Mas o co-produtor bósnio do filme, Edin Sarkic, responsável pela empresa "Scout Film", negou veementemente essa versão e declarou à AFP que somente na quarta-feira entregou o roteiro para o Ministério da Federação Croato-Muçulmana.
"Todos julgam as coisas sem mesmo saber do que se tratam, já que ninguém leu o roteiro", enfatizou Sakic à AFP.
Segundo a revista americana Variety, o filme trata simplesmente de uma história de amor entre um sérvio e uma bósnia no início da guerra e da influência do conflito em seu relacionamento.