Diversão e Arte

Vanessa da Mata antecipa lançamento de seu quarto disco de estúdio

postado em 16/10/2010 09:20
BICICLETAS, BOLOS  E OUTRAS ALEGRIAS   Quarto disco de estúdio de Vanessa da Mata. Lançamento Sony Music, 12 faixas.O título lúdico diz muito do novo disco de Vanessa da Mata. Um clima de leveza e alegria predomina em Bicicletas, bolos e outras alegrias, mesmo quando trata de temas geralmente amargos, como os desacertos do amor. O que à primeira vista parece um conceito que desenhou o álbum foi, na verdade, ;consequência natural;, diz Vanessa. ;Tive que fazer o disco dentro das coisas que eu já tinha, a maioria recente, então é um reflexo da minha fase atual. Estou mais alegre.; Nos planos da cantora, este, que é seu quarto disco, deveria sair em 2011, mas o projeto foi aprovado pelo edital do Natura Musical e teve que ser antecipado.

Diante disso, ela se recolheu durante um fim de semana para ver o que tinha de material. Chegou à segunda-feira com cinco músicas prontas ; Vê se fica bem, O tal casal, Fiu-fiu, Bolsa de grife e Moro longe. ;Vi ali que tinha um núcleo bom para o disco;, lembra. A essas se juntaram canções como Meu aniversário, composta por Vanessa quando se encontrava de férias em Salvador, no dia de seu aniversário, 10 de fevereiro. ;Eu estava com muito bom humor, como sempre estou nos meus aniversários. Tem gente que fica mal, que pensa só no fato de estar envelhecendo. Eu amo.;

Também na temporada baiana surgiu Quando amanhecer, parceria com Gilberto Gil, que canta com ela no disco. ;A gente só se conhecia de encontros casuais, essas coincidências que a carreira proporciona. Mas Flora (mulher de Gil) soube que eu estava lá e me chamou para ir à casa deles. Sentamos na varanda, mostrei coisas minhas antigas e Gil, as dele. Daí começamos a improvisar e saiu Lá vem ela, que ele gravou no Fé na festa. Voltei outras vezes e acabamos compondo Quando amanhecer;, conta Vanessa.

Leveza
Autora de 10 das 12 faixas, Vanessa diz que o álbum é reflexo de sua fase atual: Além de Gil, a única parceria que aparece no repertório é Lokua Kanza, em Vá, o momento mais triste de Bicicletas;. Não por acaso, a composição mais antiga, ;de antes do primeiro disco;, informa Vanessa. ;Mandei essa música para uma cantora e ela me devolveu e falou: ;Não posso cantar, não consigo; ouvi, aprendi, mas quando comecei a cantar eu só chorava;.; No entanto, a lenta levada de reggae dá à canção uma leveza que compensa a dor cantada na letra. ;E no fim ela levanta-se, dá a volta por cima;, observa, bem-humorada. A forma positiva de encarar o drama romântico, aliás, parece ser característica da artista. ;Canto como uma mulher de agora, que não acredita mais que a única forma de ser feliz é ter um homem em sua vida, que sem ele ela vai morrer. O drama, para mim, tem sabor hilário, eu o trato com certa ironia;, analisa.

Também chama a atenção o olhar aguçado de cronista, de compositora que encarna personagens e situações que vão além do próprio umbigo. Como a determinada moça que mora longe e impõe condições para ir à casa do amado (Moro longe). Ou aquela que percebe que engordou ao vestir uma calça velha, mas é compensada com um fiu-fiu ao passar diante de uma obra (Fiu-fiu). Ou a outra que compra uma bolsa caríssima para curar as frustrações (Bolsa de grife); ;Acho mais interessante observar o outro do que me mostrar, a gente aprende muito ao sentir o outro. Sou muito observadora. E gosto de músicas em que há uma narrativa, com imagens que fazem com que pareçam um cineminha;.

Crítica****


SIMPLICIDADE APARENTE
O quarto disco de Vanessa da Mata é aparentemente simples, pela facilidade com que pode ser assimilado. Mas essa simplicidade é aparente. A coloquialidade da poesia, a leveza das melodias e as harmonias que chegam confortavelmente ao ouvido são fruto do aperfeiçoamento de um estilo e de uma habilidade para a composição que a artista vem dominando cada vez mais, desde que estreou, em 2002. As letras que celebram os pequenos (mas essenciais) prazeres da vida encontram correspondência perfeita na sonoridade vibrante, com marcante percussão e uma variedade de nuances que passa pela black music setentista (Meu aniversário), pelas deliciosas baladas radiofônicas de Roberto Carlos e Hyldon (Te amo, As palavras) e por um molejo africano que levanta canções que poderiam soar tristes (Vê se fica bem ou Vá).

Os arranjos coletivos, feitos pela banda (a mesma que acompanhou a cantora na última turnê), demonstram um entrosamento que certamente tem grande parte de responsabilidade pelo bom astral do disco. Kassin, também produtor, conduz um baixo funqueado na ultradançante Meu aniversário, que é uma das melhores coisas do álbum. Mas também sobressai a animadíssima música-título (com ;clima de fim de show;, como diz Vanessa), inspirada por um prosaico bolo da vovó (com direito a receita no encarte do CD). Com notável sensibilidade, Vanessa alça o trivial ao status de sublime. Bicicleta, bolos e outras alegrias é para dançar, para ouvir no aconchego e, sobretudo, para tocar quando, entre sorrir e chorar, a gente escolher a primeira opção (ao contrário do personagem de O masoquista e o fugitivo). (RR)

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